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Scot Consultoria

A pecuária sob o olhar do pecuarista

Entrevista com o engenheiro agrônomo formado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - ESALQ, da Universidade de São Paulo, Jorge Carvalho Dias Ralston

Terça-feira, 25 de junho de 2019 - 05h55
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Jorge é engenheiro agrônomo formado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - ESALQ, da Universidade de São Paulo. Junto com o irmão, Luiz Carvalho Dias Ralston, é responsável pela gestão de uma propriedade em Rio Verde-GO, onde uma das atividades administradas é a pecuária de corte.

Foto: Scot Consultoria


A Scot Consultoria conversou com Jorge Carvalho Dias Ralston para saber a opinião de um pecuarista sobre os principais gargalos do setor. Além disso, o objetivo também foi mostrar um exemplo de sucesso, que veio a partir da transformação do modelo adotado na fazenda em busca de melhorar os índices zootécnicos e a rentabilidade por hectare.

Jorge é engenheiro agrônomo formado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - ESALQ, da Universidade de São Paulo. Junto com o irmão, Luiz Carvalho Dias Ralston, é responsável pela gestão de uma propriedade em Rio Verde-GO, onde uma das atividades administradas é a pecuária de corte.

Scot Consultoria: Jorge, conte-nos um pouco sobre a sua fazenda, qual o tamanho da área e com quais culturas você trabalha?

Jorge Carvalho Dias Ralston: A fazenda tem 3 mil hectares. Com pecuária temos duzentos e sessenta hectares e agricultura, contando com uma parte que é arrendada, estamos com 1,5 mil hectares. Nós temos também uma parte com eucalipto, seringueira e também temos granjas de suínos e aves.

Na pecuária trabalhamos com recria e engorda. Nós compramos bezerro desmamado, ficamos com ele por volta de 10 meses e depois colocamos no confinamento, onde fica mais cento e dez dias, mais ou menos.

Scot Consultoria: Quando você assumiu a fazenda? Quais os principais desafios encontrados nesse processo de sucessão e quando assumiu a gestão da propriedade?

Jorge Carvalho Dias Ralston: Eu vim trabalhar aqui em agosto de 2015, então vai fazer quase quatro anos. Eu trabalho junto com o meu irmão e o meu pai fica mais na parte estratégica da empresa, ele não está ligado diretamente ao operacional.

Quando eu cheguei na fazenda meu irmão já tinha assumido e eu assumi junto com ele. Meu pai foi bem aberto com o processo de sucessão. Por isso, a sucessão familiar foi tranquila e o meu pai deixou os negócios na nossa mão, nos dando bastante liberdade.

O desafio que tivemos e temos até hoje é para melhorar os índices zootécnicos da fazenda. Quando meu irmão chegou nós também trabalhávamos com cria, mas decidimos parar. Nós vendemos as vacas, ficamos com os bezerros que vieram delas e em 2015 nós terminamos de abater esses bezerros. Então, o confinamento de 2015 foi com esses bezerros, já o confinamento de 2016 foi feito com gado de compra.

Como nós nunca tínhamos trabalhado apenas com a recria e engorda, sempre tínhamos feito o ciclo completo, o desafio foi achar o melhor sistema para a nossa fazenda.

Nós definimos um sistema que achamos melhor, que é esse de comprar bezerro. Nós fazemos pastagem de inverno de forma intensiva, colocamos também bastante ração no cocho durante o ano inteiro, mas principalmente no final do ciclo. Antes de levar para o confinamento fazemos um semiconfinamento no pasto.

Esse é o modelo que adotamos hoje e que se adequa melhor para o nosso sistema. Paramos com a cria e adotamos esse sistema para melhorar a rentabilidade por hectare e deixar a fazenda mais intensificada. Essa foi uma decisão estratégica do grupo como um todo.

Scot Consultoria: Para você, quais os principais gargalos e as demandas da pecuária de corte nacional?

Jorge Carvalho Dias Ralston: Acredito que seja a falta de intensificação por parte de alguns pecuaristas. Pouca adubação, pouco manejo de pasto correto, tem pouca gente que faz rotação dos pastos. Nós temos muita área degradada no Brasil, o principal gargalo é esse. Tem muita gente boa, mas tem muita gente que só piora o solo porque a pessoa não muda o jeito de trabalhar.

Acredito que isso é uma questão mais cultural, mas falta também um pouco de extensão. A academia tem bastante pesquisa, pesquisas muito boas, mas talvez falte chegar ao pecuarista.

Scot Consultoria: Falando do cenário atual do mercado, ficamos quase dez dias sem exportar para a China, como isso afetou sua atividade?

Jorge Carvalho Dias Ralston: Esses quase dez dias não afetaram muito o nosso negócio. Nós estamos começando o confinamento e o gado ainda falta uns 60 dias para ser abatido. E nós não compramos nem vendemos gado nessa época.

Essas quedas geram boas oportunidades para o pecuarista travar uma compra de bezerro, por exemplo, no mercado futuro. Nós vamos comprar bezerro no segundo semestre, então quando da uma queda no mercado futuro, igual vimos em decorrência do embargo da exportação para China, gerou uma oportunidade para travar a arroba em preços menores. Fizemos essa trava para bezerro.

Scot Consultoria: De acordo com a sua experiência, qual a importância do planejamento e da geração de pesquisa dentro da fazenda para o pecuarista?

Jorge Carvalho Dias Ralston: Os dois fatores são fundamentais.

O planejamento, principalmente, porque as forrageiras desenvolvem de forma distinta nas águas e nas secas, então o pecuarista tem que fazer um planejamento do que ele vai fazer com o gado na seca. É importante saber se ele vai suplementar, se vai vedar pasto durante as águas.

Esse planejamento tem que começar desde as águas. Não pode deixar para tomar uma ação quando chegar na seca, porque aí já vai ser tarde.

Em termos de pesquisa, acho que é fundamental o pecuarista estar sempre medindo os seus índices zootécnicos, tentar novas técnicas, procurar estar sempre em contato com a academia e implantar as técnicas na fazenda para ver qual se adequa melhor a sua realidade.


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