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Scot Consultoria

Avicultura e suinocultura: passado, presente e futuro

Entrevista com o Presidente do Conselho Consultivo da ABPA, Francisco Turra

Segunda-feira, 9 de novembro de 2020 - 10h30
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Formado em Comunicação Social pela PUC/RS e Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Passo Fundo/RS, atualmente é Presidente do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), membro do Conselho do Agronegócio da FIESP e debatedor do Encontro de Analistas da Scot Consultoria.

Foto: Scot Consultoria


Nosso entrevistado dessa semana é Francisco Turra.

Turra é formado em Comunicação Social pela PUC/RS e Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Passo Fundo/RS, atualmente é Presidente do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), membro do Conselho do Agronegócio da FIESP e debatedor do Encontro de Analistas da Scot Consultoria.

Foi prefeito e vice-prefeito de Marau (município do interior do Rio Grande do Sul), deputado estadual e federal, presidente do Banrisul e vice-presidente do BRDE. No governo Fernando Henrique Cardoso, presidiu a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Em seguida, foi escolhido ministro da Agricultura. Em 2008, assumiu a Associação Brasileira dos Exportadores de Frango (ABEF), hoje Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Criou o maior evento do setor de avicultura e suinocultura no Brasil, o SIAVS. Ao longo dos 12 anos sob sua gestão, o setor registrou aumentos exponenciais na receita com exportações de carne de frango e suína.

Scot Consultoria: O senhor poderia comentar um pouco sobre o tema de sua palestra em nosso Encontro? Qual a importância do Encontro de Analistas da Scot Consultoria para o setor agropecuário nacional?

Francisco Turra: O Encontro de Analistas da Scot é um dos principais momentos da agropecuária nacional em relação ao intercâmbio de informações sobre estratégias produtivas e oportunidades de mercado. É um evento fundamental para a integração de visões e perspectivas sensíveis a produtores, indústrias e demais elos dos setores.

Scot Consultoria: Ao longo de 2020 observamos um avanço exponencial nos preços do milho e do farelo de soja, insumos essenciais à produção de aves e suínos. Como o senhor acredita que o setor reagirá às altas nos preços dessas commodities até o final deste ano e no próximo ano?

Francisco Turra: O movimento natural é a redução da oferta de produtos, especialmente de aves e de ovos, decorrente do descarte de matrizes e poedeiras menos produtivas. Não é viável utilizar grão caro em ave pouco produtiva. Naturalmente, esse movimento de queda de produção reduzirá a pressão sobre a demanda de grãos.

É importante destacar que não faltam insumos, segundo a própria Ministra da Agricultura, Tereza Cristina. Em reunião da ABPA, ela nos informou a existência de oferta adequada no mercado interno.

Isso nos leva à conclusão de que esta espiral de preços vivida atualmente é resultado, estritamente, do fator especulativo.

Scot Consultoria: Com a alta das cotações do boi gordo, o senhor acredita que os setores de suinocultura e avicultura terão um crescimento expressivo para se adequar à demanda de carne do mercado doméstico e internacional?

Francisco Turra: Como cadeia mais alongada, a suinocultura tem crescimento mais lento. Mas é natural esperar elevação da produção, o que já é indicado para este ano. O setor está com remuneração mais adequada, especialmente graças ao excelente desempenho no mercado externo, por isso é menos onerado pelo atual quadro dos insumos.

Já para o setor de aves, a situação é mais complexa. O mercado internacional segue com leve alta em volumes, mas o quadro especulativo no setor de grãos indica que a produção passará por redução de oferta de carnes diante da situação que coloquei acima, com a priorização de insumos para matrizes mais produtivas.

Scot Consultoria: O Brasil se tornou grande potência na produção de proteína animal, principalmente no que tange a suinocultura e a avicultura. A ABPA teve grande papel nesse desenvolvimento. Quais foram os maiores desafios ao longo dessa trajetória, sob o seu ponto de vista? E, hoje, o Brasil tem surfado firme a onda dos efeitos da peste suína africana na China. O senhor enxerga essa forte proximidade como algo que veio para ficar ou, após a retomada dos plantéis de suínos no país devemos ter uma certa retração na participação chinesa?

Francisco Turra: Sou feliz e extremamente grato por ter participado dessa história gloriosa. Em 2008, cheguei à capital paulista para gerir a maior entidade de empresas exportadoras de carne de frango do país. Evoluímos, crescemos, mudamos de nome, unificamos o setor e, avançando, integramos a avicultura e a suinocultura na nossa Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

Essa história, que ajudei a escrever ao longo de 13 anos, nos levou a um novo patamar. De 23 associados, agora totalizamos 140. Além da sede própria em São Paulo e escritório em Brasília, temos unidades na Bélgica e na China. As exportações de carne de frango aumentaram em quase 1 milhão de toneladas. Em carne suína, crescemos quase 250 mil toneladas os níveis de exportações anuais, na comparação desde o primeiro ano em que assumimos até o ano de 2019. Mais do que isso, expandimos nossa presença como grandes produtores, chegando à segunda posição no ranking mundial.

Conquistamos o mercado de suínos da China e da Coreia do Sul. Abrimos mercado para aves em países como Índia, Porto Rico, Mongólia e Camboja. Viabilizamos a genética avícola do Brasil para grandes importadores, como Marrocos, México e Taiwan.

Fortalecemos nossas marcas Brazilian Chicken e Brazilian Pork, e criamos: Brazilian Egg e Brazilian Breeders. Transformamos o SIAVS (Salão Internacional de Avicultura e Suinocultura) no maior evento dos setores no Brasil. Criamos uma instituição sólida, unificada e de credibilidade global, que nos permitiu expandir negócios e superar crises sem precedentes.

E, nesses últimos dois anos, vimos o quadro grave que se iniciou na China ganhar corpo na Ásia e alcançar grandes produtores da União Europeia, com a peste suína africana. A enfermidade não tem o perfil “sazonal” da influenza aviária em aves, mas é uma situação com consequências de médio prazo, com impacto direto na oferta de cárneos das diversas nações importadoras, como Vietnã e a própria China. E, mesmo com a perspectiva de recuperação da produção chinesa, os indicadores apontam que ainda haverá uma forte lacuna a ser preenchida naquele mercado por importações.

Scot Consultoria: Como está retratado o consumo de carne neste período de quarentena provocada pelo novo coronavírus? Como o senhor enxerga a participação do auxílio emergencial no consumo de carne nesse período?

Francisco Turra: O auxílio emergencial foi determinante para a manutenção dos níveis de consumo de alimentos no mercado brasileiro. As consequências da pandemia global (como o desemprego e a queda de renda) impactaram a economia como um todo. Apesar disso, no setor de alimentos, o consumo se manteve em patamares equivalentes ao período anterior à pandemia.

Pesquisas, inclusive, demonstram que mais da metade do valor desse auxílio foi utilizado para a compra de alimentos. Houve, até mesmo, elevação do consumo de determinadas proteínas. A esperada retomada econômica, que começa a dar sinais com o aquecimento das atividades dos diversos setores e que deve se mostrar mais sólida no início do próximo ano, deverá seguir sustentando os níveis de consumo.

Scot Consultoria: Ainda a respeito do período pandêmico, como o senhor avalia o setor de avicultura e suinocultura brasileira, desde o início da pandemia até o momento? Na sua opinião, como esses setores estão vistos no mercado externo e quais são as atitudes necessárias para a conquista de novos mercados internacionais?

Francisco Turra: Vivemos muitas crises setoriais ao longo dessa história, mas o que acontece hoje não tem paralelos. Uma pandemia veio e mudou a forma como vemos e vivemos neste mundo. Os esforços setoriais foram imensos. O preparo setorial se deu muito antes do início da crise de fato em nosso território. Quando se falava de quarentena nos grandes centros urbanos, indústrias em todo o país já realizavam afastamento de grupos de risco, distanciamento e outras medidas que foram se aprimorando com o tempo, com base nos protocolos setoriais que desenvolvemos conjuntamente.

Meses após o início dessa crise, que ainda não tem prazo para acabar, nosso setor esteve mais preparado em relação ao resto do mundo. Mas ainda são poucos os paralelos, mesmo em relação à outras cadeias produtivas, do agro, ou não. Nosso nível de organização, investimentos e empenho nos colocou na vanguarda, um dos poucos que seguiram produzindo com a preservação da saúde dos colaboradores, mesmo sob as mais fortes pressões. Mesmo sem paralelos, sei que estávamos preparados para a crise atual.

Enfrentamos muitas outras antes, tendo a ABPA na liderança nacional da superação destes momentos. A experiência dessa década de um bem-sucedido trabalho que alcançamos, seja na tempestade ou na calmaria, juntamente com um time qualificado e harmônico, dá a confiança necessária para ampliarmos ainda mais nossos horizontes como produtores e exportadores de aves, ovos e suínos, do material genético à proteína.


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