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Carta Conjuntura - A importância da participação do agro sustentável brasileiro nas discussões internacionais


Segunda-feira, 14 de novembro de 2022 - 11h00

Foto: Shutterstock


Artigo originalmente publicado na revista VIDI - Economia Sustentável.


A maioria das pessoas que acompanha as discussões sobre meio ambiente conhece as Conferências Mundiais do Clima, as famosas COPs, que acontecem anualmente e definem metas de redução de emissões de gases de efeito estufa para os países membros. 


O que poucas pessoas sabem é que as propostas, textos base e discussões que são finalizadas nas COPs, são elaboradas e debatidas ao longo do ano, em diversas reuniões técnicas que precedem a Conferência. Essas reuniões prévias são extremamente importantes, porque nelas são apresentados dados e elencadas as premissas sobre quais as discussões e propostas serão construídas. Se a premissa, que é o conceito ou o dado básico de determinado tema, estiver equivocada ou imprecisa, todo o resultado será comprometido. 


Estive em um desses eventos preparatórios para a COP, o Global Stocketake (GST) em Bonn, na Alemanha. O objetivo do GST é fazer um balanço da implementação do Acordo de Paris e avaliar medidas de compensação e de mitigação das mudanças climáticas em cada país, buscando trocar experiências e colaborações. Seria uma grande oportunidade para mostrarmos como o agro brasileiro, com suas tecnologias tropicais inéditas como plantio direto, sistemas de integração, fixação de nitrogênio no solo, uso de bioinsumos, eficiência energética e tantas outras medidas conservacionistas, tem colaborado com a redução das emissões e inovado nos sistemas de produção de alimentos, mas não aconteceu. 


Nossos representantes do Itamaraty fizeram brilhantemente a sua parte falando de diversas medidas tomadas pelo Brasil na esfera industrial e do protagonismo brasileiro na colaboração de construção dos acordos, participando ativamente da maioria deles. No entanto, o agro não estava lá. Nenhuma instituição ou representante do setor. 


Eu representava o Instituto Ação Verde, pelo qual fui contratada para apresentar uma plataforma brasileira que segue os protocolos internacionais de registro de créditos de carbono e outros serviços ambientais. Embora os mantenedores dessa organização sejam a Aprosoja/MT, a FIEMT e o Sindalcool, eu não tinha mandato para falar em nome do agro brasileiro. Apesar disso, houve um momento em que a representante do IPCC, que é o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU e que subsidia com dados científicos as discussões sobre o tema, começou a sua exposição baseada na seguinte “verdade”: o AFOLU, que é o setor da agricultura, silvicultura e outros usos da terra, é emissor de gases de efeito estufa e eu, que não representava o agro naquela ocasião, pedi a palavra e contradisse a “verdade” do IPCC, dizendo que no Brasil não somos emissores, a nossa produção é diferente, que temos muitas formas sustentáveis de produção e que temos obrigações legais de conservação de vegetação nativa que outros países não tem. Acabei me empolgando e falando também que a Europa, ao invés de propor taxar produtos poluentes que entram em território europeu deveriam trazer suas indústrias e tecnologias para o Brasil onde o impacto ambiental é menor. Enfim, pedi que meu registro sobre a agropecuária brasileira constasse do relatório final da nossa sala de discussões, o que acabou ocorrendo. Para constar, o representante do Uruguai e do Paraguai que falaram depois acabaram fortalecendo o discurso de que a produção no Hemisfério Sul precisa ser avaliada com outros critérios. 


O resultado prático desta intervenção, de alguém que estava lá por outro motivo, mas que conhece o potencial do agro na guerra contra as mudanças climáticas, apareceu algumas semanas depois em uma missão oficial brasileira de diversas entidades a Bonn, onde a mesma representante do IPCC veio até a delegação explicar que estavam sendo construídos novos indicadores para a avaliação de emissões do setor AFOLU. Imaginem se o setor se organizasse e colocasse em todas as discussões internacionais sobre o tema um representante com direito à manifestação?



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