Se não houver mudança de plano econômico, como era frequente há algumas décadas, a arroba do boi gordo vai a R$300,00, o leite vai a R$5,00/l, a soja a R$200,00/saca e o milho a R$100,00/saca. Obviamente, a dúvida é saber “quando” isso acontecerá.
A inflação, a desvalorização do dinheiro, gera este efeito de rompimento da máxima anterior, em valores nominais. Abordamos este tema em 2018, analisando de quanto em quanto tempo as máximas históricas foram rompidas. Caso haja interesse a análise pode ser lida aqui: No longo prazo, o viés é de alta nominal, do boi ao refrigerante e ao tomate.
De tempos em tempos as cotações máximas nominais são superadas e as novas máximas também ficarão para trás. Foi o que ocorreu em 2019, e agora em 2020.
A figura 1 apresenta estes movimentos. Ela contempla os preços do boi gordo, em valores nominais, as máximas até o momento e o quanto a cotação está abaixo da máxima já registrada.
Figura 1. Preços nominais do boi gordo (R$/@), máximas anteriores e desvalorização frente à máxima observada.
Fonte: Scot Consultoria
Perceba que nos últimos meses, a linha da máxima e a dos preços se sobrepuseram, já que julho e agosto foram de máximas, considerando médias mensais.
A retenção de fêmeas, estimulada pelas cotações da reposição em alta, colabora com esse movimento de preços, mesmo com o consumo doméstico afetado pela crise. A associação de oferta curta às exportações fortes resultou na valorização observada.
A figura 2 mostra a distância entre a cotação no período e a máxima histórica, além da variação dos abates de fêmeas no mês, frente ao mesmo mês do ano anterior. No intervalo, quando as barras estiveram negativas (queda nos abates de fêmeas), a linha trabalhou mais perto de zero ou neste patamar, o que indica que, naquele mês, foi observada uma máxima.
Figura 2. Desvalorização frente à máxima observada e variação dos abates de fêmeas, em relação ao mesmo mês do ano anterior.
Fonte: Scot Consultoria / IBGE
No entanto, os preços futuros, apesar das altas recentes, não têm sido excepcionalmente bons, quando consideramos o cenário de custos, o que modula este aumento esperado da oferta de gado de confinamento.
Outro ponto a ser analisado é que o período de redução dos abates ainda é bem mais curto que nos momentos semelhantes anteriores, mesmo com a ressalva de que usamos dados oficiais até março.
O período de retenção ainda deve durar um tempo.
A taxa básica de juros nas mínimas históricas tende a levar dinheiro para a produção, uma vez que os investimentos de baixo risco, renda fixa e afins, estão pagando pouco.
Com isto, a tendência é de investimento na atividade pecuária, incluindo a retenção de fêmeas, que já tem sido observada. O investimento em rebanho e retenção, no entanto, têm um limitante, que é a própria área da fazenda.
Para uma ampliação expressiva, há duas saídas. Ampliação da área via arrendamento ou aquisição, ou investimento em insumos e intensificação.
O arrendamento de pastagens depende de disponibilidade e já foi mais comum. Já a aquisição demanda entrada de capital externo à atividade ou que esta compra seja de uma fração da área existente, pela capacidade de pagamento, em média, da pecuária. Em outras palavras, a ampliação horizontal dos sistemas deve ocorrer, mas em situações específicas.
Seja qual for o nível tecnológico do sistema, a via mais próxima para a intensificação é um maior uso de insumos, o que deve ser observado nos próximos anos.
Com as exportações e a China segurando, com louvor, as pontas da demanda, devemos ter bons volumes embarcados nos próximos meses. A própria sazonalidade é de exportações maiores no segundo semestre.
O final de ano colabora com o consumo doméstico, além da gradativa volta da movimentação de pessoas e negócios, mesmo com o cenário atual da economia.
Quanto à oferta de confinamento, a tendência é de aumento ao longo dos próximos meses, mas o boi magro e milho em alta ao longo de 2020 devem limitar o volume total de gado.
Em resumo, o cenário é positivo para os preços e parece haver espaço para valorizações, uma vez que ainda nem entramos no último trimestre.
Vale lembrar que as cotações não sobem indefinidamente (a linha amarela da figura 2 não fica na máxima sempre) e ir aproveitando um cenário de alta é mais lucrativo que tentar acertar o preço máximo do ano.
Receba nossos relatórios diários e gratuitos