Fabiano é zootecnista formado pela Universidade Estadual Paulista e mestre em Engenharia de Produção, com especialização em gestão de sistemas agroindustriais pela Universidade Federal de São Carlos, atualmente é diretor de originação e eficiência da Minerva Foods.
Foto: Scot Consultoria
Nesta semana, nosso convidado é o Fabiano Tito Rosa, um dos palestrantes que estarão no Encontro de Confinamento e Recriadores da Scot Consultoria.
Fabiano possui graduação em zootecnia pela UNESP, é mestre em engenharia de produção, com especialização em gestão de sistemas agroindustriais pela Universidade Federal de São Carlos. Atualmente é Diretor executivo de compra de gado da Minerva Foods.
Na conversa com Fabiano, abordamos o atual cenário de carne bovina no país, quais as expectativas em relação ao mercado chinês, levando com consideração o surto da peste suína africana e o coronavirus, e como isto deve impactar no mercado interno. Confira!
Essa conversa é uma introdução para a palestra no ERC20 - Encontro de Confinamento e Recriadores da Scot Consultoria, que acontecerá de 14 a 17 de abril de 2020, em Ribeirão Preto-SP.
Para se inscrever, acesse: https://www.confinamentoerecria.com.br/.
Scot Consultoria: Diante de todo contexto atual que enfrenta a China, o grande volume exportado de carne bovina para o país asiático no final de 2019 deve se manter para este ano ou a euforia passou? Quais as expectativas em relação ao mercado chinês para a carne bovina brasileira em 2020?
Fabiano: A China deve seguir como maior compradora de carne bovina do mundo. Em função do crescimento populacional, urbanização e melhoria de renda, as importações do país já vinham avançando em ritmo forte.
Esse movimento ganhou força com o surto de peste suína africana, que dizimou o rebanho suíno local, o maior do planeta, sendo que a carne suína é a proteína de origem animal mais consumida pelos chineses. A China precisou, portanto, não só aumentar as importações de carne suína, mas de todas as outras proteínas, para inicialmente cobrir esse “buraco” de curto prazo e também atender à crescente demanda estrutural.
Para 2020, estamos confiantes na manutenção desse cenário de forte demanda chinesa. Vale ressaltar aqui a sazonalidade desse mercado, que sempre inicia o ano em ritmo mais lento e vai acelerando o ritmo das importações com o passar dos meses.
Scot Consultoria: Falando sobre preços da carne exportada, como os frigoríficos têm lidado com a renegociação dos contratos de exportação para a China? A pressão por parte dos chineses deve continuar? E, se continuar, podemos esperar um novo cenário de preços do boi gordo?
Fabiano: Ao final do ano passado, os preços da carne exportada para a China subiram forte e rápido (40-50%). Agora o mercado registra um ajuste natural, mas se mantém em bons patamares, considerando ainda o movimento sazonal citado anteriormente (em que as importações chinesas normalmente desaceleram em começo de ano).
De toda forma, muitos players novos passaram a atender esse mercado. No Brasil, 22 novas plantas foram habilitadas a exportar para a China, diversificando a oferta de produtos. Problemas pontuais e a sazonalidade do mercado podem ter surpreendido alguns. Acreditamos que, nas próximas semanas, o mercado chinês deve retomar seu fluxo normal de operações e então vamos ter uma melhor visibilidade sobre o movimento para o ano.
Scot Consultoria: Para reverter o quadro, é possível requisitar adiantamentos maiores nos contratos com os importadores? Se não, há no radar alguma outra maneira que a indústria possa utilizar para diminuir seus riscos?
Fabiano: A indústria exportadora já trabalha com adiantamento e gerenciamento de risco de crédito cliente a cliente. No caso da Minerva, também temos equipe local para monitorar o mercado e nos atualizar sobre oportunidades, riscos e tendências, bem como uma carteira de exportação diversificada, com acesso a mais de cem mercados, o que nos permite diluir riscos.
Scot Consultoria: O senhor acredita que haverá uma transferência de consumo na China após o medo instaurado pelo coronavirus? Em uma cultura tradicional e milenar, pode se esperar um amadurecimento do mercado de carnes na China e um aumento da demanda populacional por produtos com maior rigor sanitário?
Fabiano: Sim, acreditamos que é bem possível que o coronavirus acelere, na China, o movimento de formalização do mercado de alimentos, reforçando a necessidade de controle sanitário e, também, favorecendo o crescimento de consumo de proteínas tradicionais em detrimento das “exóticas”.
Scot Consultoria: Com o cenário recente de valorizações do boi gordo no Brasil podemos presumir que o mercado brasileiro alcançou um novo patamar de preços da arroba para os próximos anos? Como fica a margem das indústrias diante desse novo quadro? O senhor acredita que a demanda doméstica consegue absorver os atuais preços da carne bovina?
Fabiano: Sim, o boi mudou de patamar, mas estamos num bom momento, com recuperação do consumo doméstico e forte demanda externa. Se tem demanda e os preços de venda sobem, o boi pode reagir de forma sustentada. Nosso negócio é um negócio de “spread”, ou seja, não importa quanto está, isoladamente, o preço da carne ou o preço do boi. O que importa é a diferença entre eles.
Scot Consultoria: Como a Minerva projeta a oferta de gado gordo em 2020? E qual sua opinião sobre o mercado de novilhas para este ano? Devemos manter o "boom" de procura por animais desta categoria?
Fabiano: O cenário de oferta traz alguns desafios para 2020. No curto prazo, temos uma safra chuvosa que favorece a engorda de animais a pasto e a venda “picada”, mas que tende também a gerar um bom fluxo de oferta entre abril e maio.
Contudo, em 2020 podemos começar a ver o início de um movimento de retenção de fêmeas, pois a margem da cria se recuperou bem, com a valorização do bezerro. É um movimento sazonal e que pode refletir na oferta de matéria-prima para a indústria frigorífica, mas é extremamente necessário no médio e longo prazo. Outro ponto de atenção, além da valorização da reposição, é o aumento dos preços de grãos, sobretudo do milho, mas ainda é cedo para avaliarmos a tendência do confinamento. Vale destacar que quando uma fazenda atinge certo nível de adoção de tecnologia, é difícil regredir, ou seja, o produtor que já trabalha com semiconfinamento, ou com confinamento, dificilmente abandonará essa estratégia, mas eventualmente pode fazer um ajuste ou outro.
Sobre as novilhas, a tendência é que a categoria siga valorizada. Os mercados mais exigentes com idade, cobertura e/ou pH, elas atendem bem, principalmente quando comparamos com o macho inteiro. O problema principal é o peso das novilhas, pois quando são muito leves (abaixo de 14@) elas aumentam muito o custo fixo da indústria e não geram peças de tamanho adequado.
Scot Consultoria: Fabiano, o senhor poderia comentar um pouco sobre o que será abordado na sua palestra? Poderia nos dizer qual a importância de um evento como esse para a pecuária nacional?
Fabiano: Vamos falar de cenário e exigências de mercado, tratando de questões relativas à oferta, demanda e padrão de gado (qualidade), através de uma SWOT. Vamos tentar tirar o foco do curto prazo e olhar pontos mais estruturais.
O Encontro de Confinamento da Scot Consultoria hoje é um dos mais importantes eventos do calendário pecuário. Oportunidade única de adquirir conhecimento e trocar informações com formadores de opinião de todos os elos da cadeia produtiva. Para nós, a presença é obrigatória.
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