• Domingo, 28 de abril de 2024
  • Receba nossos relatórios diários e gratuitos
Scot Consultoria

Marcus Antonio Zanetti comenta sobre o papel dos minerais na nutrição de bovinos de corte


Segunda-feira, 21 de janeiro de 2013 - 09h39

Marcus Antonio Zanetti é médico veterinário formado pela FMVZ/USP, mestre em nutrição animal e doutor em alimentos. Possui pós-doutorado pela Universidade da Flórida em minerais. É professor titular da FZEA/USP.


 


Scot Consultoria: Quais são as principais deficiências minerais que acometem os bovinos de corte? Elas diferem se o bovino é engordado no pasto ou no confinamento?


Marcus Antonio Zanetti: Os dois principais minerais cujas deficiências são as que mais afetam os bovinos de corte são o sódio e o fósforo. O sódio pode ser facilmente suprido caso se forneça um suplemento mineral, ou até mesmo o sal comum (sal branco). O fósforo é muito mais importante que o sódio, já que, além de participar do metabolismo energético do animal, é constituinte dos ossos e principalmente das proteínas, ou seja, sem fósforo não há crescimento.


Outro ponto importante é que, além do fósforo ser o elemento mais caro dentre os que compõem o suplemento mineral, pode haver variações significativas na sua qualidade. Há outros elementos que também causam deficiências importantes, dependendo da região, como o iodo, zinco e o cobre.


É importante ressaltar que as deficiências minerais diferem se os bovinos são engordados a pasto ou em confinamento. As pastagens, em sua grande maioria, são deficientes em fósforo e ricas em cálcio. Já no confinamento ocorre o inverso. As dietas constituídas de farelos são ricas em fósforo e pobres em cálcio. Outra diferença importante é que, em pastagens, os bovinos não apresentam deficiência de potássio, um mineral que deve ser ingerido diariamente, e, no confinamento, com o uso em maior volume de concentrado e diminuição do volumoso, tornou-se comum esta deficiência.


 


Scot Consultoria: Qual a recomendação mais frequente de uso da ureia na dieta bovina? A intoxicação por este produto ainda é um problema comum? Quais as medidas o produtor pode tomar para evitar este problema?


Marcus Antonio Zanetti: A recomendação para o uso da ureia na dieta bovina objetiva suprir a falta de nitrogênio solúvel no rúmen e baratear o custo da alimentação. Atualmente sabe-se que o uso da ureia é importante e necessário em quase todos os tipos de ração, uma vez que alguns microrganismos do rúmen não utilizam proteína, somente amônia (a ureia é rapidamente transformada no rúmen em amônia).


Para estes microrganismos, caso seja fornecida somente proteína verdadeira, ela terá que ser degradada até amônia para ser utilizada, com grande gasto de energia. Os microrganismos que digerem a celulose da pastagem utilizam a amônia, por isso é de grande importância fornecer ureia na época da seca, quando o nível de proteína da pastagem geralmente está baixo, com pouco nitrogênio solúvel. Por outro lado, quando fornecemos ureia, o ideal é que haja energia de fácil utilização.


Como na época da seca a energia da pastagem (celulose) é de difícil utilização, a solução é fornecer a energia ou reduzir a quantidade de ureia oferecida. Mesmo em pequena quantidade, a ureia aumenta o número de microrganismos no rúmen, que, por sua vez, aumentam a digestão do capim, melhorando o desempenho animal.


O grande problema do uso da ureia é o risco de intoxicação e uma das formas de combatê-lo é utilizar a amineia, que é a combinação da ureia com amido. O produto diminui o risco de intoxicação através da liberação mais lenta da amônia. Existem produtos no mercado que funcionam da mesma forma, mas o problema é o custo alto. Como afirmo acima, para a ureia ser utilizada de maneira eficiente há a necessidade de energia de fácil digestão, como açúcar (melaço) ou amido (de milho, sorgo, entre outros).


Outro ponto importante é a adaptação à ureia. As doses devem ser crescentes, de preferência semanais, concluindo a adaptação em três ou quatro semanas. Esta fase é importante não somente para os microrganismos do rúmen, mas também para o fígado do animal. Um ponto crucial para evitar os problemas de intoxicação pela ureia é o treinamento do pessoal. Infelizmente, a maioria dos pecuaristas não dispõe de pessoal qualificado. Qualquer descuido, por menor que seja, pode ser fatal.


Por fim, se houver intoxicação, a forma de tratamento mais fácil para o produtor é o fornecimento, por via oral, de um ácido fraco, como o ácido acético a 5,0% ou mesmo o vinagre, que é de fácil obtenção. Este ácido, além de inativar a amônia no rúmen, impede sua absorção. A desvantagem é que o produto não age na amônia que já foi para a circulação, por isso, a rapidez do tratamento é de fundamental importância.


 


Scot Consultoria: O senhor acredita que a suplementação mineral, em bovinos de corte, apesar das campanhas de venda em massa, é negligenciada? Qual o tamanho do potencial brasileiro para o consumo de suplementos?


Marcus Antonio Zanetti: Infelizmente ainda temos muitas falhas na suplementação mineral em bovinos de corte no Brasil. Diversos fatores contribuem para isso, como a falta de suplementação, o fornecimento apenas do sal branco, a má formulação dos suplementos, produtos não adequados à região, diluições efetuadas na fazenda de forma incorreta, entre outros. 


O potencial brasileiro para o consumo de suplementos minerais ainda é muito grande. Se considerarmos o rebanho e a produção de suplementos minerais atuais, há um consumo médio de 26 gramas de suplemento por animal/dia, havendo potencial para que, pelo menos, esta quantidade seja dobrada.



<< Notícia Anterior Próxima Notícia >>

Buscar

Newsletter diária

Receba nossos relatórios diários e gratuitos


Loja