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Scot Consultoria

Pecuária de corte no Brasil: bem mais do que um copo meio cheio


Terça-feira, 11 de outubro de 2022 - 16h00

Engenheiro agrônomo, formado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo, com mestrado e doutorado pela mesma universidade. É pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste e especialista em nutrição animal com enfoque nos seguintes temas: exigência e eficiência na produção animal, qualidade de produtos animais e soluções tecnológicas para produção sustentável.


Foto: Shutterstock


Perto da Copa do Mundo de 2014, escrevi um texto sobre como deveríamos aproveitar a oportunidade dela ser no Brasil e promover nossa pecuária de corte. Ao final do texto, usei o formato de “Você sabia que?” com dados que mostravam como temos motivos para nos orgulharmos da nossa produção de carne bovina.


Nessa semana, por conta de uma palestra a ser feita para adolescentes, recuperei a publicação. Por falta de tempo, não consegui atualizar a tempo de usar no evento, mas aproveito para compartilhá-la nesse espaço. São os 15 itens abaixo, devidamente referenciados no Anexo.


Você sabia que:


1) O Brasil tem o maior rebanho comercial do mundo, mantendo-se nas últimas décadas como principal exportador de carne bovina, com mais de 16% do mercado mundial de carne bovina em 2021?


2) Essa exportação é feita com pouco mais de 1/4 da produção, sendo que o restante atende a demanda interna, com um consumo perto de 34 kg de carne/brasileiro, um dos maiores consumos per capita do mundo?


3) Mesmo com toda essa produção, o país mantém 66% de sua área como vegetação nativa?


4) A produção de carne dobrou nos últimos 30 anos, mas houve redução na área de pastagem, passando de 178 milhões de hectares, em 1996, para 150 milhões de hectares em 2017?


5) Mesmo com aumento de 17% na população bovina nos estados da Região Norte, o desmatamento da Amazônia caiu de cerca de 28 mil km2 (2004) para menos de 5 mil km2 (2012)?


6) A produtividade em quilogramas de carcaça por hectare aumentou quase 70% entre 2001 e 2021, o que explica a redução da área de pastagem, mesmo com o aumento de produção, e o desacoplamento do desmatamento com o aumento da exportação?


7) O Brasil é o único país no mundo a exigir dos seus produtores rurais áreas de reservas com florestas e que, assim, um produtor na Amazônia só pode usar, no máximo, 200 ha para produção a cada 1.000 ha de sua área?


8) A pecuária bovina brasileira é mais próxima ao natural já que, de cada 100 kg de carne, 98 kg são produzidos com base no consumo de forrageiras?


9) Por ser baseada em forragem, nossa pecuária evita a competição por alimentos passíveis de serem consumidos por humanos, ajudando a reduzir problemas de insegurança alimentar (falta de comida)?


10) Que a carne bovina produzida no Brasil é o alimento convencional mais parecido com seu congênere orgânico, como pode ser atestado pelas raras ocorrências de não conformidade pelos órgãos de alerta dos países exportadores e por nosso programa de controle de resíduos?


11) Que temos tecnologia nacional já disponível para mais do que dobrar a produção de carne e ainda reduzir bastante nosso rebanho?


12) A Integração Lavoura-Pecuária, por exemplo, permite aumentos de produção de 30 kg de carne/ha/ano para 450 kg de carne/ha/ano?


13) Valores, como estes mostrados no item anterior, melhoram muito o balanço dos gases de efeito estufa (GEE), reduzindo nossos índices de emissão, isto é, em quilogramas de GEE para cada quilograma de carne produzida?


14) Cerca de 90% das vendas de sementes de forrageiras cultivadas são de cultivares desenvolvidas por pesquisadores brasileiros, com as quais somos os maiores exportadores mundiais? 


15) Um dos frutos desse trabalho de melhoramento genético de forrageiras é a primeira cultivar híbrida de braquiária, a BRS Ipyporã, cuja digestibilidade na época da seca é semelhante ao da cultivar mais plantada, o Braquiarão, nas águas? Que a estimativa média de redução da intensidade de emissão (kg de metano/kg de ganho), entre o Ipyporã e o Braquiarão, seria de 30%?


Certamente, outros itens podem ser acrescidos à lista, o que será feito futuramente. Fica o encorajamento para que, todos que desejarem, contribuam à vontade para aumentá-la. O único pré-requisito é que, uma vez colocado em xeque, sejamos capazes de mostrar que a informação é sólida. Por isso, igualmente convido aqueles que discordem de qualquer um dos pontos, provando estar incorreto ou necessitando ajuste, avisem que serão prontamente reparados no que for preciso. 


Anexo - Fontes para os 15 itens: são listados os números sequenciais deles e de onde o dado foi retirado, podendo haver mais de uma fonte para cada item.


1, 2, 4, 6, 8 – Beef Report 2022, Perfil da Pecuária Brasileira (ABIEC). Disponível em https://www.abiec.com.br/publicacoes/beef-report-2022/  


3 – MAPBIOMAS: Infográfico disponível em: https://mapbiomas-br-site.s3.amazonaws.com/Infograficos/MBI-Infografico-7.0-BR-brasil-rev2.jpg


4 – CICARNE  https://www.cicarne.com.br/wp-content/uploads/2020/12/BoletimCiCarne33.pdf e INPE http://terrabrasilis.dpi.inpe.br/app/dashboard/deforestation/biomes/legal_amazon/rates


4 e 6 – Silva, Barioni e Moran: Fire, deforestation, and livestock: when the smoke clears.  Land Use Policy, Vol. 100, Janeiro, 2021. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0264837720302040?via%3Dihub


5 e 14 – Monitoramento tecnológico de cultivares de forrageiras no Brasil. Disponível em: https://www.embrapa.br/en/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1132821/monitoramento-tecnologico-de-cultivares-de-forrageiras-no-brasil


7 – Código Florestal. Disponível em: https://www.embrapa.br/codigo-florestal


8 – Barioni et al. Fitting Brazilian livestock production to changes in natural and political environments. In: 54a. Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2017, Foz do Iguaçu - PR. Anais da 54a. Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia. Foz do Iguaçu - PR: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2017. p. 146-163. Disponível em: https://www.alice.cnptia.embrapa.br/alice/bitstream/doc/1086430/1/PLFittingBarionietal.pdf


9 – Mottet et al. (2017): Livestock: On our plates or eating at our table? A new analysis of the feed/food debate, Global Food Security, Vol. 14, pp.  1-8. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.gfs.2017.01.001.


10 – Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/inspecao/produtos-animal/plano-de-nacional-de-controle-de-residuos-e-contaminantes/consolidado-resultados-pncrc-2021.pdf e RASFF (Rapid Alert System for Food and Feed). Disponível em: https://food.ec.europa.eu/safety/rasff-food-and-feed-safety-alerts_en#rasff-portal


11 - Chiari et al (2021) Optimization of land use and adoption of sustainable intensification. Capítulo 8 da publicação Land Saving Technologies 2021. Disponível em: https://sistemas.mre.gov.br/kitweb/datafiles/Berlim/de/file/00342_LandSavingTechnologies.pdf#page=141


12 e 13 – ILPF: inovação com integração de lavoura, pecuária e floresta (E-BOOK). Disponível em: https://www.embrapa.br/en/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1113064/ilpf-inovacao-com-integracao-de-lavoura-pecuaria-e-floresta


13 – Medeiros et al (2017) Mitigação da emissão de gases de efeito estufa em sistemas de produção animal em pastagens - Em busca da carne com emissão zero. In: 28º. Simpósio sobre Manejo de Pastagens, 2017, Piracicaba-SP. As Mudanças Climáticas e as Pastagens - Desafios e Oportunidades. Piracicaba-SP: FEALQ, 2017. p. 163-219.


15 – Documento 292. Disponível em: https://www.embrapa.br/en/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1135277/valor-nutritivo-estrutura-do-dossel-e-desempenho-animal-de-algumas-cultivares-de-panicum-maximum-e-brachiaria-spp-submetidas-a-diferentes-estrategias-de-manejo  e cálculos feitos com base em Medeiros et al (2014). Modeling enteric methane emission from beef cattle in Brazil: a proposed equation performed by principal component analysis and mixed modeling multiple regression. In: Livestock, Climate Change and Food Security Conference, 2014, Madri. Livestock, Climate Change and Food Security, 2014. p. 37-37.



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