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Scot Consultoria

Os desafios da mulher no agronegócio


Quinta-feira, 29 de novembro de 2018 - 17h00

Foto: Agro Mulher


É evidente a maior participação da mulher no agronegócio nos últimos anos, estando cada vez mais à frente dos negócios e no campo, conquistando espaço entre os nomes de sucesso no setor. Pensando nisso, a Scot Consultoria fará uma rodada de entrevistas com algumas das representantes femininas do agronegócio brasileiro, mostrando os principais desafios e histórias de cada uma delas.


A primeira entrevistada será Mariane Crespolini, que contará um pouco sobre seu percurso e seus principais obstáculos. Mariane é graduada em Gestão Ambiental pela Esalq/USP, mestre e doutoranda em desenvolvimento econômico pela Unicamp. É pecuarista na região Norte de Mato Grosso. Veja a entrevista abaixo:


Scot Consultoria: Mariane, qual a sua ligação com o agronegócio? Nos conte um pouco sobre sua história com o setor?


Mariane Crespolini: Eu nasci no meio rural. Meu pai era produtor de frango e laranja, no interior de São Paulo. Inclusive, o “bullying” que eu sofri de criança foi ser chamada de Chico Bento! Na época, obviamente, eu não gostava deste apelido. Mas, anos mais tarde, fui estudar na Esalq/USP e enquanto eu estava na graduação, foi lançado o gibi onde o Chico Bento também foi estudar por lá! Achei o máximo!


Logo no início da graduação, percebi que todos os problemas ambientais eram, na verdade, econômicos. E, por isso, ainda na graduação, fui para os Estados Unidos e para Portugal aprender um pouco mais sobre economia e política agrícola. Quando retornei, comecei a fazer estágio no Cepea. Quando me formei, fui contratada. Junto com o Cepea, fiz o mestrado e comecei o doutorado em desenvolvimento econômico, na Unicamp. Durante este período, tive grandes oportunidades de enxergar o agronegócio de “fora”. Fui a trabalho para mais de dez países, entre eles, Japão e China, sempre palestrando sobre o agro brasileiro. Foram nestas viagens que eu realmente tive dimensão de como o Brasil é uma enorme potência. Enquanto estamos aqui dentro temos a percepção que somos grandes, mas quando saímos do Brasil, é possível perceber que somos gigantes! Entre muitas viagens, conheci meu marido. Quando fui para a Escócia, fazer parte do meu doutorado combinamos que no meu retorno, São Paulo ficaria “pequeno”. Então, me casei e mudei para o estado pelo qual sou apaixonada, e que, sozinho, tem mais bois que toda a Austrália: Mato Grosso! Hoje continuo minhas pesquisas e meu doutorado com mercado agropecuário na Unicamp, presto consultoria na parte de gestão financeira para produtores rurais e sou pecuarista nos finais de semana.


Scot Consultoria: Qual o seu principal desafio hoje, como uma grande mulher do agronegócio?


Mariane Crespolini: Acho que o desafio e oportunidade é o tamanho do Brasil. Fui muito abençoada ao, ainda na graduação, encontrar e descobrir algo que eu amo fazer. Meu desafio é que cabem muitos países dentro do Brasil. Apenas em Mato Grosso, em área, caberia a França e a Alemanha. Como que eu faço uma análise econômica geral para o país? O Rio Grande do Sul tem sua peculiaridade e sua beleza, completamente diferente do estado onde eu moro. Um influencia o outro e a análise é complexa. Outro desafio, como palestrante, é conciliar as viagens. Recentemente fui para Goiás fazer uma palestra e foi uma força tarefa ir com minha filha, que na época tinha três meses. É tudo muito longe e não dá para ir e voltar no mesmo dia! Isto é fantástico, em termos de comércio internacional, por exemplo. Mas é um desafio. 


Scot Consultoria: Você acha que cada vez mais as mulheres estão conquistando espaço dentro do setor? E qual o principal diferencial/característica dessas mulheres?


Mariane Crespolini: Sim, estão e os números comprovam. No início deste ano, uma pesquisa demonstrou que 30% dos cargos de liderança no agro já são ocupados por mulheres, há alguns anos era algo em torno de 10%. Bons exemplos são a indicação da Tereza Cristina para o ministério e o trabalho desenvolvido pela Teresa Vendramini, primeira diretora mulher de uma instituição centenária, que é da Sociedade Rural Brasileira (SRB). A conquista da mulher é tão relevante, que recentemente, o Cepea divulgou uma pesquisa, baseada nos dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), apontando que, entre 2004 e 2015, enquanto a população masculina reduziu em mais de 11% sua atuação no agronegócio, a feminina aumentou em mais de 8%. O diferencial dessas mulheres é simplesmente pensar diferente dos homens, nem melhor, nem pior: diferente. Seja no agronegócio ou em qualquer setor da economia, indivíduos que pensam diferente levam as empresas e os setores a patamares melhores e mais rentáveis. Eu defendo direitos iguais, seja em acesso ao trabalho, patamar de salário, etc., mas eu não acho que homens e mulheres são iguais. Nós temos nossas diferenças biológicas e culturais e, isto, a meu ver é saudável. Além de trazer diversidade na forma de pensar e agir, estas mulheres são “raçudas”, pois o agronegócio ainda é um setor tradicionalmente masculino.


Scot Consultoria: Na sua opinião, há um principal obstáculo que as mulheres terão daqui para frente? E qual seu conselho para as jovens que iniciam a carreira?


Mariane Crespolini: Meu primeiro conselho para as jovens é: estudem e se qualifiquem. Conheço muitas jovens que afirmam que gostam mais de “sujar a botina de barro” e não gostam de ficar na sala de aula. Mas, a qualificação é importante. É o que vai fazer seu trabalho ser mais eficiente, mais rápido, mais produtivo. Então, o segredo é continuar sempre estudando. Nunca parar. Temos sempre algo novo a aprender com os outros. Sobre o obstáculo, não chamaria de obstáculo. É algo maravilhoso, mas que traz alguns desafios profissionais: a maternidade. É claro que esta minha resposta é em função do momento que estou vivendo (risos), com uma bebê pequena e ainda acordando nas madrugadas para dar mamar. Mas, como acredito que a maior parte das mulheres planeja ser mãe e, ao mesmo tempo, não pensa em parar de trabalhar, este é o desafio. No agronegócio pode ser ainda mais desafiador, pois trabalhamos em uma “indústria aberta” que não tem horário ou previsibilidade. Além disso, muitas mulheres trabalham viajando. Só para ilustrar, tenho uma amiga que a primeira palavra da filha dela foi “boi”.  O bom deste desafio é que todo mundo apoia e ajuda a mulher que enfrenta este desafio, pelo menos essa tem sido a minha percepção. A oportunidade é que ganhamos uma outra motivação para trabalhar, chamo de “maternidade empreendedora”.


Entrevistado:



 


Mariane Crespolini, pesquisadora, consultora e palestrante em temas relacionados à economia.


 



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