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Scot Consultoria

Mercado sob pressão


Sexta-feira, 11 de março de 2016 - 13h59


Alex Lopes, consultor de mercado pela Scot Consultoria concedeu uma entrevista ao apresentador Sidnei Maschio, do canal Terra Viva sobre a pressão de baixa no mercado do boi gordo.


Alex Lopes é zootecnista formado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Jaboticabal.



Confira a entrevista na íntegra:


Sidnei Maschio: Alex, uma semana depois do primeiro sinal de que o frigorífico estava disposto a chutar o balde na praça, já dá pra saber onde começou essa pressão baixista e qual foi a dimensão dela?


Alex Lopes: A pressão de baixa foi construída por uma grande indústria frigorífica com o intuito de aliviar a pressão sobre suas margens. Esse movimento, no entanto, não tem resultado em redução importante nas referências de preços da arroba. Somente ajustes pontuais. Os negócios acima da referência seguem correndo em todo o país.


Sidnei Maschio: Se não aconteceu nada de mais pra justificar uma queda mais substanciosa no preço, qual foi o verdadeiro motivo dessa extraordinária pressão baixista que a gente está vendo no mercado?


Alex Lopes: O motivador para tamanha pressão baixista foi a forte redução do resultado das indústrias frigoríficas. Elas tentaram se defender. Em março de 2015, a diferença entre a receita de uma planta de abate de desossa e o preço pago pela arroba, era de 15,0%. Chegamos a 14,0% este ano. Se considerarmos que, desde então, os demais custos operacionais, frete e energia elétrica subiram mais de 50,0% e o salário mínimo mais de 11,0%, o resultado operacional ficou, significativamente, pior.


Se não é possível aumentar o preço da carne para elevar a receita, já que a população perde a cada dia mais o poder de compra, não há espaço para reduzir outros custos operacionais como energia elétrica, salário e frete, pois a indústria já trabalha ociosa, a saída foi pressionar para baixar o preço da matéria prima, o boi gordo.


Sidnei Maschio: Da parte do consumo, dá para esperar algum alívio na situação atual do frigorífico?


Alex Lopes: O consumo deve seguir os rumos da economia. A medida que a inflação sobe e o processo recessivo se agrava, que é o que se projeta para os próximos meses, a população perde poder de compra. O resultado disso é a substituição da carne bovina por proteínas "mais baratas", como o frango. Ou seja, a demanda interna não deve ajudar a melhorar a situação para as indústrias.


Sidnei Maschio: Mas considerando o tamanho do aperto na oferta de gado terminado, o frigorífico está na condição de fazer pressão no mercado?


Alex Lopes: Não. E isso fica claro com o rumo que essa "tentativa" de pressão de baixa tem tomado. A baixa efetividade deste "teste" de mercado demonstra que não há espaço para redução nos preços, já que a oferta de matéria prima é curta.


Sidnei Maschio: Olhando a situação pelo lado do pecuarista, quais são as armas que ele tem hoje pra enfrentar essa valentia que está sendo mostrada pelo comprador de boiada?


Alex Lopes: A arma do pecuarista está na organização. Na safra, com pasto na fazenda, e diante de um cenário tão pouco ofertado como o atual, reter o animal, resistir à entrega nos preços menores, é a única saída do pecuarista.


Por menor que seja a demanda interna, se não houver compra de boiadas, os estoques de carne, em algum momento, irão enxugar, e isso fará com que os compradores voltem a ofertar preços maiores para comprar matéria prima. Mas, não adianta isso ser uma decisão isolada, é preciso que todos hajam dessa forma para ter algum efeito.


Sidnei Maschio: Depois que a indústria começou a descer a lenha no preço, o mercado ficou praticamente parado em várias das principais regiões de pecuária do país. Pode-se dizer que isso é o começo da resposta do pecuarista ao comprador de boiada?


Alex Lopes: Sem dúvida. As escalas encurtaram, as compras não andaram e isso, como dito, tende a culminar em uma retomada de ofertas de compra maiores.


Sidnei Maschio: No ano passado, quando a margem de comercialização também estava muito apertada, a indústria tomou uma medida muito radical, que foi fechar dezenas de unidades pelo país afora. Existe algum risco de acontecer alguma coisa parecida agora?


Alex Lopes: Sim, esse risco é real. Já existe indústria de grande porte concedendo férias coletivas, interrompendo operação em algumas unidades de abate em função dos resultados apertados. Isso nos deixa mais atentos já que estas empresas maiores destinam grande parte de sua produção ao mercado externo, que tem crescido esse ano. Portanto, os frigoríficos menores, que fazem exclusivamente a venda no mercado doméstico, podem sentir mais intensamente os efeitos de matéria prima escassa e dificuldade de repasse de preços ao consumidor.



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