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Scot Consultoria

Manejando e controlando plantas daninhas da pastagem - Parte 1


Sexta-feira, 28 de junho de 2024 - 06h00

Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação nas Faculdades REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC - Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda; Investidor nas atividades de pecuária de corte e de leite.


Foto: Shutterstock


Eu venho escrevendo textos com ênfase na necessidade do pecuarista "fazer o básico bem-feito" como fundamento para ele alcançar seus objetivos e metas, mas principalmente tornar a sua atividade competitiva economicamente. 

Mas, infelizmente, a maioria dos pecuaristas brasileiros não tem feito o básico bem-feito, e uma das consequências dessa atitude é ter suas pastagens infestadas por plantas nativas ou naturalizadas.

Plantas daninhas ou plantas infestantes são plantas indesejáveis em uma cultura específica. Esta definição é, até certo ponto, complexa devido à dinâmica e à complexidade dos sistemas agropastoris. Por exemplo, as plantas forrageiras são desejáveis no cultivo de pastagens, mas, em cultivos de grãos, canaviais, seringais, reflorestamentos etc., podem ser plantas indesejáveis e, portanto, classificadas como daninhas. Entretanto, mesmo em explorações pecuárias uma planta forrageira pode ser classificada como daninha por ser indesejável, como a presença de forrageiras do gênero Brachiaria sp em piquetes de gramas do gênero Cynodon sp (capins grama estrela, coastcross, tiftons etc.) para equinos ou em campos de produção de feno.

Estas plantas também conhecidas como ervas daninhas (termo aceitável tecnicamente), inços (termo regional na região Sul), juquira (termo regional na região Norte), capoeira (termo regional nas regiões Sudeste e Nordeste), e “pragas” (termo incorreto porque pragas são insetos, nematoides ...).

Basicamente as plantas daninhas são classificadas em:

a) Dicotiledôneas, ou fabáceas, ou latifoliadas ou de folhas largas: são plantas de folhas largas com hábitos de crescimento variados, desde porte herbáceo, passando por porte subarbustivo, arbustivo e arbóreo;

b) Monocotiledôneas, ou poáceas, ou gramíneas, popularmente conhecidas por capins: são as plantas de folhas estreitas.

As causas do aparecimento de plantas daninhas na pastagem são bem conhecidas, pois são as mesmas que causam a degradação da pastagem e do solo da pastagem. O papel das plantas daninhas como “indicadoras” da degradação de pastagens é tão evidente que alguns estudos têm tentado caracterizar os vários estádios de produtividade das pastagens com o percentual relativo da biomassa dessas plantas presentes na pastagem.

A saber: o plantio de espécies forrageiras não adaptadas às condições climáticas e dos solos da região; o estabelecimento incorreto da pastagem, com erros cometidos desde o preparo do solo, passando pela compra de sementes de baixo valor cultural, terminando com erros na semeadura; o manejo incorreto do pastoreio durante o seu estabelecimento e condução (com superpastejo ou subpastejo); a queima frequente; a falta de diversificação, que provoca o desenvolvimento rápido de pragas e doenças; o cultivo da pastagem em solos com baixa fertilidade natural ou em solos antes férteis, mais já esgotados. Todas essas causas, ao final, levam a uma diminuição do vigor da pastagem e à abertura de espaços que passam a ser ocupados pelas plantas daninhas.

As consequências da presença de plantas daninhas na pastagem também já são bem conhecidas. Essas plantas competem com a planta forrageira por fatores de crescimento: na parte aérea, competem por dióxido de carbono, luz solar e espaço; na parte subterrânea, competem por água e nutrientes minerais. Muitas plantas daninhas excretam substâncias alelopáticas que inibem ou impedem o crescimento da planta forrageira. As plantas daninhas de folha larga conferem menor proteção ao solo contra o impacto de chuvas e a radiação solar, contra o pisoteio de animais e de máquinas, devido aos seus hábitos de crescimento e morfologia de sistema radicular, favorecendo o adensamento e compactação do solo.

Em consequência desta competição, ocorre a seguinte sequência: redução, em média, de 55,0% na produção de forragem durante o estabelecimento da pastagem e entre 38,0 a 68,0% em pastagem já estabelecida. Mesmo em solos corrigidos e adubados, a presença de plantas daninhas reduz a resposta da pastagem à adubação.  A produção de forragem em pastagem sem a presença de plantas daninhas foi 21,0%, 57,0% e 66,0% mais alta que nas pastagens com baixo, médio e alto nível de infestação, respectivamente. Em consequência da redução na produção de forragem e pela impossibilidade de os animais colherem a forragem que está sob e dentro das moitas de plantas daninhas, principalmente quando estas possuem espinhos, a capacidade de suporte (unidades animais/hectare) cai significativamente.

O desempenho animal é reduzido por causa da menor qualidade de forragem (empobrecimento da composição química, queda da digestibilidade e redução de sua disponibilidade), causada pela competição da planta forrageira com as plantas daninhas pelos fatores de crescimento.

Em consequência das reduções na capacidade de suporte e no desempenho animal, ocorre redução da produtividade por hectare (arrobas/ha), com consequente redução na receita da atividade. Ao mesmo tempo em que a receita vai caindo ano a ano, os custos de produção vão aumentando na tentativa de controlar as plantas daninhas, com frequentes casos de insucessos e de frustrações na maioria das vezes por causa da falta de orientação técnica e consequente adoção de métodos de controle inadequados. Com o passar do tempo, o aumento da presença das plantas daninhas leva à desvalorização do preço da terra, acima de 50,0% do valor do patrimônio.

Ainda aparecem as consequências indiretas, tais como ferimento dos animais (olhos, boca, pele, úbere etc.) pela presença de plantas daninhas que possuem espinhos; intoxicação e morte de animais que consomem plantas tóxicas. Segundo Tokarnia et al (2012), quando o rebanho bovino brasileiro era formado por 160 milhões de animais, morreram 1,12 milhão de cabeças intoxicados por plantas daninhas tóxicas. Ainda ocorre aumento de ectoparasitos (berne, carrapato, moscas) que se abrigam na folhagem das plantas daninhas; e dificulta a colheita mecânica de forragem para conservação (ensilagem, fenação etc.).

Entre as plantas de folhas largas, as de controle mais difícil, são as que alcançam portes subarbustivos, arbustivos e arbóreos porque elas têm características morfofisiológicas que dificultam seu controle, tais como: folhas espessas, impregnadas por ceras e resinas; caules lenhosos (lignificados, duros) com casca suberizada (casca composta por um tecido morto, a suberina); e raízes muito desenvolvidas em diâmetro e em profundidade, com acúmulo de muitas reservas. Já as de porte herbáceo, tem seu controle facilitado porque não apresentam estas características.

Entre as plantas de folhas estreitas, ou seja, capins infestantes, as de controle mais difícil são as que produzem grandes quantidades de sementes, que mantem um alto banco de sementes no solo, com longevidade de sementes muito grande, sem perder a sua viabilidade para germinação mesmo depois de décadas; ainda são plantas pouco aceitas ou não aceitas pelos animais porque são muito fibrosas e ou secretam substâncias de baixa aceitabilidade pelos animais. 

No próximo artigo escreverei sobre o manejo e os métodos de controle de plantas daninhas da pastagem - aguarde. 


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