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Scot Consultoria

Carta Boi - A evolução do peso de abate de bovinos


Quarta-feira, 5 de maio de 2021 - 10h30


Introdução 

A produção de carne bovina brasileira tem passado por muitas transformações nos últimos anos. Parte dessa evolução está ligada à pressão para uma produção mais sustentável e produtiva e devido às exigências internacionais que determinam a qualidade do produto que importam. 


Sistemas de produção como semiconfinamento e confinamento, além de integrações de diferentes atividades, como integração lavoura-pecuária (ILP), integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), entre outras, ganham espaço na pecuária brasileira com a promessa de maior produção e sustentabilidade. 


A China tem influenciado a produção de carne brasileira. Desde 2018, é a maior importadora de carne bovina in natura do Brasil com volumes crescentes deste então. Em 2020, sua participação foi superior a 50% do volume exportado (868,7 mil toneladas), equivalente a 54,2% do faturamento referente a carne bovina fresca (4,04 bilhões de dólares), sem considerar Hong Kong, território autônomo localizado no Sudeste da China (Secex). 


Vários fatores têm contribuído para a produção de uma carne de melhor qualidade em um menor tempo de produção. Na figura 1 está ilustrado como a precocidade da terminação tem avançado no estado do Mato Grosso, que detém o maior rebanho bovino brasileiro.


Figura 1. Participação por faixa de idade nos abates de bovinos, em Mato Grosso.



Fonte: INDEA / Elaboração: Scot Consultoria.


De 2006 para 2020, aumentou em 900% o abate de bovinos com menos de 24 meses, enquanto a quantidade de boiadas com mais de 36 meses caiu pela metade. Naturalmente poderíamos pensar que, como os animais estão sendo abatidos precocemente, o peso ao abate estaria diminuindo, certo? 


Errado.


Na figura 2 está apresentado graficamente uma estimativa da média de peso de abate de bovinos. Para essa estimativa, foram considerados os dados do IBGE3 referentes aos pesos médios de carcaça e rendimento de carcaça de 50% para boi, 48% para vaca e 49% para novilhas (Jurca, 2014). 


Figura 2. Peso de abate de bovinos, em kg, nos últimos 20 anos.



Fonte: IBGE / Elaboração: Scot Consultoria.


Devemos fazer algumas considerações quanto aos valores adotados para o rendimento de carcaça. Uma vez que há diversos fatores que interferem nesse parâmetro, como raça, idade, condição sexual (castrado ou não castrado), tempo de jejum e manejo de transporte, entre outros, adotou-se uma média para cada categoria. As diferenças entres as categorias se devem ao sexo e idade. 


Machos possuem menor peso relativo de couro, de trato gastrintestinal, de gordura depositada sobre o púbis e do aparelho reprodutivo, "o que tende a resultar em um maior rendimento de carcaça em relação às fêmeas (Vaz et al., 2009)." Animais jovens, por sua vez, apresentam maior rendimento de carcaça devido ao maior acabamento de gordura em bovinos erados (Galvão et al., 1991).


Quanto à evolução dos pesos de abates (figura 2), em relação ao boi gordo, cujo peso médio em 2020 foi de 588,9 kg, o ganho foi de 85,7 kg maior em relação a 2000, uma variação de 17%. Em relação a vaca e novilha gordas, as médias dos pesos de abate em 2020 foram de 444,7 kg e 417,8 kg, respectivamente. Os ganhos foram de 59,2 kg e 57,2 kg, ou 15,4% e 15,9% maiores em 20 anos. 


Mas afinal, qual o principal fator que permitiu produção maior em menor tempo?

A maior parte da produção pecuária brasileira é realizada no sistema extensivo, onde a criação de bovinos se dá em grandes extensões de pasto. Nesse sistema, as boiadas perdem peso na seca e ganham no período chuvoso, alongando o período de terminação. 


Apesar do avanço em genética, nutrição, sanidade e manejo para maior produção em menor espaço de tempo, a maior adoção de suplementação em pasto, de produção semi-intensiva e intensiva, ou mesmo integração de culturas como a ILP e ILPF, merecem destaque. Desse modo, o cenário de “bois sanfonas” de ganho de peso nas águas e perda de peso na seca está ficando para trás.


Considerando os avanços dos sistemas de produção, há diferenças quanto ao desempenho animal em sistema extensivo (sem suplementação), extensivo (com suplementação), semiconfinamento e confinamento. 


Um boi pode ganhar cerca de 600g/animal/dia em pasto, no período das águas, quando há pasto em abundância. Com a suplementação de nutrientes, é possível ter um ganho adicional de cerca de 200g/animal/dia. Em contrapartida, no semiconfinamento, o ganho de peso pode ser de 900g/animal/dia e para confinamento, de 1,0 a 1,8 kg/animal/dia.


Há relatos de ganhos médios diários próximos aos obtidos com bovinos criados em semiconfinamento utilizando-se integrações de culturas, como o ILP e ILPF (Martins, 2018). 


Consideração final

No Brasil, os bovinos têm sido abatidos cada vez mais cedo e com um maior peso corpóreo. Em relação aos últimos 20 anos, houve um aumento de 17; 15,4; e 15,9% em relação ao boi, vaca e novilha gordos. 


Dentre os fatores que impulsionaram essa evolução, se destacam a adoção de sistemas racionais como a suplementação em pasto, semiconfinamento, confinamento e integrações de culturas.


Bibliografia


IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.


INDEA - Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso.


Galvão, J.G.; Fontes, C.A.A.; Pires, C.C.; Carneiro, L. H. D. M.; Queiroz, A. C.; PAULINO, M. F. Características e composição da carcaça de bovinos não castrados, abatidos em três estágios de maturidade (estudo II) de três grupos raciais. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, v.20, p.502-512, 1991.


Jurca, P. Rendimento de carcaça em frigoríficos do Brasil. Disponível em: https://www.scotconsultoria.com.br/noticias/artigos/37616/rendimento-de-carcaca-em-frigorificos-do-brasil-.htm. Acesso em: 16 de abril de 2021. 


Martins, D. L. Avaliação de sistemas integrados: ILP e ILPF. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Gradução em Zootecnia, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Diamantina, 53 p., 2018. 


Secex – Secretária de Comércio Exterior.


UFMG, 2011. Disponível em:  https://csr.ufmg.br/pecuaria/portfolio-item/semiconfinamento-e-confinamento/. Acesso em: 16 de abril de 2021.


Vaz, F.N.; Restle, J.; Arboitte, M.Z.; Pascoal, L.L.; Faturi, C.; Joner, G. Fatores relacionados aos rendimentos de carcaças de novilhos ou novilhas superjovens, terminados em pastagem cultivada. 2009. Disponível em: https://www.revistas.ufg.br/vet/article/view/6747/7610?journal=vet#:~:text=O%20menor%20rendimento%20de%20carca%C3%A7a,%25%20vs%202%2C11%25. Acesso em: 16 de abril de 2021. 



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