Alta nos preços da carne no mercado atacadista colabora com melhora das margens das indústrias

Gustavo Aguiar, consultor de mercado pela Scot Consultoria concedeu uma entrevista ao apresentador Sidnei Maschio, do canal Terra Viva, sobre as recentes altas da carne bovina e como isto tem refletido no mercado do boi gordo.

Gustavo Aguiar é zootecnista formado pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF).

Confira a entrevista na íntegra:

Sidnei Maschio: Gustavo, essa história é mais ou menos como a “do ovo e da galinha”, mas a impressão que a gente tem é de que a situação começou a mudar a partir do momento em que a cotação da carne com osso pegou o “rumo de subida no estradão”, não é? Como foi que o frigorífico conseguiu fazer isso?

Gustavo Aguiar: Foi um ajuste natural do mercado, como reação a uma lenta operação por parte dos frigoríficos (alta ociosidade, falha nas programações e compras menos “agressivas”).

As margens, historicamente muito baixas em julho e agosto, levaram a este quadro.

Sidnei Maschio: Por que esse aumento no preço da carne com osso aconteceu só agora na segunda quinzena de agosto, a indústria não poderia ter feito isso antes?

Gustavo Aguiar: Não foi um movimento orquestrado, e sim uma resposta conjuntural. Por isso, foi caminhando de forma orgânica, até que houvesse um desequilíbrio da oferta frente à demanda, em decorrência das operações conjuntas dos frigoríficos, que ocorreu no início de setembro.

Sidnei Maschio: Gustavo, com essa forte recuperação na sua margem de comercialização, o frigorífico já tem condição de pagar um preço melhor pelo boi gordo, não é mesmo? Por que, então, que a arroba não está subindo mais “ligeiro”?

Gustavo Aguiar: Neste primeiro momento, está havendo uma recuperação dos resultados industriais. Há forte resistência em se pagar mais pelo boi neste momento. Mas gradualmente, os preços devem se recuperar, caso este cenário de sustentação da receita dos frigoríficos permaneça.

Sidnei Maschio: Gustavo, vocês aí na Scot Consultoria estão vendo alguma chance de um aumento mais substancioso na oferta de gado terminado nas próximas semanas?

Gustavo Aguiar: Para isso, temos que pensar em confinamento, e não há muitos indícios de que o volume de animais crescerá, até porque não há muito tempo para recuperação do confinamento este ano, mesmo diante de uma queda no preço dos grãos ou recuperação para o boi.

Sidnei Maschio: Gustavo, historicamente o consumo de carne aqui no nosso mercado interno melhora bem no segundo semestre do ano, não é? Será que essa tradição vai continuar valendo para este dois mil e dezesseis “enrolado e complicado”?     

Gustavo Aguiar: Já há alguns sinais de recuperação, mas ainda não dá para cravar com segurança que teremos melhorias de consumo frente aos meses finais dos últimos anos. Porém, é plausível apostar que teremos a retomada de consumo sazonal até dezembro, frente ao decorrer deste ano. Isto já deve ajudar.