Rafael Ribeiro, consultor de mercado pela Scot Consultoria concedeu uma entrevista ao apresentador Sidnei Maschio, do canal Terra Viva, sobre o atual cenário do mercado de leite e as expectativas para o setor.
Rafael Ribeiro é zootecnista formado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Ilha Solteira.
Confira a entrevista na íntegra:
Sidnei Maschio: Rafael, como foi o comportamento do preço no balanço que vocês acabaram de fechar?
Rafael Ribeiro: O preço médio do leite pago ao produtor subiu 4,4% no pagamento de junho, referente à produção entregue em maio. Foi a maior alta mensal, nos últimos cinco anos, segundo levantamento da Scot Consultoria.
Considerando a média nacional, o produtor recebeu R$1,108 por litro de leite. Em relação ao mesmo período do ano passado, o aumento é de 16,6%, em valores nominais.
Sidnei Maschio: E a respeito da entrega de leite na indústria, Rafael, de que tamanho foi o tombo desta vez?
Segundo o Índice Scot Consultoria de Captação, na média nacional, a produção caiu 2,6% em junho deste ano, em relação a igual período do ano passado.
Sidnei Maschio: Se o preço está reagindo há vários meses, por que a produção continua caindo?
Rafael Ribeiro: O período é de entressafra em SP, MG e GO, mas os custos de produção em alta diminuíram os investimentos na atividade e levaram a cortes de despesas por parte do produtor. Além disso, o clima adverso (excesso de chuvas no sul e atrasos/falta de chuvas no Brasil Central e região Sudeste) agravou o cenário de queda na produção.
Sidnei Maschio: Hoje o que é que tá pesando mais no custo de produção do leite?
Rafael Ribeiro: Até junho, tivemos um peso forte dos alimentos concentrados com destaque para o milho que fechou junho custando 72,0% mais que no mesmo período de 2015. Em junho tivemos também uma forte alta de preços do farelo de soja, em especial na primeira quinzena.
Sidnei Maschio: Mas nas últimas semanas o preço do milho teve uma queda substanciosa aqui no nosso mercado nacional, não é? Isso ainda não foi suficiente pra resolver a questão do custo de produção do setor leiteiro?
Rafael Ribeiro: Os preços caíram a partir de meados de junho e em julho, mas ainda assim o milho deve ficar em um patamar mais alto de preço este ano.
Sidnei Maschio: Ainda em relação ao volume de leite entregue na indústria, o que deve acontecer agora em julho?
Rafael Ribeiro: A expectativa é de aumento do volume captado, mas o incremento deve ser menor que em anos anteriores. No Rio Grande do Sul, por exemplo, a captação cresceu 3,9% em junho deste ano, em relação a maio. Em junho de 2015, a alta na produção foi de 5,2%, na comparação mensal.
Sidnei Maschio: Não dá para aumentar a produção sem investir na atividade, não é? O produtor brasileiro tem em condições de fazer isso agora?
Rafael Ribeiro: A situação está complicada, com as margens apertadas desde meados do ano passado. Desde meados de 2015 a situação e investimentos comedidos na atividade e corte de despesas. Isto acaba interferindo na produção.
Sidnei Maschio: E a respeito do consumo, Rafael, será que não dá pra ter a esperança de alguma melhora nas vendas pra ajudar a empurrar o carretão para frente?
Rafael Ribeiro: Acredito que não para este ano. A expectativa é de que a partir de 2017, o cenário do lado da demanda comece a melhorar.
Sidnei Maschio: Somando tudo, o que é que o pessoal do setor tá prevendo em termos de preço ao produtor durante o mês de julho?
Rafael Ribeiro: Altas para o produtor até o pagamento de agosto. Para o pagamento de julho (produção de junho), 80,0% dos laticínios pesquisados acreditam em alta dos preços ao produtor e os 20,0% restantes falam em manutenção. Para agosto, diminuiu a quantidade de laticínios apontando para alta nos preços do leite, mas ainda assim, não são esperados recuos em nenhuma região do país, mesmo no Sul.
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