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Scot Consultoria

Panorama da pecuária no mês de janeiro


Sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016 - 14h28


Alex Lopes, consultor de mercado pela Scot Consultoria concedeu uma entrevista ao apresentador Sidnei Maschio, do canal Terra Viva sobre a pecuária neste início de ano.


Alex Lopes é zootecnista formado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Jaboticabal.



Confira a entrevista na íntegra:


Sidnei Maschio: O que foi que empurrou pra cima o preço da arroba no mês passado?


Alex Lopes: A falta de chuvas no último trimestre de 2015 no Centro-Oeste, Norte, Nordeste e parte do sudeste do país, onde estão os maiores rebanhos bovinos, atrasou a recuperação das pastagens e, consequentemente, prejudicou a oferta de boiadas, que já vinha curta há dois anos.


Isso ocorreu no mesmo momento em que a oferta de boiadas de confinamento chegou ao fim e parte dos pecuaristas estiveram fora dos negócios, de férias. Essa combinação de fatores empurrou o mercado do boi gordo para cima.


Já nas áreas onde choveu e tinha pasto, como em São Paulo e no Paraná, os pecuaristas viram, em meio a um ambiente de alta do mercado, a oportunidade de retardar e "dificultar" a entrega dos animais para tentar preços ainda melhores para a arroba.


Sidnei Maschio: O boi de capim não chegou ao mercado só por causa das dificuldades com o clima? 


Alex Lopes: Nas regiões onde faltou chuva, esse foi o principal fator de restrição de oferta associado à saída de parte dos pecuaristas dos negócios. Onde as chuvas foram abundantes, o "endurecimento" dos pecuaristas para entregar as boiadas, foi o que ajudou a enxugar o mercado. 


Sidnei Maschio: E a respeito do consumo, Alex, a situação continuou tão ruim quanto estava antes? 


Alex Lopes: É difícil comparar o consumo, como uma variável independente, principalmente em um período curto como nos primeiro mês de 2016, quando ainda não temos dados de abate, produção e exportação de carne consolidados.


Porém, olhando para a situação da economia, cuja correlação com a venda de carne bovina é altíssima, é nítido que o poder da compra da população segue sendo comprimido. Em janeiro, a inflação medida pelo IPCA em São Paulo, por exemplo, foi de 0,92%, a maior dos últimos dez anos.


Em 2015, a massa de desempregados cresceu e grande parte dessa população sem ocupação entra em 2016 sem renda. Ou seja, o impacto negativo para o escoamento da produção continua.


Sidnei Maschio: Já o preço da carne com osso no atacado andou caindo em janeiro. De que tamanho foi o tombo?


Alex Lopes: A queda acumulada nos preços da carcaça bovina desde a segunda quinzena de janeiro, quando as desvalorizações começaram, é de 5,54%. Esse produto, cuja liquidez é maior do que da carne desossada e, portanto, mais sensível à situação de mercado, demonstra o tamanho da dificuldade de escoamento. 


Sidnei Maschio: O preço do boi subiu, a carne caiu, e como é que ficou a margem de comercialização do frigorífico? 


Alex Lopes: A margem da operação (diferença entre a receita total  no mercado interno e o preço pago pela arroba) de uma indústria vendendo a carne com osso e todos os produtos do abate, saiu de 21,2% na primeira semana de janeiro para os atuais 10,8%. Geralmente, os frigoríficos menores que fazem, exclusivamente, venda de carne com osso, tem tido maiores problemas para manter o resultado de suas operações.


Sidnei Maschio: O Ministério da Agricultura divulgou na segunda-feira o resultado das exportações em janeiro, e o resultado não foi ruim, mas também não foi tão bom quanto o setor exportador esperava. Os embarques vão aumentar daqui pra frente?


Alex Lopes: A exportação é a via de escoamento que pode deixar resultados melhores que os do último ano.


A China, apesar da desaceleração de sua economia, é apontada como motor desse movimento. Em 2015, já se colocou na posição de quinto maior comprador de carne bovina nacional, mesmo tendo iniciado as importações somente no meio do ano. É esperado que os Estados Unidos comece, efetivamente, a comprar carne brasileira in natura no meio do ano. Com isso, abrimos a possibilidade de liberação de outros mercados latino-americanos, que seguem os padrões sanitários dos Estados Unidos.


Enfim, é importante lembrar que, mesmo com o cenário otimista, também há muita incerteza envolvida. Rússia e Venezuela, dois tradicionais clientes, que perderão participação nos últimos doze meses, seguirão sofrendo com problemas políticos e econômicos, principalmente, em função dos baixíssimos preços do petróleo, já que são importantes exportadores da commodity. A Arábia Saudita, que reabriu o mercado também em 2015, e o Irã, uma das nações que mais comprou o produto nacional no último ano, também têm suas economias fortemente baseadas no petróleo.


Sidnei Maschio: O preço da reposição "amansou" um pouco no mês passado. Qual foi o motivo disso, Alex? 


Alex Lopes: Quando não há pastagem, o recriador acaba acelerando as entregas e o comprador reduz a demanda, o que explica essa desaceleração, pontual, do mercado de reposição. Isso ocorreu nos estados que enfrentaram forte seca no final do último ano. Onde a oferta de pasto foi boa, no Sudeste e Sul do país, os preços seguiram em alta.



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