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Política e nacionalismo: uma mistura explosiva

Além da produção estagnada, dívidas elevadas e crescentes, conjugadas com um aperto inédito de liquidez, têm afastado cada vez mais os investidores da Petrobras.


Quem não se lembra das fanfarronices petistas, em 2006, quando anunciaram que havíamos, finalmente, alcançado a tão sonhada autossuficiência em petróleo? Com as mãos sujas de óleo, o então presidente Lula da Silva chegou a bravatear que, em breve, o Brasil entraria para o cartel dos países produtores e exportadores de petróleo (Opep). Durante todo aquele ano, a Petrobras inundou a mídia com anúncios, alardeando não só sua enorme competência técnica (comparada a quem, mesmo?) como também a sonhada independência energética da nação. Propaganda enganosa, como ficaria claro mais adiante.

O tempo passou e a realidade cruel prevaleceu. O país continua dependente do exterior, não só em petróleo, mas principalmente em derivados. Há anos a produção brasileira vem andando de lado, enquanto o consumo não para de crescer. Segundo relatório da própria Petrobras, publicado recentemente, a produção de petróleo dos campos nacionais, no ano passado ficou, na média, em 1,93 milhão de barris por dia, 2,5% abaixo da produção de 2012. Só para se ter ideia, a conta petróleo fechou 2013 com um déficit superior a US$20,0 bilhões.

Além da produção estagnada, dívidas elevadas e crescentes, conjugadas com um aperto inédito de liquidez, têm afastado cada vez mais os investidores. Relatório recente do Bank of América apontou a petrolífera brasileira como a empresa mais endividada do mundo. No mesmo diapasão, a Bloomberg calculou que sua dívida líquida já representa três vezes a capacidade de geração de caixa (EBITDA). Trata-se de um patamar de endividamento desastroso, especialmente porque a empresa precisará ainda captar muitos recursos no mercado para bancar os altíssimos investimentos que terá pela frente nos campos do pré-sal.

Com números assim, não fosse a Petrobras uma instituição cujo sócio majoritário é o governo, digo, os contribuintes, o seu futuro seria, no mínimo, preocupante. Qualquer empresa privada, em situação semelhante, seria vista pelos investidores com imensa cautela, para não dizer com os dois pés atrás.

Mas, afinal, como é que a coisa chegou a esse ponto? É óbvio que estamos diante de uma série de fatores correlacionados e interligados, mas a fonte primária de todos os males da estatal está na ingerência política e no nacionalismo exacerbado abraçado pelos atuais ocupantes do poder. Exemplos recentes dessa mistura explosiva na gerência da companhia não faltam, a começar pelo congelamento do preço dos combustíveis, que afeta severamente o caixa, passando pela absurda imposição de metas cada vez mais ambiciosas, que encarecem e atrasam os investimentos, e terminando com a obrigatoriedade de participação de, no mínimo, 30,0% em todas as concessões do pré-sal, o que exigirá da petrolífera uma disponibilidade de capital que talvez ela não consiga obter, ao menos pelas vias normais de mercado.

Diz a boa técnica administrativa que decisões empresariais devem focar nos custos e benefícios que produzirão para seus acionistas. Quando quem manda são os políticos, entretanto, os custos se tornam irrelevantes, pois a grana é dos outros, enquanto os interesses quase sempre são conflitantes com os dos demais sócios. O resultado de tanta politicagem foi a transformação da Petrobras numa "empresa zumbi", cuja melhor solução seria a privatização. Mas como isso hoje parece politicamente inviável, os contribuintes que se preparem. 

Por João Luiz Mauad

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