• Sábado, 27 de abril de 2024
  • Receba nossos relatórios diários e gratuitos
Scot Consultoria

Encontro da Pecuária Leiteira da Scot Consultoria entrevista o Professor Doutor Alcides Amorim Ramos


Segunda-feira, 22 de julho de 2013 - 10h42


Nos dias 1 e 2 de agosto acontecerá em Ribeirão Preto-SP e em Descalvado-SP a segunda edição do Encontro da Pecuária Leiteira da Scot Consultoria.


Nele será possível trocar experiências com técnicos de renome, produtores de sucesso e saber como está e para onde caminha o mercado de leite e lácteos.


Esse conjunto de informações será consolidado através da visita com novas estações à fazenda Agrindus em Descalvado. Uma das melhores e maiores produtoras de leite do Brasil.


Mais informações em www.encontroleite.com.br.


Um dos palestrantes será Alcides Amorim Ramos, professor doutor da FMVZ/UNESP/Botucatu- SP.


Sua palestra abordará "Avanços relacionados à genética e ao manejo reprodutivo de gado de leite".


Para saber um pouco sobre a palestra, leia a entrevista que ele concedeu à organização do Encontro da Pecuária Leiteira.


 


Entrevista com Alcides Amorim Ramos



Scot Consultoria: Em termos de genética, como pode ser considerado o rebanho nacional de gado de leite?


Alcides Amorim Ramos: Ao fazermos um estudo sobre as condições sócio, econômica e agrícola de um país verificando a disponibilidade de alimentos, a produção média de seus animais e o consumo médio de leite por habitante ano, poderemos avaliar as condições do seu rebanho leiteiro, tanto do ponto de vista de quantidade como de qualidade.


Levando-se em consideração o número existente de vacas ordenhadas no Brasil, cerca de 23,5 milhões, IBGE (2012), e a produção média em torno de 1.374kg de leite por vaca ano, pode-se considerar uma população de animais de péssima qualidade genética. Como a quantidade de animais é muito grande, não se pode aqui excluir os animais da raça Holandesa e outras que contribuem com a produção de leite e representam aquilo que há de melhor em todo o mundo.


Basta ver que a produção média desta raça em 2012 foi de 9.400kg por animal ano, ou por lactação, para um total de quase 60 mil vacas controladas naquele ano. Entretanto, podemos, com certeza, afirmar que os animais leiteiros do Brasil, na sua maioria, são de péssima qualidade genética, se colocando em posição de requerer um programa de desenvolvimento da pecuária, com sistema de produção adequado para se produzir pelo menos 3.000kg de leite por vaca ano, um programa de gerenciamento das atividades produtivas e reprodutivas, bem como um programa de melhoramento genético da espécie produtora de leite, uma vez que o país possui todas as condições edáficas, climáticas, econômicas e tecnológicas necessárias para o seu crescimento.


Observa-se nesse sentido que na pecuária de leite está tudo por fazer, uma vez que possuímos todos os ingredientes para nos transformarmos no maior produtor de leite do mundo, para isso, falta apenas uma política agrícola.


 


Scot Consultoria: O que há de novo em relação ao cruzamento de raças zebuínas com taurinas?


Alcides Amorim Ramos: Em determinado momento da pecuária de leite brasileira, décadas de 60 e 70, tínhamos uma série de agrupamentos provenientes do cruzamento de bovinos europeus com os zebuínos entre eles podemos citar: Guzolando, Girolando, Lavínia, Mantiqueira, Pitangueiras e outras, todavia, nos restam apenas as duas primeiras.


No caso da Guzolando, essa não deslanchou, ficando reduzida a poucos animais, embora apresentasse uma boa perspectiva. No caso da Girolando, essa parece ter a combinação da habilidade gênica entre os dois grupos genéticos, oferecendo os melhores resultados juntamente com o efeito da heterose. Todavia, sabe-se que nem todos os graus de sangue são desejáveis em decorrência da heterogeneidade apresentada na produção. Em alguns deles, a heterose parece não atuar bem como o efeito de habilidade da combinação gênica, o que nos leva a escolher dentre eles os melhores graus de sangue como os animais 7/8 holandês. Além da maior produtividade apresentada, contamos com a rusticidade da raça zebuína de origem - Gir agrega como efeito dominante, a docilidade e a capacidade reprodutiva. Hoje o rebanho de Girolando tem um número de animais considerável, com um programa de melhoramento genético envolvendo características produtivas, reprodutivas e lineares de fazer inveja, dentro das disponibilidades técnicas e dos sistemas de criação que praticamos. Programa esse, que tem sido copiado por vários países, inclusive com provas de touros e exportação de sêmen de touros provados para os países da América do Sul, colocando na vanguarda de um programa de cruzamento para produção de leite.


 


Scot Consultoria: Hoje a IATF está bem difundida na pecuária leiteira, o que há de novo em relação às biotecnologias da reprodução no gado leiteiro?


Alcides Amorim Ramos: Podemos dizer que o Brasil possui hoje o maior número de técnicos do mundo e quiçá das técnicas de reprodução. Sendo a IATF uma técnica já largamente difundida entre nós para o manejo reprodutivo há pelo menos 15 anos, desde a sua entrada nos país, há outras que começam a ser utilizadas, como a IA com espermatozoides sexados, a múltipla ovulação com coleta de ovócitos, para sua maturação e fecundação em in vitro (FIV), resultando em produção de embriões que, depois de congelados, podem ser transferidos simplesmente, porém, como embriões (TE). Além dessa temos a superovulação e inseminação para a coleta de embriões, a sua sexagem, e até a produção de clones, com a bipartição de embriões, a produção de clones através da tecnologia de transferência nuclear, ou mesmo outras tecnologias que começam a ser desenvolvidas, para uso prático, etc.


Mesmo sendo largamente difundida a IATF ainda precisa ser aperfeiçoada, os índices ainda não correspondem aos desejados em decorrência de várias causas, entre elas vale citar: as condições dos animais leiteiros por ocasião da inseminação, as deficiências energéticas, proteicas e mesmo de minerais que não são conhecidas com precisão, pois é um momento em que muitas vezes os animais se encontram com déficit, as condições ovarianas inadequadas para receber o sêmen ou o embrião, o manuseio destes, as condições de ambiente (temperatura do meio, estresse do animal, condição social, etc.), tudo isso tem conferido um índice médio de animais de cerca de 35%, o que é baixo, considerando todos os custos do manejo reprodutivo ou da técnica empregada.


 


Scot Consultoria: Quais as raças que apresentam melhor contribuição genética no aumento de sólidos no leite?


Alcides Amorim Ramos: As raças zebuínas são ainda as precursoras de maior taxa de sólidos totais do leite, e o seu cruzamento com as raças europeias tem contribuído para que os produtos cruzados tenham na composição do leite maior quantidade de sólidos totais. Todavia, a produção de sólidos totais é em função de uma série de variáveis, como: a composição racial do animal, a quantidade de matéria seca ingerida, a quantidade e qualidade do concentrado, a origem dos carboidratos, das proteínas, a idade dos animais, a diferenças entre animais e até da quantidade de leite produzida conforme a unidade empregada. Mantidas as exigências nutricionais dos animais, a mesma composição genética dos grupos, as mesmas condições de fase das ordenha, é perfeitamente possível selecionar animais para maior quantidade de sólidos totais do leite, fato que tem sido a preocupação do processo de seleção dos animais leiteiros em todo o mundo. Dessa maneira, hoje se requer que os animais leiteiros venham a produzir maior quantidade de energia, proteína e minerais, elementos indispensáveis na transformação do leite em seus subprodutos, agregando valor à produção. Daí os animais da raça holandesa encabeçam os sumários de touros para o aumento de sólidos totais do leite produzido pela sua progênie.


 


Scot Consultoria: Como andam os índices reprodutivos na pecuária leiteira no Brasil? A idade média à primeira cria, assim como o intervalo entre partos, têm diminuído?


Alcides Amorim Ramos: Os índices reprodutivos da pecuária leiteira no Brasil são compatíveis com a qualidade de nossos solos e, consequentemente, da qualidade de nossas gramíneas forrageiras, as quais não fornecem suficiente quantidade de proteína, energia e minerais essenciais que o processo produtivo e reprodutivo dos animais requer durante um ciclo. Desta forma não ocorre regularidade das parições, tornando-se sazonais em decorrência da qualidade dos alimentos forrageiros e por não receberem suplementação durante o período de seca invernal. Desta maneira muitos dos animais acabam não sendo cobertos e o período entre partos se alonga, comprometendo a eficiência reprodutiva. Isso sem contar os demais problemas inerentes à saúde dos animais. O comprometimento do intervalo entre partos leva a uma ineficiência na produção, resultando numa baixa produtividade por vaca, sem contar a qualidade dos animais. Desta maneira torna-se de vital importância a avaliação dos animais e o controle da eficiência reprodutiva do rebanho. Essa avaliação é o ponto critico da lucratividade do rendimento do processo produtivo. Ela determina a taxa de eliminação, o número de reposição, o progresso genético, a duração do período de lactação e seco, o controle diário de produção e as demais informações que se fazem necessárias no processo produtivo. Um manejo coletivo e intensificado demanda conhecer as condições fisiológicas dos animais, bem como a eficiência dos parâmetros que levam a promover as mudanças necessárias para maximizar os lucros. Em média a idade ao primeiro parto, um dos índices de eficiência reprodutiva e de precocidade, está em todo o país entre os 2,5 e 3,0 anos, o que é uma idade tardia, quando se prevê uma idade média em torno dos 2,0 anos. Ao considerarmos o intervalo entre parto médio apresentado pelos animais da maioria dos rebanhos do país, verifica-se o valor em torno dos 510 dias, ou seja, uma eficiência reprodutiva em torno dos 71%. Nos rebanhos bem administrados tem-se verificado sim uma diminuição dessa idade ao primeiro parto e é facilmente obtida uma grande porcentagem dos animais parindo até com idade inferior aos dois anos. Por outro lado, como a produção média de leite por animal ano tem aumentado, a duração do intervalo entre partos também tem acompanhado esse acréscimo.



<< Notícia Anterior Próxima Notícia >>

Buscar

Newsletter diária

Receba nossos relatórios diários e gratuitos


Loja