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Scot Consultoria

A pecuária brasileira x americana: principais diferenças


Quinta-feira, 7 de julho de 2016 - 16h50

Amanda Pesqueira é zootecnista formada pela Universidade Estadual de Maringá - UEM. Atualmente é aluna de doutorado na University of Kentucky (EUA) e atua na área de nutrição de ruminantes. Conversou com a Scot Consultoria sobre as diferenças entre os sistemas pecuários brasileiro e americano e o que podemos aprender com os EUA.



Scot Consultoria: Comente um pouco sobre a sua pesquisa ganhadora do prêmio da American Society of Animal Science.


Amanda Pesqueira: A pesquisa “Fatty Acid Profile In Ruminal Content And Blood Plasma Of Finishing Beef Cattle Supplemented With Different Sources Of Fat” (Perfil de Ácidos Graxos no Conteúdo Ruminal e no Plasma Sanguíneo na Terminação de Bovinos de Corte, suplementados com Diferentes Fontes de Gordura) estudou como diferentes fontes de gordura afetam a bio-hidrogenação ruminal.


O foco da pesquisa foi observar o metabolismo da micro alga marinha, rica em ácido docosa-hexaenoico (DHA) em animais consumindo uma dieta rica em grãos.


Há muito desafios quando se adiciona gordura à dieta de ruminantes. Altos níveis podem reduzir a digestibilidade, pois estas podem agir como uma película envolvendo as partículas dificultando a adesão dos micro-organismos.


Este estudo é importante para produtores que usam a suplementação de gordura em ruminantes que recebem uma dieta de alto grão, melhorando o perfil de lipídios presente no sangue animal e reduzindo a quantidade de gordura saturada no leite e na carne, uma característica que vem sendo buscada por consumidores atualmente, mantendo em mente que os níveis de suplementação devem ser limitados para evitar aspectos negativos no rúmem e na digestibilidade da dieta.


Scot Consultoria: Quais incentivos o governo dos EUA fornecem para a área de pesquisa agropecuária? Quais benefícios esses incentivos têm proporcionado?


Amanda Pesqueira: A pesquisa agropecuária nos EUA é muito incentivada pelo governo. O USDA (United States Departament of Agriculture) possui laboratórios próprios e pesquisadores que conduzem experimentos em todo o país. A Universidade de Kentucky possui parceria com o USDA, onde estudantes podem trabalhar nos laboratórios do órgão no campus da própria universidade.


Durante minha graduação fiz intercâmbio nesta universidade. Tive acesso aos laboratórios e pude observar que o governo disponibiliza verbas para a pesquisa, onde todos os equipamentos são modernos e fui acompanhada por grandes profissionais da área, que dedicam sua carreira trabalhando para a pesquisa pública da agropecuária americana.


Os benefícios são evidentes onde pesquisas de qualidade são produzidas constantemente. Chefes de pesquisas e técnicos de laboratório são capacitados e futuros profissionais têm a oportunidade de aprender metodologias inovadoras acompanhadas por profissionais da área, capacitando-os para o futuro mercado de trabalho.


Scot Consultoria: A pesquisa realizada nos EUA é aplicada na prática? Ou seja, existe um bom trabalho de extensão?


Amanda Pesqueira: Sim, nos EUA os extensionistas trabalham junto à universidade e ao governo. Programas que apoiam produtores locais são criados pelo governo, estudado pelos órgãos públicos de pesquisas e muitas vezes aplicados por professores das universidades.


Na Universidade de Kentucky, por exemplo, possuímos extensionistas que trabalham diretamente com o produtor, orientando como as verbas fornecidas pelo governo devem ser utilizadas na prática.


Verbas públicas e privadas são disponibilizadas para alunos de pós-graduação, onde estudantes trabalham com produtores aplicando novas tecnologias e estudando resultados obtidos. Um exemplo forte no Kentucky é o programa “Kentucky Proud”, onde produtores locais são supervisionados pelo estado e extensionistas trabalham junto ao produtor para produzirem com qualidade. Todos os produtos Kentucky Proud são vendidos em mercados e utilizados em restaurantes locais.


Scot Consultoria: Como a sociedade vê o produtor rural nos EUA?


Amanda Pesqueira: O produtor rural local é muito valorizado nos EUA, muitas pessoas optam por pagar mais e obter um produto que foi produzido localmente. Os consumidores são geralmente informados e fazem decisões baseadas em sustentabilidade e bem-estar animal.


Alguns produtores locais abrem sua propriedade para visitação, para que consumidores vejam suas práticas. O estado de Kentucky possui uma relação forte entre produtor e consumidor.


Scot Consultoria: Quais as principais diferenças entre a pecuária dos EUA e do Brasil?


Amanda Pesqueira: Em termos de pesquisa é evidente que os EUA possuem maior incentivo público e privado para pesquisadores, novas tecnologias são constantemente estudadas e desenvolvidas. Estudantes recebem incentivos para continuarem suas carreiras na área de pesquisa e há empregos de alta remuneração para os recém-formados.


O governo investe altamente em pesquisa de qualidade e emprega profissionais qualificados. Empresas privadas financiam a pós-graduação de alguns estudantes e os empregam quando formados, para que desenvolvam novos produtos agropecuários.


O incentivo do governo brasileiro para pesquisa nas universidades é muito baixo, o que dificulta a produção de estudos de qualidade, que sejam compatíveis com as pesquisas no exterior.


Scot Consultoria: Quanto ao uso de tecnologia, o que a pecuária brasileira pode aprender com os EUA e o que podemos ensinar?


Amanda Pesqueira: O investimento em pesquisa é muito importante para o desenvolvimento de um sistema competitivo e de qualidade. Novas tecnologias precisam ser constantemente estudadas e desenvolvidas, adaptando o produtor ao mercado atual.


Importar tecnologia aumenta o custo de produção e este poderia ser evitado se o Brasil recebesse maior investimento do governo e de empresas privadas no setor agropecuário. Investimento em profissionais também é extremamente importante, onde profissionais de qualidade são gerados e aptos a conduzir estudos relevantes.



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