Foto: Bela Magrela
Segundo a pesquisa-expedicionária da Scot Consultoria, o Confina Brasil, o confinamento de bovinos no Brasil cresceu em 2024, em relação a 2023 e trouxe, principalmente no segundo semestre, boas margens ao confinador.
Para 2025, a expectativa apontada pelos confinamentos visitados até setembro de 2024, era de manutenção a aumento na quantidade de cabeças confinadas, principalmente nos estabelecimentos de maior porte.
Entre abril e maio, com o outono e avanço do período seco, acontece o primeiro giro de confinamento, visando a terminação em julho e agosto.
Mas, de lá para cá, muita coisa mudou. No mercado de reposição, o preço do boi magro, que pode representar até 70,0% dos custos do sistema, subiu 30,1% entre outubro de 2024 e março de 2025, enquanto o preço do boi gordo, no mesmo período, subiu 15,6%.
Do lado da alimentação, o milho, principal alimento energético que compõe as dietas nos confinamentos, também passou por forte alta no período, tendo, na praça de Campinas-SP, subido 29,5% no intervalo analisado.
Com a alta do milho, o preço de outros insumos usados na atividade também subiu - farelo de algodão, polpa cítrica e o DDG.
Além disso, com a taxa básica de juros no Brasil, a taxa Selic, em 14,25% ao ano, e ativos de renda fixa de menor risco entregando até 1,0% ao mês, confinar está atraente neste primeiro giro?
Pensando nisso, estimamos o retorno do confinamento, em São Paulo, e comparamos a rentabilidade mensal com o retorno de investimentos de menor risco - atrelados à renda fixa.
Através da simulação de um sistema de engorda em confinamento, com a entrada da boiada no começo de abril, com duração de 90 dias de confinamento, ganho de peso diário de 1,6 quilo e um rendimento de carcaça de 56%, projetamos o resultado da atividade.
Foi considerada uma diária de R$19,85/cabeça, considerando o índice de custos de bovinos confinados (ICBC) da Esalq/USP e o preço de aquisição do boi magro em R$4,2 mil por cabeça (Scot Consultoria).
A venda ocorrerá em meados de julho. Considerou-se a cotação do contrato futuro de boi gordo na B3, com vencimento em julho/25. A cotação estava em R$325,00/@, no fechamento de 21/3/2025.
Confira, na tabela 1, os parâmetros adotados e a estimativa do resultado por bovino confinado no primeiro giro em 2025.
Tabela 1.
Estimativa de resultado econômico da engorda de bovinos no primeiro giro de confinamento em São Paulo em 2025.
Entrada no cocho | 1/4/2025 |
Peso do boi magro (@) | 12,5 |
---|---|
Peso do boi magro (kg) | 375 |
Preço do boi magro (R$/cabeça) | R$4.206,25 |
Preço do boi magro (R$/@) | R$336,50 |
Custo da diária (R$) | R$19,85 |
Ganho de PV diário (kg) | 1,6 |
Dias de cocho | 90 |
Custo total | R$5.992,75 |
Peso de saída (kg) | 519 |
Rendimento de carcaça | 56,0% |
Peso de carcaça (kg) | 290,64 |
Arrobas de carcaça | 19,4 |
Ganho de carcaça (kg) | 1,15 |
Custo arroba total | R$ 309,29 |
Arrobas ganhas no cocho | 6,88 |
Custo da arroba engordada | R$259,82 |
Saída do cocho (90d + 1d) | 1/7/2025 |
Preço da arroba em SP (R$ - B3*) | R$325,00 |
Diferencial | |
Preço de venda por arroba | R$325,00 |
Receita (R$) | R$6.297,20 |
Lucro/cabeça | R$304,45 |
Rentabilidade operação (%) | 5,1% |
Rentabilidade mensal (%) | 1,7% |
*fechamento de contrato futuro em 21/3/25.
Fonte: Scot Consultoria
Consideramos um bom resultado frente aos últimos quatro anos - veja na figura 1 o resultado dos últimos quatro ciclos, a partir de dados realizados.
Figura 1.
Estimativa* de resultado econômico da engorda de bovinos no primeiro giro de confinamento em São Paulo, em 2023, 2024 e 2025.
*para 2023 e 2024, considerando os dados do mercado físico e estimativa de custos para o período, sem a realização de nenhuma estratégia de hedge.
Fonte: Scot Consultoria
Em 2025, mesmo com o aumento expressivo dos custos de produção, estimamos, para o primeiro ciclo, um lucro de R$304,45 por cabeça. O retorno está levando em consideração a gestão de risco, através da realização de uma operação de seguro de preços mínimos, seja via mercado futuro ou de opções.
Ressaltamos que os resultados projetados podem ser melhores ou piores, principalmente relacionado à estratégia de aquisição para a reposição e insumos, além do uso de ferramentas de trava de preços, que podem garantir margens melhores, uma vez que os custos de produção estão estabelecidos.
Em meio a uma atividade de margens apertadas, a gestão dos riscos é fundamental para garantir resultados positivos.
Os resultados apresentados referem-se ao boi gordo sem ágio para exportação.
A operação, considerando o lucro por cabeça e o custo total da operação, apresenta rentabilidade de 5,1%. Considerando o intervalo de 90 dias - três meses -, o retorno mensal do investimento, em São Paulo, é de 1,7% ao mês.
Considerando que o confinamento é uma atividade de maior risco e que o custo oportunidade no Brasil neste momento, vale o investimento?
O Banco Central elevou, em março, a taxa básica de juros do Brasil - a Selic -, na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que passou de 13,25% a.a. para 14,25% a.a.
Com isso, o Certificado de Depósito Interbancário (CDI), taxa de juros indexadora da maior parte de investimentos em renda fixa no país, passou a 14,15% a.a., ou seja, 1,18% a.m.
Com um retorno de 1,7% ao mês para o confinamento em São Paulo, os investimentos em renda fixa mais tradicionais precisariam pagar 144,0% do CDI para compensar o retorno da atividade - retorno, neste momento, não disponível em instituições financeiras, com retornos máximos de até 120,0% do CDI disponíveis (1,4% a.m.).
Também estimamos o retorno para a operação no primeiro giro em outros estados.
O preço do boi magro considerou a referência de acordo com levantamento da Scot Consultoria. Para a referência do boi gordo nas demais praças, consideramos o diferencial de base (diferença percentual do preço do boi gordo na praça balizadora de São Paulo, em relação às demais praças) dos últimos dez anos para o mês de saída e o aplicamos ao preço apresentado no mercado futuro.
Consideramos o rendimento médio de carcaça apresentado pela pesquisa expedicionária Confina Brasil em 2024, organizada pela Scot Consultoria.
Para os custos, consideramos os dados da diária coletados pela pesquisa-expedicionária Confina Brasil em setembro de 2024 e a variação do índice de custos de produção de bovinos (ICBC/Esalq/USP).
A partir dessas informações, estimamos as rentabilidades mensais (%) em outros estados.
Figura 2.
Estimativa de retorno mensal (%) para o primeiro giro de confinamento em diferentes estados e comparativo com o retorno de 100% do CDI (em laranja).
Fonte: Scot Consultoria
A partir dos dados apresentados, apenas a atividade do primeiro giro em São Paulo e no Tocantins batem um retorno de 100,0% do CDI.
Isso quer dizer que confinar neste primeiro giro não será uma boa opção? Se você for um investidor e quiser alocar seu recurso dentro do agronegócio para elevar seu patrimônio, sim.
Porém, se você for um pecuarista e o sistema de confinamento tratar-se de uma oportunidade e ferramenta para otimizar as operações, o sistema pode e deve sim ser considerado - adequando-se, é claro, dentro da realidade da propriedade, seu caixa e do planejamento forrageiro e da atividade, realizado no início do ano.
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