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Scot Consultoria

José Bento Sterman Ferraz comenta sobre genética bovina e melhoramento animal


Segunda-feira, 14 de janeiro de 2013 - 09h23

José Bento Sterman Ferraz é médico veterinário, professor titular de genética e melhoramento animal da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo (FZEA/USP) e líder do Grupo de Melhoramento Animal e Biotecnologia (GMA/USP).


Scot Consultoria: Até que ponto a genética de bovinos favorece um bom acabamento de carcaça e, por conseguinte, uma carne com maior qualidade?


José Bento Sterman Ferraz: Os bovinos indianos (Bos indicus), responsáveis por cerca de 85% do abate brasileiro, são de uma subespécie diferente dos bovinos taurinos (Bos taurus). Sua carne tem, em geral, menos gordura de cobertura e pouca gordura entremeada nas fibras, a gordura de marmoreio. Além disso, a fisiologia do animal é diferente e isso resulta em uma carne menos macia, em geral.


No entanto essa não é a principal causa da qualidade diferente da carne zebuína. Mais de 90% dos animais abatidos no Brasil são terminados a pasto, com maior idade e sem a alimentação ideal e isso sim, aliado a manejos pré abate inadequados, problemas de resfriamento rápido da carcaça e processamento da carne a tornam menos macia.


E a maioria dos machos chega ao abate inteiros, mais um fator que diminui a qualidade da carne. A solução desse problema, com consequente oferecimento de carne de melhor qualidade e com regularidade aos mercados doméstico e internacional passa por um conjunto de soluções dentro da porteira, no transporte e na indústria. A genética é apenas um dos pontos que podem ajudar, e muito, nesse processo. Mas de nada adiantará investirmos em genética de animais que produzem carne mais macia, o que está cada vez mais fácil com o uso de marcadores de DNA, se as boas práticas de manejo, alimentação transporte, abate e industrialização não se verificarem, de fato.


 


Scot Consultoria: Qual a melhor idade para a seleção de matrizes de corte? Existe uma idade ideal? Por quê?


José Bento Sterman Ferraz: Esse é um ponto de discussão que tem várias faces e pode ser polêmico. Quem paga as contas do pecuarista é o ganho genético anual que o rebanho apresenta e, para isso, o criador deve estar atento à aquisição de material genético da melhor procedência e qualidade (essa medida em DEP) possível, sempre.


Além disso, o ganho genético anual tem, em seu cálculo, a idade dos animais ou o intervalo de gerações, no denominador. Manter fêmeas velhas ou demorar mais tempo para escolhê-las é aumentar esse intervalo. A média de idade das vacas de um bom programa não ultrapassa os 6 anos de vida.


 


Scot Consultoria: Quais são as tecnologias mais utilizadas para a reprodução de bovinos? Quais as que estão em desuso?


José Bento Sterman Ferraz: A reprodução de bovinos é a parte mais importante da produção pecuária. O importante na propriedade pecuária é utilizar o melhor material genético possível e garantir que a eficiência reprodutiva seja máxima. Dificilmente uma propriedade rural poderá ser rentável com taxas de desmama menores que 85% (em relação ao número de vacas) e/ou mortalidade de bezerros maiores que 2,5 a 3%.


Mas pouco adianta termos taxas de desmama maiores que 85% (que já significam que as boas práticas de manejo e alimentação estão em uso) mas a qualidade genética de vacas e touros ser ruim. Ai existe um grande desperdício. O uso de touros de ótima qualidade, seja em monta natural, seja em IA ou IATF, é absolutamente essencial. Quem acha que economiza comprando touros sem avaliação, cabeceira de boiada está, na realidade, mantendo em seu rebanho uma genética inferior, menos produtiva e menos lucrativa.


Mas para existirem bons índices reprodutivos, é necessário um programa adequado de alimentação e nutrição. Pecuaristas estão descobrindo que, ao reformar suas pastagens, seus índices reprodutivos e produtivos crescem muito e suas propriedades apresentam maior rentabilidade, retornando rapidamente o investimento em reforma e alimentação.


Mas reforço um ponto: um bezerro nascido de monta natural, IA, IATF ou transferência de embriões não vale pela técnica reprodutiva, mas sim pela qualidade de sua genética.


 


Scot Consultoria: O Brasil despontou no uso do mestiço Girolando para produção leiteira. Existe, algum outro cruzamento promissor que será o "girolando do futuro" mas para a pecuária de corte?


José Bento Sterman Ferraz: O cruzamento bem sucedido do Girolando resultou em um animal que produz leite a pasto e se adaptou relativamente bem ao ambiente tropical. Mas animais mais produtivos são mais exigentes.


O cruzamento é uma técnica de aumento de produtividade e rentabilidade que dá muito certo se, e somente se, os aspectos de alimentação, nutrição, manejo, instalações, mão de obra e saúde estiverem bem resolvidos. Animais mais produtivos são mais exigentes e sempre menos resistentes e adaptados, por melhor que sejam.


Não existe melhor combinação de raça. Existem bons e maus cruzamentos. O melhor cruzamento é aquele que une animais de alto valor genético com boas combinações raciais. O conceito de compostos, utilizado em milho, sorgo, aves e suínos já está disponível no Brasil há quase 20 anos, com dois programas bem sucedidos, ainda que mal compreendidos: O Montana Tropical e o Red Norte. O gado é muito produtivo, bem adaptado, mas exige um pecuarista preparado. Existem programas e propriedades muito satisfeitas com Brangus, Braford, Santa Gertrudes, Canchim, entre outros. Em pecuária leiteira existem casos de sucesso com vários cruzamentos. Cada caso é um caso.



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