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Scot Consultoria

O crescente mercado de alimentos orgânicos no Brasil

Entrevista com o diretor superintendente da Korin Agropecuária, Reginaldo Morikawa

Terça-feira, 23 de março de 2021 - 18h00
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Publicitário e profissional de marketing, especialista em varejo e comercialização de produtos diferenciados, técnico eletrônico e teólogo. Trabalha há mais de 20 anos promovendo o mercado de produtos sustentáveis, naturais e orgânicos no Brasil. É diretor superintendente da Korin Agropecuária e Korin Administração de Franquias, a marca mais conhecida de alimentos orgânicos do Brasil.

Foto: Shutterstock


Reginaldo Morikawa é publicitário e profissional de marketing, especialista em varejo e comercialização de produtos diferenciados, técnico eletrônico e teólogo.

Trabalha há mais de 20 anos promovendo o mercado de produtos sustentáveis, naturais e orgânicos no Brasil. É diretor superintendente da Korin Agropecuária e Korin Administração de Franquias, a marca mais conhecida de alimentos orgânicos do Brasil.

Scot Consultoria: Morikawa, houve um aumento de vendas no setor de orgânicos no Brasil durante o ano passado. Quais fatores contribuíram para esse aumento?

Reginaldo Morikawa: Houve um crescimento de pelo menos 20% no setor de orgânicos em 2020, sendo que, para nossa franquia da Korin, o crescimento de vendas foi de 43%.

Considerando os últimos 10 anos, o crescimento acumulado foi de 440% do setor de orgânicos no Brasil e 500% em relação à empresa Korin.

Com a pandemia, parte desse crescimento se deve à maior busca por alimentos saudáveis, que contribuem para uma melhor imunidade também.

Scot Consultoria: O mercado de produtos orgânicos vem crescendo em larga escala. Quais as principais dificuldades enfrentadas na produção de proteínas animais orgânicas, para conseguir atender à demanda crescente?

Reginaldo Morikawa: Atualmente, algumas das dificuldades são: o câmbio brasileiro muito elevado, a exportação aquecida de grãos para a China e o atraso na safra de grãos, devido ao período de seca antes do plantio e de chuvas abundantes na época de colheita. Isso resultou em uma oferta restrita de grãos orgânicos, levando ao aumento de preço desses produtos.

Portanto, produtos orgânicos, que já são mais caros normalmente, se tornaram ainda mais caros. Além disso, a elevação de preço das carnes orgânicas não acompanhou o do boi gordo não orgânico.

Outra dificuldade é que a legislação brasileira atual de orgânicos não reconhece a produção de embutidos dessa natureza. Dessa forma, a matéria-prima orgânica que vai para esse tipo de produção é vendida a preço de carne in natura convencional (não orgânico), sem um diferencial de remuneração.

Scot Consultoria: Um dos pontos que os consumidores sempre questionam é a questão do preço dos alimentos orgânicos. É possível tornar esse produto mais acessível? Como?

Reginaldo Morikawa: É possível reduzir o custo aumentando a escala de produção.

No caso das proteínas, a questão de custo é complicada justamente por conta da necessidade de venda de algumas partes/derivados de produto orgânico como não orgânico. Por exemplo, não há reconhecimento de bolsa de couro orgânico, gelatina de colágeno de boi orgânico, embutidos orgânicos, como já mencionados.

Além disso, partes como o dianteiro de bovinos orgânicos são difíceis de vender. Os cortes grill são os preferidos pelos consumidores, enquanto que partes como o dianteiro tendem a ser mais atrativas para consumidores de menor poder aquisitivo, esses podem optar pelo dianteiro convencional devido à diferença de preço.

Portanto, será possível reduzir os preços da produção de proteínas orgânicas de origem animal quando houver uma cadeia mais estrturada de consumo.

É importante ressaltar que não há descontos nos impostos da produção de orgânicos, além da necessidade da contratação de certificações para produtos orgânicos.

Scot Consultoria: Em relação à avicultura, nossa legislação é bem "vaga" quanto a definição de alimentos orgânicos, caipira, livre de antibióticos. O senhor poderia comentar sobre o que hoje, para o mercado brasileiro, é considerado um alimento orgânico?

Reginaldo Morikawa: A Korin é empresa pioneira na produção do frango orgânico desde 2009 e livre de antibióticos desde 1997.

Realmente há uma confusão muito grande entre esses conceitos. No entanto, em dezembro de 2003, a lei 10.831 foi criada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que regula a produção de alimentos orgânicos, incluindo frangos, e entrou em vigor em 2012.

A produção de frango orgânico não pode ser transgênica, com presença de áreas de pastagens, respeitando-se espaços mínimos para pastejo, utilização de milho e soja orgânicos certificados, provenientes do consumo humano, não pode ter agrotóxicos e adubos químicos.

Quanto ao uso de antibióticos, não é proibido por lei nesse tipo de criação, mas sim, recomendado, sendo necessário a contratação de certificadoras de produção orgânica.

A produção de ave caipira é uma modalidade de criação. No Brasil, não havia nenhuma norma que estabelecesse a produção de ave caipira. Eu, enquanto presidente da Associação Brasileira da Avicultura Alternativa (AVAL), juntamente com empresários do setor de aves caipiras, conseguimos a regulamentação da ABNT que formaliza a produção de aves caipira, sendo necessário um período de criação de, no mínimo, 70 dias, sem utilização de promotor de crescimento e com acesso à área de pastejo. Desse modo, aves caipiras podem ser criadas de modo convencional, sem antibióticos ou  de forma orgânica.

Scot Consultoria: Na sua opinião, em comparação às outras proteínas animais orgânicas, a carne bovina é preferência dos consumidores

Reginaldo Morikawa: A carne bovina orgânica não é a preferência dos consumidores. Apesar disso, o mercado de carne bovina orgânica é crescente, contudo, houve uma queda no consumo, atualmente, devido ao aumento no seu preço.

Um dos fatores desse aumento, foi o preço da arroba do boi gordo convencional, que chegou a ultrapassar os R$300,00.

A Korin paga um adicional (prêmio) aos produtores que apresentem uma boa qualidade, variando de 16 a 100% do valor da carcaça. Esse acréscimo é refletido no preço do produto final.

Além disso, como já mencionado, partes/subprodutos da carne bovina orgânica são comercializadas como caner convencional. Esses fatores refletem em um maior preço para carne bovina orgânica em relação à convencional, que já segue em patamares elevados.

A carne de frango tem sido a carne orgânica preferida pelo consumidor.


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