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Scot Consultoria

O que esperar das exportações de carne bovina?

Entrevista com o diretor comercial e de marketing na Frigol, Pedro Bordon Neto

Quarta-feira, 1 de junho de 2022 - 10h00
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Pedro atua há mais de 39 anos no segmento de proteína animal. Iniciou a carreira na Bordon, empresa de sua família, e depois teve passagem como executivo nas empresas: Minerva, Swift e JBS. Graduado em economia com especialização em Business e Executive Courses pela London Business School.

Foto: Shutterstock


Scot Consultoria: Quais foram os principais pontos abordados em sua apresentação no Encontro de Confinamento e Recriadores da Scot Consultoria?

Pedro Bordon: O principal ponto foi mostrar que o consumo de carne bovina segue crescendo. As exportações do Brasil cresceram esse ano e, logicamente, a China é uma grande impulsionadora. Mas o mercado como um todo entende que a demanda por carne bovina, de uma maneira geral, vai ser crescente. Se vai ser rentável ou não, isso não podemos prever, mas em relação a demanda, podemos dizer que ela seguirá positiva.

Scot Consultoria: Quais mercados representam uma possibilidade de exploração caso a exportação chinesa se torne um entrave? Esses mercados seriam capazes de suprir as demandas de exportação?

Pedro Bordon: Hoje a China detém cerca de 50% das exportações brasileiras, ou seja, precisamos equilibrar melhor os mercados. No entanto, antigamente o Brasil também exportava, mesmo que em volumes menores, sem a China.

Existem outros mercados que o Brasil tem tentado acessar recentemente, como Canadá, Indonésia, Malásia, Filipinas, México e outros mercados. Então, existem outros parceiros que podem absorver nossas demandas, mas a saída da China no curto prazo, como aconteceu no final do ano, desequilibra muito o mercado, uma vez que as indústrias e pecuaristas estão preparados para atender a China.

As empresas precisam, portanto, procurar diminuir sua “China-dependência”. É algo complicado, mas, sem dúvidas, uma solução.

Scot Consultoria: Os Estados Unidos devem entrar em uma virada de ciclo pecuário agora em 2022, retendo mais fêmeas para produção de bezerros e, assim, diminuindo a oferta no país. Isso pode ser uma oportunidade para as exportações brasileiras?

Pedro Bordon: O Brasil, esse ano, cresceu muito nas exportações com os EUA.

Existe uma demanda contínua dos Estados Unidos pelo padrão da carne brasileira, que é uma carne mais magra, que chamamos de lean beef. Algumas empresas estão fazendo um trabalho de melhoria do produto para levá-lo ao padrão do consumidor norte-americano, com mais marmoreio, visando diversificar um pouco nessa venda.

Com certeza o Brasil é um player importante com relação à demanda estadunidense e talvez possa capturar uma boa oportunidade de negócios.

Scot Consultoria: Visando uma aproximação entre Rússia e China, há algum país em destaque que o Brasil deva voltar sua atenção para uma nova abertura de comércio?

Pedro Bordon: Acho que o Brasil está bem posicionado estrategicamente. O Ministério da Agricultura, juntamente com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC), têm feito um ótimo trabalho de aberturas constantes de novos mercados nos últimos 20 anos. Os próprios frigoríficos têm conseguido absorver isso e capturar essa oportunidade.

Existem outros mercados importantes, como Japão ou até mesmo a própria Coréia, que têm protocolos em pautas que ainda não foram desatadas. Mas sempre existem oportunidades a serem avaliadas que possibilitem aumentar nossas exportações.

Scot Consultoria: O lockdown na China pode impactar nas exportações brasileiras?

Pedro Bordon: O impacto já está acontecendo e vemos isso no congestionamento dos portos. É difícil estimar, mas o que temos visto hoje é que, nas últimas 2 ou 3 semanas, tivemos uma queda nos negócios e nos preços. Pode ser um impacto do lockdown? Acredito que sim. Quanto isso representa? Não posso mensurar, mas, posso dizer que existe sim um reflexo como um todo.

Scot Consultoria: Quais os principais fatores que levados em conta na escolha de um país para a importação de proteína animal e dentre quais deles o Brasil é mais deficitário?

Pedro Bordon: Talvez eu tenha pouco domínio para responder, mas eu imagino que quando o importador olha para o Brasil leva muito em consideração nosso controle sanitário e capacidade produtiva. Por outro lado, os frigoríficos enxergam a capacidade de importação desses países, o consumo de carne bovina dentro deles e querem ter conhecimento da finalidade e aplicabilidade dos produtos.

Portanto, acho que é um conjunto de vários fatores, tanto do ponto de vista importador quanto exportador, que irá culminar em um acordo comercial-sanitário.

Scot Consultoria: Qual a maior dificuldade que o Brasil enfrenta na abertura novos mercados?

Pedro Bordon: Acho que muitas barreiras protecionistas. Por exemplo, o Japão até hoje é uma barreira que não se destrava. Para os Estados Unidos foram quase 20 anos entre o primeiro contato até começarem a importar efetivamente do Brasil. Com a própria China nós demoramos cerca de 10 anos, desde o início das conversas até quando foram liberadas as exportações. Então temos muitos entraves políticos que nós, da iniciativa privada, temos dificuldades em comentar, pois não estamos presentes.


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