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Scot Consultoria

Saúde intestinal de bovinos

Entrevista com o zootecnista, Mário de Beni Arrigoni

Terça-feira, 20 de abril de 2021 - 09h00
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Mário é graduado em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), realizou mestrado em nutrição animal e pastagem pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ) e doutorado em Zootecnia pela UNESP. Atualmente é vice-diretor e professor titular na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), campus de Botucatu, e tem atuado nos seguintes temas: bovinos jovens, confinamento e qualidade de carne.

Foto: Scot Consultoria


Seguindo o tema saúde intestinal, agora a respeito dos bovinos, nossa entrevista hoje será com o Prof. Dr. Mário de Beni Arrigoni.

Graduado em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista  “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), realizou mestrado em nutrição animal e pastagem pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ) e doutorado em Zootecnia pela UNESP.  

Atualmente é vice-diretor e professor titular na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), campus de Botucatu, e tem atuado nos seguintes temas: bovinos jovens, confinamento e qualidade de carne. 

Scot Consultoria: O manejo para se obter uma saúde intestinal de qualidade é basicamente o fornecimento de uma alimentação balanceada e de qualidade? Há diferenças na microbiota ruminal de animais em confinamento e animais criados exclusivamente em pastos?

Mário Arrigoni: A linha de pesquisa que temos trabalhado nos últimos 12 anos envolve a adaptação de ruminantes quando há uma troca de dietas.

Os microrganismos se adaptam rapidamente, cerca de 3 a 4 dias, quando há uma troca de dieta e, por isso, é importante realizar uma substituição gradual e crescente da proporção de volumoso e concentrado.

As papilas do rúmen são fundamentais para que toda a acidificação causada pela produção de ácido graxo de cadeia curta oriunda da fermentação, principalmente de compostos altamente fermentescíveis, seja absorvida, evitando-se assim um distúrbio ruminal ou metabólico.

A adaptação deve ocorrer gradualmente, entre 9 e 21 dias. Fatores como horas de transporte, época do ano e condições climáticas, podem influenciar nessa adaptação, que deve ser realizada visando como um todo e não olhando somente a parte ruminal.

Os microrganismos presentes no rúmen são diferentes quando se utiliza uma dieta com alto grão e alto volumoso. Quando há uma fermentação intensiva, devido ao alto nível de inclusão de amido, por exemplo, pode ocorrer hemorragia, fezes sanguinolentas, a nível de ceco. Assim, ressaltamos a importância da transição gradual da dieta.

Scot Consultoria: Qual a importância da fibra efetiva na nutrição de bovinos em confinamento e como ela contribui para a saúde ruminal? Há alguma recomendação de inclusão de fibra efetiva na dieta de bovinos em confinamento?

Mário Arrigoni: A fibra efetiva, também chamada de fibra fisicamente efetiva, tem um papel fundamental no estímulo à ruminação e, consequemente, à salivação. Com a maior produção de saliva, há um maior tamponamento do pH ruminal, que, dessa forma, tende a atingir 5,7 e 5,8 com alta salivação. Em níveis adequados, a fibra efetiva reduz consideravelmente as incidências de acidoses subclínicas e até agudas.

O problema ocorre quando o pH atinge a escala de 5,5 ou menor por muito tempo, pois favorece distúrbios com morte de papilas e até resulta em abcessos hepáticos.

A fibra fisicamente efetiva tem um componente muito importante em duas fases. Na fase de adaptação a troca de dieta, e na fase de terminação, na qual devemos assegurar uma boa ruminação. Essa fibra geralmente recai nos volumosos e em recentes pesquisas, a silagem de milho tem sido a mais utilizada nos confinamentos do Brasil, seguida do bagaço de cana.

A recomendação mínima é de 8% de fibra fisicamente efetiva na terminação de animais. Quando o animal é meio sangue Nelore, podemos utilizar de 8 a 11%, e para Nelore até 15%. Na adaptação de dietas, a inclusão pode variar de 18 a 25%.

Scot Consultoria: A acidose ruminal é uma das doenças mais comuns em rebanhos bovinos, responsável por grandes prejuízos econômicos para os produtores, sendo necessária a busca por uma solução para o problema. Como evitar os prejuízos da acidose em bovinos?

Mário Arrigoni: A acidose ruminal é responsável por um grande prejuízo econômico na bovinocultura. No Brasil, ainda, infelizmente, essa perda não foi estimada, principalmente devido a dificuldades de diagnóstico em sua forma subclínica.

O controle de consumo é muito importante, pois uma flutuação muito elevada do consumo pode ser um sinal de acidose. Há vários trabalhos em que atuamos juntamente com o Prof. Dr. Danilo Millen e toda sua equipe, que enfocam nessa problemática.

Uma adaptação gradual, inclusão adequada de fibra fisicamente efetiva e o balanceamento adequado de concentrados são importantes pontos para se evitar a acidose em bovinos. Recomendo também que, principalmente no inicio da adaptação, se utilize fibras longas (menos processadas). O bagaço não pulverizado é um bom volumoso para essa finalidade.

Outro ponto que requer atenção é o processamento dos grãos. Quanto mais rapidamente o grão for fermentado no rúmen, maior o risco de acidose e por isso a ração deve ser bem balanceada. A utilização de farelos de algodão ou coprodutos de milho (DDG e WDG) requer o dobro de atenção para os casos de acidose.

Nos Estados Unidos, a inclusão de concentrado chega a 92%, enquanto no Brasil atinge 80 a 85%, devido ao alto sangue Nelore. Estima-se que para animais de meio sangue Angus ou Hereford, há um prejuízo de US$6,00 por cabeça devido a acidose subclínica nos EUA.   

Scot Consultoria: O que são probióticos e como eles funcionam no organismo de bovinos? Como o produtor pode identificar qual o melhor probiótico para a sua produção e qual é o seu custo/benefício?

Mário Arrigoni: Probióticos são aditivos compostos por microrganismos vivos benéficos que são utilizados para favorecer uma flora intestinal balanceada.

O probiótico tem maior eficácia no caso de situações de estresse extremo, como em viagens muito longas de 12 a 30 horas. Isso resulta em um desbalanço da flora intestinal, recorrendo principalmente sobre as leveduras (Saccharomyces sp.).

Scot Consultoria: Professor Mário, o senhor acredita que faltam conhecimentos para os pecuaristas saberem mais sobre o que estão produzindo? Questões como: metabolismo dos ruminantes, funcionamento do trato ruminal, caminho do alimento até o trato, processo de digestão desses animais, entre outros pontos? Através desse conhecimento, o senhor acredita que a produção dos pecuaristas, melhoraria?

Mário Arrigoni: O volume gerado de informações é muito extenso e acredito que hoje em dia não tem como fugir das informações científicas e tecnologias. A utilização de ferramentas nessa nova geração pode auxiliar os produtores, como BR-Corte e RLM.

Contudo, recomendo uma acessoria técnica para que haja um melhor gerenciamento das atividades.

Scot Consultoria: Mário, durante a expedição do Confina Brasil, feita pela equipe da Scot Consultoria, percebemos que em questão de precocidade, o estado de Mato Grosso do Sul leva vantagens, visto que existe um programa de bonificação do estado chamado Novilho Precoce. A procura por precocidade na idade de abate tem somente vantagens?

Mário Arrigoni: Temos que ressaltar que o ponto de vista da produção de carne se difere da cadeia de produção de boi. Do ponto de vista produtivo, é comprovado que a precocidade no abate de animais de 24 a 30 meses leva a uma série de vantagens em relação à qualidade de carne, como pH adequado, melhor maciez, coloração, vida de prateleira, entre outros.


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