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Scot Consultoria

O agronegócio deve concordar com o tabelamento do frete?


Sexta-feira, 15 de junho de 2018 - 11h00

Foto: Scot Consultoria


Sidnei Maschio: Alex, por que é que o setor agropecuário brasileiro não pode aceitar esse tabelamento do frete que o governo está querendo impor ao mercado? O que aconteceria se a agropecuária nacional tivesse de pagar esse aumento do frete repassando a alta do seu custo para os setores da economia que trabalham da porteira para fora?


Alex Lopes: Isso aumentaria o custo e reduziria de forma “forçada” a competitividade do setor agropecuário. Além disso, em última análise, geraria redução no poder de compra das famílias. 


O item alimentação compõe 23% da inflação oficial do país, medida pelo IPCA. E, com o frete quase dobrando de preço, de duas uma. Ou esse aumento de custo seria imediatamente repassado ao consumidor ou resultaria em desaparecimento de alguns produtores se estes fossem “obrigados” a absorver esse reajuste. E, com menos gente produzindo, a produção diminuiria e, consequentemente, o preço dos produtos subiriam.


Sidnei Maschio: Quais poderiam ser as consequências dessa tabela de frete para as exportações brasileiras em geral e da agropecuária em particular? 


Alex Lopes: Resultaria em redução de competitividade. Os grãos, por exemplo, têm ao redor de um quarto do seu custo final, quando entregue ao porto, composto pelo frete.


É verdade que o dólar nos patamares atuais poderia reduzir o impacto negativo de se oferecer um produto “mais caro” ao mercado, mas, ainda assim, isso não livra o setor de perder competitividade.


Sidnei Maschio: Sendo o Brasil absolutamente dependente do caminhão para transportar a sua produção, qual é o argumento que o governo tem para fazer os motoristas desistirem do tabelamento do frete?


Alex Lopes: É difícil imaginar qual o ponto de equilíbrio, qual a medida que não inviabiliza o setor produtivo ao mesmo tempo que agrada caminhoneiros. É por isso que nessas horas o correto é sempre “deixar o mercado agir”.


Se o preço não remunera o caminhoneiro é porque a oferta de frete é maior do que a demanda. E, nestas condições, o mercado tende a se ajustar. Ao longo dos anos muitos produtores saíram da atividade porque havia muita oferta de laranja, muita oferta de açúcar, muita oferta de boi, muito oferta de café e por aí vai. O mercado, sozinho, leva ao ajuste.


Sidnei Maschio: Daria para resolver a situação do caminhoneiro rebaixando por decreto o preço do diesel?


Alex Lopes: Derrubar o preço o diesel certamente ajudaria o caminhoneiro, mas prejudicaria o governo, já que o petróleo no Brasil é estatal. Se cai o preço de venda, cai a receita do estado, prejudica a margem e a arrecadação do governo, que já não está lá essas coisas.


Sidnei Maschio: Alex, mudando de pato para ganso, uma semana e meia depois do fim da greve dos caminhoneiros o mercado do boi gordo já está funcionando dentro da normalidade esperada para esta época do ano?       


Alex Lopes: Embora ainda existem varejistas acelerando as compras para “normalizar” os estoques, o mercado do boi não tem “cara” de entressafra. Os preços ainda estão pressionados em alguns estados. As valorizações que ocorrem não são consistentes, não são duradouras, alternam com períodos de pressão de baixa.


O preço da carne com osso caiu forte essa semana. Esse produto é sensível a variações de demanda e, para que os preços subam, não basta só reduzir a oferta de boi, é preciso que o consumo responda, é preciso que as vendas de carne auemntem.


Sidnei Maschio: Qual deve ser o resultado para o mercado do boi gordo da fortíssima alta no preço do frango?


Alex Lopes: Com o frango sendo vendido a R$4,00 ou R$5,00 no atacado, como ocorreu ao longo dos primeiros quinze dias de junho, deve sobrar algum espaço para a carne bovina ganhar competitividade e isso ajudar no escoamento.


Sidnei Maschio: Como é que deve ser a oferta de gado terminado na metade derradeira do ano? Dá para cravar uma aposta firme na alta do preço do boi daqui para o final do ano?


A partir de agora, gradualmente, a oferta diminuirá e o preço tende a subir, isso é sazonal. Mas ainda é cedo para afirmar em que medida isso virá. O tamanho do confinamento será determinante. É certo que a safrinha menor, o dólar ladeira acima e as exportações de grãos aquecidas, irão encarecer a operação de engorda intensiva.


Alex Lopes: Mas ninguém sabe ainda qual o patamar que a arroba do boi gordo atingirá na B3, nos contratos de outubro e novembro (meses de maior entrega de boiadas), assim que a entressafra der as caras. Isso está prestes a acontecer, e aí sim podemos ter “mais certeza” do que ocorrerá com o confinamento.


Entrevistado:



Alex Lopes, zootecnista e consultor da Scot Consultoria.



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