Médico veterinário (UFMS), especialista em Reprodução Animal (Universidade de Turim - Itália). Mestre e doutor em Reprodução Animal (USP), fez pós-doutorado na Universidade de Queensland (Austrália) e atualmente é professor do Departamento de Reprodução Animal (FMVZ/USP) e pesquisador científico do Instituto de Zootecnia da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo.
Foto: Scot Consultoria
Na rodada dessa semana, nossa entrevista será com o convidado Pietro Baruselli, palestrante do Encontro dos Encontros da Scot Consultoria, que sanou algumas dúvidas sobre a importância da eficiência reprodutiva na cadeia de produção de carne.
O Encontro dos Encontros, que engloba, o Encontro de Criadores, o Encontro de Adubação de Pastagem e o Encontro da Pecuária Leiteira, acontecerá de 30 de setembro a 4 de outubro de 2019, em Ribeirão Preto-SP.
Para mais informações, acesse: encontros.scotconsultoria.com.br.
Pietro Baruselli é médico veterinário (UFMS), especialista em Reprodução Animal (Universidade de Turim - Itália). Mestre e doutor em Reprodução Animal (USP), fez pós-doutorado na Universidade de Queensland (Austrália) e atualmente é professor do Departamento de Reprodução Animal (FMVZ/USP) e pesquisador científico do Instituto de Zootecnia da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo.
Scot Consultoria: Pietro, na sua opinião qual a importância de um evento como o Encontro dos Encontros para a pecuária nacional?
Pietro Baruselli: Eventos como esse são extremamente relevantes, pois reforçam a importância da troca de informações entre as várias entidades ligadas à cadeia produtiva da carne.
Os institutos de pesquisas, produtores e empresas discutirão quais as principais formas de se elevar a eficiência da pecuária brasileira.
Sabe-se que o Brasil, embora seja um grande produtor mundial de carne, ainda possui grande capacidade para geração de valor neste setor, e através do conhecimento e da utilização de ferramentas tecnológicas, a cadeia da carne poderá atingir patamares elevados, com níveis maiores de produtividade, sustentabilidade e excelência.
Vale ressaltar que, no evento, serão apresentadas algumas das tecnologias disponíveis no mercado que contribuem com o desenvolvimento da pecuária nacional.
Scot Consultoria: Quais fatores podem ser aprimorados para que o Brasil alcance seu potêncial produtivo na cadeia da carne?
Pietro Baruselli: A pecuária brasileira possui grande capacidade para geração de valor.
Atualmente, temos o maior rebanho comercial de bovinos do mundo, em torno de 212 milhões de cabeças, porém, no panorama mundial de produção de carne, os Estados Unidos que ocupam a primeira posição, embora possuam um rebanho menor quando comparado ao Brasil.
Em relação à produção de leite, à nível mundial, ocupamos o quarto lugar.
Esse cenário indica que há necessidade de investimentos em tecnologia para mudar o patamar de produtividade brasileiro.
Um dos gargalos da baixa eficiência da nossa pecuária é que ainda se produz pouco em termos de reprodução.
Hoje, produzimos 60% de bezerros por matriz em idade reprodutiva, enquanto os EUA produzem em torno de 85% de bezerros.
Ainda que exista tecnologia para modificar esse patamar de 60% para 80%, ainda não é aplicada.
Dessa forma, a média brasileira é baixa nesse índice, impactando fortemente a produtividade do rebanho.
A cria ocupa aproximadamente 120 milhões de hectares, enquanto a pecuária, de maneira geral, abrange 170 milhões.
Se utilizarmos a tecnologia como forma de aumentar a produtividade na cria, temos chances de ou produzir mais por hectare, ou até produzir a mesma quantidade, porém, usando menos áreas de pastagens.
Além da taxa de produção de bezerros por matriz em idade reprodutiva, outro gargalo da pecuária brasileira é a idade à primeira concepção e ao primeiro parto.
Enquanto países que concorrem com o Brasil na cadeira de produção de carne possuem índices que giram em torno de 2 anos, o nosso é de 4 anos de idade.
Esse índice está relacionado com a necessidade de terra para a recria e, se nós ajustarmos com tecnologia esses números, podemos chegar a liberar mais de 50 milhões de hectares de pastagens.
Modificando a taxa de desmame de 60% para 80% e diminuindo a idade à primeira concepção e ao primeiro parto de 4 para 2 anos, seriam liberados em torno de 50 milhões de hectares, produzindo a mesma quantidade de bezerros que produzimos hoje.
Portanto, veja que são índices que precisamos ajustar rapidamente, visto que a reprodução é o início da cadeia de produção de carne. Ajustando os índices citados, desde o começo da cadeia, serão gerados impactos extremamente positivos.
Scot Consultoria: Pietro, o senhor poderia nos dizer quais as principais tecnologias relacionadas à reprodução que estão sendo utilizadas atualmente?
Pietro Baruselli: Temos várias possibilidades, porém, as opções mais utilizadas são as ferramentas de reprodução programada.
Vale destacar que, atualmente, a sincronização da ovulação das fêmeas para usar IATF é um importante mecanismo.
Tal mecanismo faz com que grande número de fêmeas do rebanho se torne gestantes na primeira semana de estação de monta, melhorando sua eficiência reprodutiva.
No Brasil, além da taxa de desmame ser baixa, em torno de 60%, o intervalo entre partos, é em média de 17 meses.
Se utilizarmos a reprodução programada, e fazermos com que as vacas comecem a emprenhar no começo da estação de monta, conseguimos reduzir o intervalo entre partos de 17 para 12 meses.
Portanto, além de melhorar a eficiência reprodutiva, a reprodução programada introduz genética via inseminação artificial.
Nos últimos 20 anos, a utilização da reprodução programada aumentou consideravelmente. Em 2002, eram programadas a ovulação de 100 mil fêmeas, hoje, estamos programando a ovulação de 13,3 milhões de fêmeas (corte e leite) no Brasil.
Fica evidente que tal ferramenta é uma das possibilidades de fazer com que melhore o desempenho na produção de bezerros da cadeia de carne e de sua genética.
Scot Consultoria: Na sua opinião como pesquisador, qual a visão do pecuarista hoje em relação a utilização de tecnologias no seu sistema produtivo?
Pietro Baruselli: Infelizmente o pecuarista brasileiro ainda não tem conhecimento de todas essas ferramentas.
Embora muitos utilizem a reprodução programada, a grande maioria ainda não faz uso dessa importante tecnologia.
Dessa forma, corroboro mais uma vez a importância do evento, que discutirá sobre as tecnologias presentes no mercado que possibilitarão alavancar a produtividade da pecuária, do seu retorno econômico e análises de custo para ser implementado na propriedade.
Entrevista originalmente publicada no informativo Boi & Companhia, edição 1355.
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