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Scot Consultoria

Veja como as indústrias de nutrição animal estão enfrentando os desafios impostos pela pandemia

Entrevista com o diretor Comercial da Guabi Nutrição e Saúde Animal, André Litmanowicz

Segunda-feira, 11 de maio de 2020 - 10h50
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Graduado em Engenharia Elétrica pela FAAP-SP, desenvolveu especialização em Negócios e Economia pela FGV-SP (CEAG), Marketing na Wharton University na Filadélfia-EUA, Gestão Estratégica de Operações na AOTS em Yokohama-Japão, Governança Corporativa no IBGC-SP e está concluindo seu MBA na área de Agronegócio (Strategy and Value Chain Management) na UCD Michael Smurfit Graduate Business School, Dublin-Irlanda. Promoveu e traduziu o livro ‘As três leis do desempenho – Steve Zaffron’, lecionou como professor convidado na graduação e MBA da USP/FIPE. Também lecionou como professor convidado na FGV/GVPEC sobre estratégia, marketing, gestão da qualidade, redesenho de processos, ética e organizações de aprendizado.

Foto: Scot Consultoria


Na rodada de entrevistas da semana, nosso convidado é André Litmanowicz, Diretor Comercial na Guabi Nutrição e Saúde Animal, que concedeu uma entrevista exclusiva para a equipe da Scot Consultoria, sobre as estratégias adotadas pela empresa para enfrentar os desafios impostos pelo coronavírus.

André Litmanowicz é graduado em Engenharia Elétrica pela FAAP-SP, desenvolveu especialização em Negócios e Economia pela FGV-SP (CEAG), Marketing na Wharton University na Filadélfia-EUA, Gestão Estratégica de Operações na AOTS em Yokohama-Japão, Governança Corporativa no IBGC-SP e está concluindo seu MBA na área de Agronegócio (Strategy and Value Chain Management) na UCD Michael Smurfit Graduate Business School, Dublin-Irlanda. Promoveu e traduziu o livro ‘As três leis do desempenho – Steve Zaffron’, lecionou como professor convidado na graduação e MBA da USP/FIPE. Também lecionou como professor convidado na FGV/GVPEC sobre estratégia, marketing, gestão da qualidade, redesenho de processos, ética e organizações de aprendizado.

Atualmente André trabalha como Diretor Comercial na Guabi, uma empresa focada na nutrição e saúde animal de equinos, ruminantes, aquacultura, e pequenas produções como frango de corte, postura e suínos.

Scot Consultoria: André, o senhor poderia nos contar uma breve história da Guabi?

André Litmanowicz: A Guabi é uma empresa com 45 anos de mercado, e apresenta quatro áreas de negócios, uma delas envolve bovinos, as outras áreas são: aquicultura (peixes e camarões) e equídeos. Contamos com uma estratégia especial para esse seguimento de mercado, cada um deles tem um comportamento diferente, por isso chamamos de área de negócios.

Scot Consultoria: Quais as estratégias adotadas pela empresa para enfrentar os desafios impostos pela pandemia?

André Litmanowicz: Estamos desde a metade de março pensando sobre quais medidas serão adotadas. Inicialmente foram adotadas medidas em relação à matéria-prima. Desde que começamos a falar sobre o coronavírus, nos preocupamos muito com a matéria-prima, e todas as estratégias para garantir o seu fornecimento.

Podemos citar também as fontes de vitaminas e aminoácidos, que estão em falta no mercado por causa da China. A cada momento nos deparamos com um problema novo, nesse caso, por exemplo, a falta dos containers foi um dos entraves, pois o transporte global deu uma ‘’travada’’ interferindo diretamente nos fornecimentos desses suprimentos em um primeiro momento.

A segunda medida foi focar nas fábricas e aderimos aos protocolos internacionais imediatamente, tanto na parte interna quanto na parte externa, adotando medidas de controle constantes. Colaboradores que apresentassem algum sintoma de gripe foram afastados, assim como pessoas do grupo de risco por conta da idade. Do lado externo, realizamos controle de entrada e saída de caminhões de forma mais rápida e evitando sempre aglomerações. O importante é que estamos produzindo sem nenhum problema.

A terceira medida envolve a logística, esse foi um ponto delicado desde o começo, pois os caminhoneiros sofreram nas rodovias, sem acesso a restaurantes nas estradas, então demos todo o apoio necessário, nos estruturamos para garantir o alimento a esses motoristas, demos todo suporte, disponibilizando vídeos com dicas de prevenção etc. Esses caminhões têm acesso às propriedades, orientamos o descarregamento de forma mais rápida, sem pausa para café e conversas, como geralmente acontecia.

Toda a orientação que foi feita e deu certo. Tivemos problemas no início com barreiras sanitárias, por bloqueios municipais, estaduais e federais que foram impostos da noite para o dia, mas conseguimos solucionar, utilizando uma declaração em todas as notas fiscais com a lei que autoriza a transição de produtos de nutrição animal, e por isso é considerado essencial, e colocamos placas em cada caminhão, sinalizando sermos de empresas do setor de alimentos.

O último ponto está relacionado à parte comercial. Nossa equipe foi gradativamente ficando em casa, em comum acordo com nossos clientes e nossas visitas a campo foram voltando aos poucos, também, em comum acordo com eles. Nesse período realizamos muitos treinamentos internos para atualizar o time e manter a sintonia na empresa, enfrentando esse desafio de uma maneira produtiva e eficaz.

Scot Consultoria: Quais medidas foram adotadas para os colaboradores conseguirem trabalhar remotamente? Foram adotadas algumas ferramentas tecnológicas?

André Litmanowicz: Sim, todas. Estamos utilizando o WhatsApp, o zoom e outros. Para realizar o home office inserimos o sistema remoto, fizemos instalações nas casas dos funcionários, o que foi realizado rapidamente. Não temos nenhum trabalhador no escritório, estão todos em casa e tudo está funcionando normalmente, usamos várias das tecnologias que existem no mercado que vieram para ficar.

Scot Consultoria: Sabendo que a Guabi desenvolve alimentação para bovino até camarões, o senhor sentiu alguma mudança na demanda dos produtos? E como a pandemia tem impactado?

André Litmanowicz: Temos dois aspectos, o primeiro relacionado a produtos dos nossos clientes que estão mais próximo do consumidor final. Nesse caso, o que mudou radicalmente foi o consumidor final. Vinham de uma rotina de trabalhos em escritórios, se alimentando em restaurantes e agora estão em casa e essa é a principal mudança em termos de alimentação. Com isso, as cadeias de valor que são muito mais próximas de cliente foram impactadas, como o camarão, por que é vendido fresco, as restrições que pesaram sobre os restaurantes, turismo, impactaram na cadeia de valor, mas esse seguimento já estava no final da safra, então iria diminuir de qualquer forma.

Houve impacto no mundo inteiro, não apenas no Brasil, começando pelos frigoríficos; estes ficam lotados, começaram os ajustes, porque a mudança é muito rápida, é preciso brecar uma cadeia de valor inteira, assim como o camarão sentiu, o leite também sentiu e assim vai.

O mercado é diário e essas cadeias que dependem muito do consumo tiveram reflexos mais direto.

Uma coisa muito interessante que tenho observado no mercado é que temos dois comportamentos que parecem ser casos diferentes se pudéssemos simplificar.

De um lado, os mercados que tiveram suas vendas reduzidas, porque as lojas fecharam ou trabalharam meia porta, por outro lado teve alguns segmentos, alguns mercados que cresceram porque compram produtos e alimentos mais próximos, já que os mercados maiores estavam com dificuldades por causa de logísticas, os menores tiveram uma oportunidade em atender essa demanda.

Isso tem por trás o reflexo dos consumidores, que estão em casa com a família, e por isso começam a fazer um produto mais elaborado, alguma coisa com sabor e começa o espaço de produções como frango caipira, os ovos, as pessoas começam a experimentar coisas diferentes porque sabor é uma tendência que já vinha e foi reforçada. Esse segmento de mercado não é uniforme, e sim múltiplo e obviamente há comportamentos regionais.

Quando vamos para trás da cadeia de valor, começam as produções de peixe, que apresentam um reflexo, mas começam a ter exportação. Quando falamos de produção de carne estamos bem atrás da cadeia de valor, que obviamente o volume de consumo do brasileiro é muito grande, e outra parte, a exportação, mas o volume está no brasileiro, churrascos continuam acontecendo, existe um ajuste, existe um impacto mas é menor quando comparado com as outras cadeias. A cadeia de valor de produção de gado de corte com certeza está dentro de um mercado internacional, as pressões estão dentro deste mercado, e o Brasil tem grande vantagem competitiva, assim neste mercado o país continua forte.

Scot Consultoria: Quais são as expectativas para esse ano?

André Litmanowicz: Primeiro estamos sentindo o comportamento do mercado, tivemos um mês de março com uma forte demanda, que aconteceu no mundo todo por preocupação da população, a  demanda de abril foi reduzida por dois movimentos importantes: primeiro devido ao custo que está alto com o dólar alto, custos das commodities altos, são comportamentos diferentes por causa da taxa de câmbio, e isso acaba refletindo no preço dos produtos, que oscilam de forma direta com as commodities. Preço é um fator que assusta, principalmente em um mercado que está com dificuldade de “rodar” a economia. Quando a economia como um todo não ‘’gira’’, não há dinheiro dentro para “rodar”, é o lado do preço, do custo e o lado das demandas que vão se ajustando.

Se tem uma grande demanda em determinado mês e no próximo mês um pouco menor, o que acontecerá nos próximos meses? No curtíssimo prazo é o reflexo da economia, o segundo trimestre do Brasil e do mundo serão muito tristes em termos de redução de economia, impactos em diferentes setores e refletirá de alguma forma nos nossos clientes, não tem como evitar, varia muito, e teremos downgrade de produtos, um pouco mais na manutenção, tentando se segurar neste período e uma expectativa de um terceiro e quarto trimestre com volta à normalidade, um freio e uma aceleração, expectativas da volta de políticas de isolamento serem menores e assim rodar toda a economia novamente.

Scot Consultoria: Para finalizar estamos entrando no período seco do ano, temos observados as indústrias frigoríficas reduzirem os abates em função da lenta demanda de carne no mercado interno em função do coronavírus. Sabendo quem estamos entrando na entressafra de capim, qual a sua opinião e expectativa para os confinamentos nesse ano?

André Litmanowicz: Esse é um jogo global, os frigoríficos fazem o que estão fazendo para evitar o aumento do preço da arroba, existe uma dinâmica de mercado. O consumidor final comprará menos devido ao custo, assim reduz a demanda e isso tem reflexo na arroba. Mas esse é um mercado que está com preço de arroba, para os fazendeiros, um produtor que trabalha de forma produtiva, o custo dele consegue absorver essas oscilações de preço de arroba.

Quando se fala em confinamento é diferente, este depende de prazos, se entro em um confinamento não saio, já gastei e fiz um investimento para ter um determinado preço lá na frente, e que não terá tempo de espera, pois estaria perdendo dinheiro. Confinamento é um negócio produtivo, traz resultados, por isso confinamos muitos no Brasil, fazemos muitos semiconfinamentos também.

Se essa visão começa a trazer riscos, e por tudo o que conversamos até aqui, e estamos em um mercado de risco, o confinamento tende a diminuir. O risco de o produtor não ganhar o dinheiro que tinha expectativa pelo investimento realizado é maior, optando assim para outra tendência de menor risco, que é a recria à pasto, mas apesar do risco menor, o resultado também será naturalmente.

O que prezamos entre os nossos clientes, metodologias, abordagens, suporte técnico, além obviamente, dos nossos produtos, é pela produtividade; produtividade do pasto, do volumoso, a maneira de transformar, por isso existe muitas tecnologias sendo utilizada, todo o manejo, coisas muitos simples de manejos que podem ser feitas e têm impacto direto. Portanto as fazendas mais produtivas, passam bem por essas crises pois apresentam produtividade, o custo de produção é menor, já fazendas improdutivas são um problema, e esse momento de crise bate na perna de todo mundo, infelizmente.

Entrevista originalmente publicada no informativo Boi & Companhia, edição 1390.


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