Tensões comerciais com os EUA, choque de oferta na África e demanda interna fraca redirecionam a importação chinesa para óleo e fortalecem o Brasil.
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A China é um dos maiores (a depender do ano, o maior) importadores de commodities agrícolas do mundo, tendo importado US$ 200 bilhões em 2024, segundo dados do FAS USDA (sigla em inglês para o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos).
A demanda chinesa é relevante em diferentes mercados agrícolas e, em muitos casos, não há compradores com o mesmo volume de demanda para substituí-la.
E, em relação ao mercado do amendoim, o que houve?
A China importou o menor volume de amendoim em grão em cinco anos, de janeiro a agosto. Segundo dados da autoridade alfandegária chinesa (General Administration of Customs of the People’s Republic of China - GACC), a importação de amendoim em grão no período foi de 140 mil toneladas, queda de 73,8% em relação ao mesmo período de 2024, quando a importação fora de 534,5 mil toneladas (figura 1).
Figura 1.
Importação chinesa de amendoim em grão, por mês e ano.
Fonte: General Administration of Customs of the People’s Republic of China/ Elaboração: Scot Consultoria
A menor importação foi causada pela redução da oferta dos principais fornecedores na África, sendo estes o Sudão e o Senegal.
A safra no Senegal quebrou na temporada 2024/2025, devido à falta de chuvas no segundo semestre de 2024 e à redução de área cultivada, que resultaram em perdas de 54% na produção em relação à safra anterior. Essa redução fez com que as autoridades senegalesas restringissem a exportação até o segundo trimestre de 2025.
No Sudão, a redução da exportação para a China resultou de problemas logísticos e de redução na produção devido à guerra civil que o país enfrenta desde 2023. A guerra travou o corredor de escoamento e afetou o Port Sudan, que sofreu ataques de drones em maio de 2025, com danos às instalações portuárias, energia e combustíveis, gerando blecautes e perturbações de navegação. Mesmo quando o porto opera, faltam janelas confiáveis, o acesso terrestre é restrito, há escassez de combustível e processos de liberação tornam o fluxo lento e caro (FAS/USDA).
Esse cenário reduziu a capacidade de dois dos maiores fornecedores de amendoim em grão para a China, especialmente no primeiro semestre de 2025.
A esse cenário se somou uma boa produção interna na China e uma demanda mais fraca para consumo in natura. A produção foi estimada em 18,4 milhões de toneladas na safra 2024/2025 (USDA), com projeção de aumento para 18,8 milhões de toneladas na temporada 2025/2026.
Desta forma, com uma demanda interna menor e uma produção maior, a importação diminuiu.
Para o óleo de amendoim, entretanto, esse mesmo cenário levou a um aumento na demanda.
Como houve diminuiu o fornecimento de amendoim em grão que normalmente seria destinado à indústria chinesa, a alternativa para suprir a demanda foi a compra do óleo de amendoim.
Segundo dados da GACC, a China importou, de janeiro a agosto, 254,3 mil toneladas de óleo, aumento de 40,3% em relação ao mesmo período de 2024 (figura 2).
Figura 2.
Importação chinesa de óleo de amendoim.
Fonte: General Administration of Customs of the People’s Republic of China/ Elaboração: Scot Consultoria
As tarifas impostas pelos Estados Unidos têm afetado o comércio entre China e Estados Unidos. No caso das commodities agrícolas. No caso mais notório, o da soja, a China, que até então importava cerca de US$12 bilhões entre setembro/outubro para entrega no quarto trimestre do ano, deixou de comprar a soja estadunidense para ampliar as compras especialmente do Brasil e da Argentina.
No amendoim, o cenário tem sido parecido, com a China reduzindo as compras tanto de amendoim em grão estadunidense quanto do óleo. Veja nas figuras 3, 4, 5 e 6. Esse cenário tem favorecido a exportação de amendoim brasileiro para a China, em grão e em óleo (figuras 4 e 6).
Figura 3.
Importação chinesa de amendoim em grão dos Estados Unidos, de 2020 a 2025.
Fonte: General Administration of Customs of the People’s Republic of China/ Elaboração: Scot Consultoria
Figura 4.
Importação chinesa de amendoim em grão dos Estados Unidos versus Brasil, de janeiro a agosto de 2025.
Fonte: General Administration of Customs of the People’s Republic of China, Secretaria de Comércio Exterior/ Elaboração: Scot Consultoria
Enquanto as importações chinesas de amendoim oriundo dos Estados Unidos caíram, no acumulado de janeiro a agosto, de 69,4 mil toneladas em 2024 para 35,7 mil toneladas em 2025 (Figura 4), o que representa uma queda de 48,6%, a importação de amendoim em grão oriundo do Brasil aumentou.
Em 2025, o Brasil exportou para a China 37,8 mil toneladas de amendoim em grão, aumento de 6.000% em relação a 2024, que foram de 0,6 mil toneladas, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
Para o óleo de amendoim, o cenário foi similar, embora não tão expressivo quanto o do grão, visto que a China já importava maiores quantidades de óleo de amendoim brasileiro.
Figura 5.
Importação chinesa de óleo de amendoim em grão dos Estados Unidos, de 2020 a 2025.
Fonte: General Administration of Customs of the People’s Republic of China/ Elaboração: Scot Consultoria
Observa-se uma queda na exportação de óleo de amendoim dos Estados Unidos para a China a partir de abril de 2022 e, nos anos subsequentes (figura 5).
O Brasil, de janeiro a agosto, exportou 95,7 mil toneladas de óleo de amendoim para a China (figura 6).
Esse número representa um aumento de 347,3% quando em comparação com o mesmo período do ano passado, que foram de 21,4 mil toneladas.
Figura 6.
Importação chinesa de óleo de amendoim dos Estados Unidos versus Brasil, de janeiro a agosto de 2025.
Fonte: General Administration of Customs of the People’s Republic of China, Secretaria de Comércio Exterior/ Elaboração: Scot Consultoria
É nítido que o Brasil tem estreitado laços comerciais com a China. No caso do amendoim, o Brasil deverá expandir a venda.
Porém, no curto prazo é esperado um cenário moderado de exportação, e preços menos atrativos, à medida que a colheita Chinesa avança para até o final de novembro e há maior disponibilidade interna de amendoim.
São esperados maiores volumes de exportação a partir de abril de 2026, quando a demanda Chinesa é sazonalmente maior.
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