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Scot Consultoria

Entendendo um pouco mais sobre pastagem (parte 2): Manejo na ILPF

Entrevista com o professor da UNESP de Botucatu, Paulo Roberto de Lima Meirelles

Segunda-feira, 24 de dezembro de 2018 - 06h00
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Zootecnista, formado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, mestrado em Zootecnia pela Universidade Federal de Lavras, doutorado em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Professor de forragicultura e pastagens no Departamento de Melhoramento e Nutrição Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia - UNESP de Botucatu.

Foto: Portal Embrapa


Na entrevista da semana passada discutimos um pouco sobre as novas cultivares de forrageiras que existem no mercado e do manejo de pastagem. Nessa segunda entrevista, traremos quais cultivares são melhores em sistemas integrados e quais as particularidades de manejo nesse sistema.

Os sistemas de integração estão, cada vez mais, se difundindo e mostrando bons resultados. O manejo do capim dentro desse sistema produtivo necessita de alguns cuidados que diferem do tradicional. Para sanar algumas dúvidas dos pecuaristas, convidamos Paulo Roberto de Lima Meirelles, para uma entrevista.

Paulo possui graduação em Zootecnia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (1983), Mestrado em Zootecnia pela Universidade Federal de Lavras (1992) e Doutorado em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2006). Atualmente é professor de forragicultura e pastagens no Departamento de Melhoramento e Nutrição Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia - UNESP de Botucatu.

Tem experiência na área de Zootecnia, com ênfase em Avaliação, Produção e Conservação de Forragens, atuando principalmente nos seguintes temas: pastagem, forragicultura, gado de leite e sistemas silvipastoris. Veja a entrevista a seguir:

Scot Consultoria: Falando sobre sistemas integrados, o que muda em termos de manejo de pastagens para sistemas como ILP/ILPF?

Paulo Meirelles: Os sistemas integrados de produção agropecuária (SIPA) vêm sendo cada vez mais utilizados como alternativa para recuperação de pastagens e intensificação sustentável dos sistemas de produção. O manejo de seus componentes é mais complexo pois envolve conhecimento nas áreas de diferentes culturas produtoras de grãos, pasto e gado, com ou sem o componente florestal. Devemos considerar ainda as possíveis interações entre os componentes que podem ocorrer tanto em escalas temporais quanto espaciais.

Considerando o pastejo como um conjunto de atividades desenvolvidas pelo animal, que envolvem a procura, seleção e captura da forragem, conhecermos como as mesmas ocorrem é de grande importância, tanto nos sistemas convencionais como em um SIPA.

Destacamos que independentemente do modelo de produção adotado, os fundamentos do manejo de uma pastagem permanecem os mesmos, ou seja, é necessário estimar corretamente a produção de massa de forragem nos piquetes e, a partir desta informação, procurar trabalhar com uma taxa de lotação animal que permita à planta manter uma área foliar residual que não comprometa sua capacidade de rebrota e, consequentemente, a perenidade da pastagem.

Uma das particularidades dos SIPA, especialmente aqueles em que o componente florestal está presente, é o efeito do sombreamento sobre o desempenho da planta forrageira. Dessa forma, o manejo nestas situações deverá levar em consideração a manutenção de níveis adequados de incidência de luz solar sobre as plantas forrageiras. Existe ampla literatura disponível sobre este assunto que poderá auxiliar o leitor na obtenção de maiores informações.

Scot Consultoria: Quais cultivares melhor se adaptam a sistemas de ILP/ILPF?

Paulo Meirelles: Considerando particularmente as condições tropicais, as espécies de gramíneas forrageiras mais adaptadas para formação de pastagens em SIPA são aquelas pertencentes ao gênero Urochloa que são de porte mais baixo e manejo mais fácil, tanto para pastejo quanto para dessecação visando produção de palhada para plantio direto das culturas em sucessão. As principais cultivares deste gênero usadas em SIPA são a Brachiaria brizantha e suas cultivares, como por exemplo Marandu, Xaraés, Piatã e Paiaguás, entre outras, e B. ruziziensis

Gramíneas do gênero Panicum também são usadas, mas em menor quantidade, devido ao seu hábito de crescimento e altura das plantas. Neste gênero temos observado normalmente a utilização dos capins Mombaça, Tamani, Zuri, Tanzânia e Aruana. No caso das leguminosas, o leque de opções é mais limitado. Existem experiências com algumas cultivares de amendoim forrageiro (Arachis pintoi) e Stylosanthes, principalmente a cultivar Campo Grande.

Em novembro de 2010 a Embrapa pecuária Sudeste realizou um workshop com especialistas para discutir a construção de ideótipos de gramíneas para diversos usos, ou seja: uma forma ideal de planta para uso em determinado ambiente e objetivo de cultivo. Um dos grupos discutiu a construção de um ideótipo de gramínea forrageira para uso em SIPA, que posteriormente foi publicado como um livro. Acreditamos que este estudo poderá contribuir positivamente para o setor, visando a ampliação do número de espécies disponíveis para uso nos diversos biomas brasileiros.

Scot Consultoria: Qual sua sugestão para o produtor que pretende iniciar no sistema ILPF e não sabe por onde começar?

Paulo Meirelles: Recomendamos ao produtor interessado em adotar esta modalidade produtiva que busque orientação técnica especializada. Conforme comentamos anteriormente esses sistemas são naturalmente mais complexos devido à interação de várias áreas do conhecimento e que as lavouras de grãos e a duração do ciclo do sistema dependerão, principalmente, do componente arbóreo escolhido. Os benefícios da presença das árvores em termos de bem-estar animal são bem conhecidos, porém, o efeito do sombreamento sobre a produtividade da pastagem deverá ser rigorosamente monitorado.

A definição da espécie florestal a ser utilizada deve considerar alguns pontos importantes como, por exemplo, a adaptação às condições edafoclimáticas da região, possíveis danos causados pelos animais (quebras de árvores, predação por consumo); disponibilidade de mudas e/ou sementes na região; arquitetura da planta; manejo e tratos culturais e características de mercado da madeira.

Ressaltamos que este é um tipo de investimento de médio e longo prazos e que o sucesso ou fracasso da iniciativa dependerá de um rigoroso estudo de mercado com posterior planejamento detalhado e correta execução de cada etapa.

Scot Consultoria: Qual a importância de manejar o pasto no ponto ótimo de pastejo?

Paulo Meirelles: O ponto ótimo de manejo de uma pastagem é determinado pelo momento na curva de crescimento da planta forrageira em que se verifica o equilíbrio entre produção e qualidade da forragem produzida. Esse momento é crucial na manutenção da perenidade do sistema. Manejar uma pastagem não respeitando o ponto ótimo de manejo, certamente será prejudicial, uma vez que ao se trabalhar com uma planta forrageira em idade avançada, a qualidade da mesma será inferior, devido ao aumento nos carboidratos fibrosos e redução no conteúdo celular, além de aumentar a proporção de colmo em relação às folhas.

Por outro lado, manejar a planta forrageira antes do ponto ótimo também trará resultados negativos. Embora a planta apresente, nesta fase, maior valor nutritivo, a produtividade (quilos de massa seca de forragem) é baixa. Nos dois casos, o rendimento em termos de nutrientes, como, por exemplo, a proteína, é baixo. No ponto ótimo de manejo, conseguimos obter os rendimentos máximos de nutrientes por área, com maior produtividade animal e sem riscos de degradação da pastagem.


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