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Scot Consultoria

Pressão de baixa no mercado do leite: de onde vem a pressão?


Quinta-feira, 6 de outubro de 2016 - 18h16


Rafael Ribeiro, consultor de mercado pela Scot Consultoria concedeu uma entrevista ao apresentador Sidnei Maschio, do canal Terra Viva, sobre o atual cenário do mercado do leite.


Rafael Ribeiro é zootecnista formado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Ilha Solteira.


Sidnei Maschio: Em primeiro lugar, para a gente entender como foi que o mercado chegou ao ponto atual, o que foi que provocou essa longa alta de oito meses nos preços do leite, Rafael?


Rafael Ribeiro: Sazonalmente é o período de entressafra de importantes estados produtores como Minas Gerais, São Paulo e Goiás, mas este ano particularmente o clima adverso e o aumento dos custos de produção agravaram esta situação e a produção caiu mais. Estes fatores prejudicaram também a produção na região Sul do país, que teve incrementos menores em relação aos anos anteriores. Ou seja, o principal motivo da alta foi a menor disponibilidade leite no mercado interno e maior concorrência entre as indústrias.


Sidnei Maschio: Voltando para o tempo presente, Rafael, o que foi que aconteceu com o preço pago ao produtor agora em setembro?


Rafael Ribeiro: Depois de oito meses em alta, o preço do leite pago ao produtor caiu no pagamento realizado em setembro, referente ao leite entregue em agosto. Segundo levantamento da Scot Consultoria, a média nacional ficou em R$1,192 por litro, sem o frete. O recuo foi de 3,2% frente ao pagamento anterior.


Existe pressão do lado da indústria, em função das fortes quedas verificadas nos preços do leite longa vida no atacado nas últimas quinzenas, além da retomada da produção de leite no país e importações de leite em pó em alta.


Sidnei Maschio: De que tamanho foi o aumento na captação de leite pela indústria no período considerado pela pesquisa?


Rafael Ribeiro: Segundo o Índice Scot Consultoria de Captação, na média nacional, a produção subiu 3,8% em agosto, em relação a julho deste ano. Para setembro é esperado crescimento de 1,2% no volume, segundo dados parciais.


Apesar dos incrementos nos últimos meses, a produção estimada para setembro é 0,8% menor, na comparação com igual período do ano passado. Ou seja, não existe excesso de leite no mercado.


Sidnei Maschio: Como foi o comportamento do consumidor no mês passado, Rafael?


Rafael Ribeiro: A demanda por leite e derivados segue sem muitas novidades. Cabe destacar, porém, os números de vendas nos supermercados divulgados pela ABRAS (Associação Brasileira de Supermercados) que mostra reação nas vendas nos supermercados em agosto.


Sidnei Maschio: O preço do leite e dos derivados no atacado já estava antecipando essa mudança de rumo. O que foi que aconteceu neste mercado nas últimas semanas, Rafael?


Rafael Ribeiro: A pressão de baixa sobre o leite longa vida continua no atacado. Os patamares de preços saíram de R$4,50 por litro no final de julho para os atuais R$2,50 por litro.


Sidnei Maschio: Comparando com o ano passado, agora em dois mil e dezesseis o Brasil está importando uma quantidade muito maior de leite e derivados. Isso também ajudou a derrubar o preço pago ao produtor brasileiro?


Rafael Ribeiro: No acumulado, janeiro a agosto, o país importou 81,0% mais lácteos em volume. As importações em alta competem diretamente com o produto nacional e colaboram com a pressão de baixa no mercado interno.


Sidnei Maschio: Esse aumento nas importações significa que está sobrando leite no mercado nacional?


Rafael Ribeiro: Não. Significa que os preços internacionais estão mais competitivos, considerando os patamares mais baixos de preços em 2016, principalmente para o leite em pó. Em determinados momentos, a queda do dólar em relação ao real favoreceu ainda mais as importações brasileiras. Do lado da produção, no mercado internacional houve um ajuste entre oferta e demanda nos últimos meses, em função das quedas do preço do leite e derivados lá fora.


Sidnei Maschio: No mercado internacional o preço do leite andou reagindo nos últimos dois meses. O que isso pode mudar para o produtor brasileiro?


Rafael Ribeiro: Deve diminuir a competitividade do produto importado, mas vai depender do câmbio também. A produção brasileira aumentando com a safra nas regiões Sudeste e Centro-Oeste e os preços do leite e derivados caindo aqui no mercado brasileiro devem limitar as compras lá fora em curto e médio prazo.


Sidnei Maschio: Rafael, e a respeito do custo de produção do leite nacional, como está a situação hoje e qual é a previsão para o curto e médio prazo?


Rafael Ribeiro: Tivemos um alívio do lado da alimentação concentrada, principalmente o milho, cujos preços caíram desde agosto no mercado brasileiro, com a menor movimentação interna e exportações mais fracas este ano em relação a 2015.


O farelo de soja também continua em queda, mas o ritmo das desvalorizações diminuiu nas últimas quinzenas.


A queda nos custos, segundo o Índice Scot Consultoria de Custo de Produção da Pecuária Leiteira, foi de 2,5% em setembro, na comparação com agosto. Ainda assim, em um ano, o custo da atividade acumula alta de 19,7%.   


Para o produtor de leite, fica o alerta com relação às margens da atividade, com os preços do leite caindo nos próximos pagamentos. Do lado dos custos, com as chuvas mais regulares e melhoria das condições das pastagens em curto e médio prazos, espera-se menor necessidade de suplementação concentrada e volumosa, oque deve pesar nos custos.



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