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Scot Consultoria

Plantas daninhas em pastagens, espécies e sua biologia


Segunda-feira, 6 de janeiro de 2020 - 15h50

Engenheiro agrônomo e mestre em solos e nutrição de plantas pela ESALQ-USP. Com atuação profissional desde 1985 em pesquisa e desenvolvimento em sistemas de produção agrícola em empresas nacionais e multinacionais, trabalhou por 24 anos na geração dos principais herbicidas para pastagens hoje no mercado. Atualmente, é consultor independente, fundador da NTC ConsultAgro, focado no manejo da vegetação em pastagens, reflorestamentos e áreas não agrícolas.


Foto: Scot Consultoria


Diversidade marcante


O universo das plantas daninhas que infestam as pastagens brasileiras é de uma diversidade marcante. O IBGE em 2018 indicou que o Brasil possuía 158 milhões de hectares, distribuídos na extensão continental de nosso país, com 4400 km de norte a sul, outros tantos de leste a oeste, cobrindo três fusos horários continentais e cinco biomas distintos, com peculiaridades únicas. Nesse contexto, é de se imaginar a dificuldade que botânicos têm em catalogar tamanha quantidade de espécies que habitam esse vasto território, e de nós, especialistas no controle das invasoras das pastagens, em enfrentá-las.


Plantas daninhas: agricultura x pastagens


Uma comparação que gosto de fazer é entre as plantas daninhas presentes em agricultura com as que infestam as pastagens. Muitas espécies coexistem em ambos ambientes, porém se comportam de modo distinto, tanto relativo à susceptibilidade aos herbicidas, quanto ao poder competitivo que estas exercem nas plantas de interesse econômico.


Vejamos o exemplo das populares guanxumas. São diversas espécies do gênero Sida, onde ressaltamos: Sida glaziovii (guanxuma-branca), Sida rhombifolia (guanxuma ou vassourinha), Sida cordifolia (malva-branca), Sida santaremnensis (guanxuma), entre muitas outras. Estas espécies são comuns tanto em agricultura como em pastagens, porém nas lavouras estas surgem predominantemente de sementes, que germinam uma vez implantada a cultura após sucessivos manejos químicos, no caso do plantio direto, ou operações que movimentam o solo, no plantio tradicional. Já nas pastagens essas plantas são perenes, estando presentes na área de longa data, muitas vezes tendo sido roçadas mecanicamente por vários anos, com considerável sistema radicular estabelecido.


O comportamento dessas plantas frente aos herbicidas é completamente diferente. Originadas de sementes, seu controle é relativamente fácil, sendo manejadas com diferentes princípios ativos, em pré ou pós emergência, dependendo da cultura explorada economicamente. Nas pastagens essas plantas são basicamente controladas por tratamentos químicos de valor maior, comparativamente aos tratamentos de agricultura, e que tenham seletividade à gramínea forrageira, sendo sempre aplicados em pós emergente, ou seja, tanto plantas daninhas como as forrageiras possuem parte aérea.


Nas pastagens, essas invasoras possuem grande capacidade competitiva, dominando a cobertura vegetal, popularmente se diz que o capim fica “abafado pelo mato” e causam significativos prejuízos de produtividade. Já mencionamos em outros textos que uma pastagem livre de plantas daninhas pode ter sua capacidade de suporte duplicada ou triplicada quando comparada a uma área infestada.


Avançando ainda na diversidade de tipos de plantas daninhas que infestam as pastagens, podemos classificá-las por sua natureza, ou dificuldade de controle, como:


- Herbáceas ou semi-arbustivas: plantas de pequeno porte, normalmente de talos não muito lenhosos, de uma certa facilidade de controle químico. São as chamadas “pragas moles”. Distribuem-se por todo o Brasil, principalmente em reforma de pastagens, mas também em pastagens estabelecidas. São controladas por aplicação foliar de herbicidas de forma costal, tratorizada ou áerea.


Figura 1.
Exemplos de plantas herbáceas ou semi-arbustivas.Fonte: Próprio autor


- Herbáceas e arbustivas lenhosas e semi-lenhosas: plantas de porte intermediário, apresentando talos lenhosos e semi-lenhosos, apresentam maior dificuldade de controle. Distribuem-se por todo país em pastagens estabelecidas de longa data. Podem ser controladas em aplicações foliares de herbicidas, como no caso anterior, mas com tratamentos mais potentes, e consequentemente de maior valor.


Figura 2.
Exemplos de plantas herbáceas e arbustivas lenhosas e semi-lenhosas.
Fonte: Próprio autor


Lenhosas e arbóreas: plantas que possuem talo lenhoso, algumas formam árvores de vários metros de altura se não controladas ou roçadas, apresentam maior dificuldade de controle foliar que no caso anterior, das arbustivas e semi-lenhosas. São as chamadas “pragas duras”. Algumas só são controladas em aplicações foliares costais, pois aplicações em área total, com trator ou avião, apresentam dificuldades de controle. Muitas vezes tem que se utilizar aplicações no toco ou basal para controle de algumas espécies desse grupo.


Um bom conhecimento técnico é necessário para definição do melhor tratamento químico a ser indicado. Aparecem muito nos campos cerrados, Centro e Norte do Brasil, em pastagens estabelecidas com médio a alto grau de degradação.


Figura 3.
Exemplos de plantas lenhosas e arbóreas.
Fonte: Próprio autor


Palmáceas: plantas que infestam pastagens estabelecidas, principalmente das regiões Centro e Norte do país. São monocotiledôneas, normalmente controladas com aplicação de produtos a base de triclopir quando não possuem caule exposto, vindo de rebrotas após roçada. Algumas espécies possuem espinhos que dificultam o manejo do gado. Algumas espécies são chamadas popularmente por “pindobas”.


Figura 3.
Exemplos de plantas palmáceas.

Fonte: Próprio autor


Gramíneas infestantes: nos últimos anos esse tem sido um grande problema em boa parte das pastagens estabelecidas, em praticamente todas regiões do Brasil, com predominância de algumas espécies em biomas específicos. O grande problema nesse caso é que os herbicidas normalmente usados em pastagens são voltados para o controle de plantas de folhas largas, seletivos portanto para as gramíneas. Novos princípios ativos têm sido desenvolvidos para o combate dessas gramíneas invasoras das pastagens, principalmente do grupo das imidazolinonas.


O capim-navalha, capim-duro, navalhão ou santa-fé, alguns dos nomes regionais do Paspalum virgatum, é o mais distribuído pelo país e de maior potencial de dano. Já o capim-annone (Eragrostis plana) é mais restrito ao Sul do país e o rabo-de-burro (Andropogon bicornis) muito associado a solos pobres, de baixa fertilidade.


Figura 4.
Exemplos de gramíneas infestantes.


Conclusão


Bem, como dito inicialmente, o tema espécies de plantas daninhas que infestam pastagens é por demais amplo, e meu objetivo nesse texto foi apenas trazer à reflexão dos leitores alguns exemplos que seguramente preocupam os pecuaristas em suas atividades no setor.


Assim como são inúmeros os desafios, também são diversos os métodos de controle, produtos e doses utilizados, além da época correta de controle e manejo de cada uma. Na sequência de nossos artigos iremos abordar esses temas específicos, onde vamos desvendando o tema: plantas daninhas em pastagens.



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