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Scot Consultoria

Covid-19 e o café solúvel: perspectivas para o setor

Entrevista com o Diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel - ABICS e do Sindicato Nacional das Indústrias de Café Solúvel –SINCS, Aguinaldo José de Lima

Sexta-feira, 5 de junho de 2020 - 17h00
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Administrador de empresa e técnico em agrimensura. Ocupou os cargos de Presidente da Associação de Cafeicultores de Patrocínio, Presidente da Federação de Cafeicultores da Região do Cerrado, Fundador e Presidente Expocaccer - Cooperativa de Cafeicultores da Região do Cerrado. Foi fundador de oito Associações e seis Cooperativas de Cafeicultores Presidente da Câmara Técnica de Café do Estado de Minas Gerais, membro do Conselho Consultivo de Café do Estado da Bahia, diretor do Conselho Nacional do Café, membro do Conselho Deliberativo de Política de Café.

Foto: pixabay.com


Dando continuando à rodada de entrevistas, nesta semana, nosso convidado é o Aguinaldo José de Lima, Diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel - ABICS, que concedeu uma entrevista exclusiva sobre as perspectivas da exportação do café solúvel em ano de pandemia.

Aguinaldo José de Lima é administrador de empresa e técnico em agrimensura. Ocupou os cargos de Presidente da Associação de Cafeicultores de Patrocínio, Presidente da Federação de Cafeicultores da Região do Cerrado, Fundador e Presidente Expocaccer - Cooperativa de Cafeicultores da Região do Cerrado. Foi fundador de oito Associações e seis Cooperativas de Cafeicultores Presidente da Câmara Técnica de Café do Estado de Minas Gerais, membro do Conselho Consultivo de Café do Estado da Bahia, diretor do Conselho Nacional do Café, membro do Conselho Deliberativo de Política de Café.

Trabalhou no Governo do estado de Minas Gerais como Superintendente Executivo do Centro de Inteligência do Café e coordenador dos projetos dos Centros de Excelência de Café dos municípios de Patrocínio e Machado. No Governo Federal, atuou como Assessor Especial do Ministro da Agricultura, Coordenador Geral das Câmaras Setoriais e Temáticas do Agronegócio e Secretário Executivo do Conselho Nacional de Política Agrícola. Quando empresário e consultor, ministrou diversas palestras pelo Brasil e no exterior. Foi Consultor de Agronegócios da ABDI - Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial.

Elaborou os processos Indicação Geográfica de Café para o INPI, das Regiões Cerrado Mineiro (1º processo de IG protocolado no Brasil em 1997), Região Norte Pioneiro do Paraná, oeste da Bahia e atualmente trabalha no que será a 1ª Indicação Geográfica de cafés robustas sustentáveis do Brasil e do Mundo, Cafés Matas de Rondônia, na Amazônia Brasileira.  É proprietário da empresa AJLima Consultoria em Agronegócios desde 1990 e é Diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel - ABICS e do Sindicato Nacional das Indústrias de Café Solúvel –SINCS.

Scot Consultoria: Aguinaldo, você poderia nos contar como surgiu a Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (ABICS)?

Aguinaldo José de Lima: A ABICS foi criada em 1972 pela necessidade de organização do setor, para trabalhar principalmente com o governo, quando tudo era controlado. Na época, havia o Instituto Brasileiro do Café, com os preços do café tabelado e a necessidade de permissão pelo governo para montagem de indústria ou torrefação. As indústrias de solúvel começaram a surgir na década de 60 e, da necessidade da época, surgiu a ABICS. O Brasil foi pioneiro e líder de exportação e produção mundial, posição mantida até hoje. Nos anos 70 houve essa necessidade de criar uma organização para lidar diretamente com os temas governamentais. Na época erámos dezoito empresas de café solúvel e, atualmente, possuímos seis indústrias atuando no Brasil e, ainda assim, mantemos a liderança no setor.

Scot Consultoria: Diante do atual cenário, em que muitos setores no Brasil e no mundo foram afetados direta e indiretamente em função da covid-19, a doença trouxe algum impacto para esse mercado?

Aguinaldo José de Lima: Bom, até o momento não impactou. Há muita expectativa e preocupação com o que será daqui em diante. Mas, o café de forma geral, tanto solúvel como torrado e moído, não sofreu queda em nível mundial, pelo contrário, houve pequeno acréscimo de volume, tanto no mercado interno quanto na exportação. O café é um produto consumido por todas as pessoas e, a pandemia não fez as pessoas deixarem de tomarem café, pelo contrário, até aumentaram o consumo. Os setores afetados pela pandemia foram o de cafeterias e cafés especiais, porém, parte deste volume migra ao café torrado ou solúvel. Houve desempenho positivo nesse sentido e um cenário, pelo menos no curto e médio prazo, aparenta que não mudará. Porém, o perfil do comprador pode mudar. Este poderá optar, em função dos problemas econômicos, pela compra de café de custos mais baixos, seja solúvel, torrado ou moído. Mas, em termos de volume, acreditamos que não haverá prejuízo para o curto e médio prazo. Há a preocupação, porém, sobre como irá se comportar a sinalização das vendas para o café solúvel em especial, pois as vendas são realizadas, principalmente para exportação a entrega num prazo de 6 meses a 1 ano e meio. Porém, não há nenhuma indicação até o momento, de impacto que possa ser negativo do que foi planejado.

Scot Consultoria: Em 2019, o tratado de livre comércio entre Mercosul e União Europeia (EU) foi uma das mais importantes conquistas para o setor de café solúvel, poderia comentar quais os impactos positivos que esse acordo trouxe para indústria nacional?

Aguinaldo José de Lima: No âmbito Mercosul foi uma das maiores conquistas do Brasil, e o café solúvel acaba sendo favorecido porque, assim como outros produtos, é tarifado na União Europeia (EU) em 9%. Então, nossas exportações para lá são tarifadas e este mercado é nosso segundo maior destino de exportações. Há seis anos o Brasil vendia o dobro do que vende atualmente à EU , mesmo assim, o Brasil ainda é o segundo maior fornecedor de café solúvel ao continente europeu. Com o acordo, está previsto uma desgravação tarifária gradativa, onde estes 9% a partir da vigência do acordo, em quatros anos será zerada. O problema, é que atualmente estamos na expectativa de que os acordos sejam ratificados por todos os países do Mercosul e da EU. Até o momento, não houve impacto nenhum nas exportações à EU, porém, a expectativa é de que a redução tarifária crie, dentro de 3 a 4 anos, um crescimento de 30 a 35% em termos de volume de exportação. Então, hoje ainda é uma grande promessa, mas todos estamos confiantes de que o acordo possa ser ratificado por todos e colocado em vigor a partir, pelo menos, de 2021.

Scot Consultoria: Quais os principais destinos do café solúvel produzido no Brasil? Quais são as expectativas de expansão de novos mercados?

Aguinaldo José de Lima: O Brasil sempre foi o maior exportador de café do mundo, seu principal cliente é os Estados Unidos, seguido por Rússia e, revezando o terceiro, quarto e quinto lugar encontram-se Indonésia, Japão e Argentina. Se considerarmos o conjunto dos países que formam a União Europeia (EU), esta seria o segundo maior exportador. Atualmente o Brasil exporta café para mais de 100 países, já tendo exportado para 124 países, tendo perdido mercados devido a acordos econômicos de comércio. Quando países importadores de café fazem acordos comerciais com outros blocos ou outros países concorrentes do Brasil temos nossa competitividade prejudicada e perdemos alguns mercados. Entretanto, o Brasil tem sido muito competitivo, apesar do problema que tivemos de matéria-prima com a seca no Espírito Santo, levando a falta de café Conilon, a base do café solúvel, composto de 80% de café Conilon e 20% de café Arábica. Essa situação fez que hoje, o Brasil fosse bastante prejudicado por não poder importar café verde de outros países, fazendo com que perdêssemos 10% do volume em relação ao ano de 2016. Entretanto, conseguimos reverter e conquistar estes mercados novamente e em 2019 conseguimos bater nosso recorde histórico de volume de exportação, com projeção de crescimento de 5% e desta maneira, bater novo recorde de exportação para 2020. Mesmo com toda a situação referente a pandemia, essa perspectiva se mantém.

Com a nossa competitividade e a expansão do mercado, conseguimos atrair mais volume de compra, deslocando outros países competitivos. Se nosso produto é bastante competitivo, faz com que nossos grandes clientes (EUA, EU, Japão, Indonésia e Argentina) deixam de comprar de outros lugares para comprar conosco. Logo, nossa capacidade de crescimento vai muito em função de nossa competitividade. Como exemplo, países como México e Holanda, que estão entre os dez maiores produtores de café solúvel do mundo, figuram hoje entre os quinze maiores compradores de café solúvel brasileiro.  Isso indica como o Brasil está competitivo, com países concorrentes comprando nosso café solúvel para atender seus clientes, o que demonstra que temos ao nosso favor: um câmbio bastante favorável, histórico de colheita e grande safra sendo colhida. Esses fatores nos permitem ter uma matéria-prima de qualidade e ao mesmo tempo com preços competitivos, comparado aos países concorrentes produtores tanto de café grão como café solúvel. Isso nos dá grande capacidade para continuar avançando e, cada vez mais, com metas mais ousadas pois a tônica das indústrias brasileiras sempre foi expandir o mercado, de ser agressivo comercialmente e estamos de certa forma, conseguindo obter êxito.

Scot Consultoria: Esse ano tem sido bastante promissor visto os bons volumes exportados até o momento, o que tem animado as empresas de café solúvel no Brasil. O que motivou esses volumes interessantes? Quais estratégias o setor tem adotado para que as exportações se mantenham em bons ritmos?

Aguinaldo José de Lima: Na realidade, minhas respostas anteriores respondem a esta última pergunta. Só faço um adicional, que é acrescentar o fato de, no primeiro quadrimestre desse ano, termos um crescimento de 7.2% comparado ao mesmo período do ano passado, em termos de volume. Nossos indicadores para o setor são sempre em termos de volume, pois a receita, embora muito importante, não é um indicador que reflita o crescimento ou encolhimento do setor, tendo em vista que o preço do café oscila muito, além das questões cambiais, então nossa régua é sempre o volume. No volume esse ano, a projeção de crescimento era de 5% e, no primeiro quadrimestre já estamos com 7%. Então, esse é um bom indicativo e no mercado interno, nossa projeção é crescer 3.5% e durante o primeiro quadrimestre, crescemos 11% em relação ao ano passado. Isso indica, como falei, no curto e médio prazo, uma manutenção de poucos resultados negativos em função da pandemia e vamos nos manter cada vez mais agressivos, buscando sempre sermos o mais competitivo possível, tendo o câmbio a nosso favor e uma grande safra de café de qualidade no Brasil. Os planos são de mantermos


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