O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) é parte do Departamento de Economia, Administração e Sociologia (DEAS) da Esalq/USP.
A alta no preço externo do milho e a maior demanda para exportação elevaram os valores do cereal nos portos brasileiros. Esse cenário, por sua vez, também deu sustentação aos valores em várias regiões do interior do Brasil. Além disso, produtores consultados pelo Cepea também estiveram retraídos, o que levou compradores a elevar os valores para atrair vendedores.
O Indicador ESALQ/BM&FBovespa (Campinas - SP) subiu 7,4% em outubro, fechando a R$33,38/saca de 60kg no último dia do mês (31). Se considerada a taxa de desconto NPR, também na região de Campinas, o preço médio à vista foi de R$32,20/sc de 60kg, reação de 5,6% no mesmo período. Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, os preços subiram 5,9% no mercado de balcão (ao produtor) e 6,5% no de lotes (negociação entre empresas).
Segundo pesquisadores do Cepea, desde início de outubro, muitos produtores brasileiros estavam segurando o produto o máximo possível. Após o pagamento das dívidas e das despesas de colheita da segunda safra, não houve tanta necessidade de "fazer caixa", apesar do avanço do cultivo da nova safra, que também gera despesas de curto prazo. Por outro lado, compradores passaram a ter maior necessidade de renovação de estoques. Indústrias internas também estiveram mais ativas e as exportações seguiram firmes. Pesquisadores indicam, ainda, que novos contratos foram efetivados para embarques nos próximos meses.
Em outubro, o Brasil exportou 3,66 milhões de toneladas de milho, um recorde mensal - dados da Secex. Esse volume é 16,3% superior ao de setembro/12 e 140,6% acima do de outubro/11. No ano (de janeiro a outubro), foram embarcadas 13,1 milhões de toneladas de milho, também um recorde para o período.
Enquanto nos 10 primeiros meses de 2011, o preço médio foi de US$286,24/t, em 2012, foi de US$269,08/t. Vale ressaltar, contudo, que o fator preço em dólar é que está favorecendo as aquisições de importadores. Apenas como parâmetro, a média dos primeiros vencimentos dos contratos da CME/CBOT (Bolsa de Chicago) em 2012 foi de US$270,95/t, próximo ao observado nos embarques brasileiros - em 2011, o primeiro vencimento da bolsa teve média de US$267,55/t.
A divulgação dos dados do USDA no dia 11, que apontou menores estoques de milho em nível mundial, também favoreceu altas de preços para o produto posto portos do Brasil. O USDA reduziu ainda mais as estimativas de produção de milho na União Europeia e nos Estados Unidos. Com isso, a produção mundial 2012/13 foi reduzida em 4,4%, agora estimada em 839,02 milhões de toneladas. A demanda mundial também foi reajustada para baixo, para 853,3 milhões de toneladas, 2,3% inferior à do ano anterior. No balanço, os estoques de passagens devem se reduzir ainda mais, para uma relação estoque/consumo mundial de 13,7%, a menor desde 1973/74.
O interessante é que o USDA elevou o volume a ser transacionado internacionalmente, comparativamente aos dados de setembro. O motivo seriam as maiores compras da União Europeia e da Venezuela. Mesmo assim, os negócios devem se limitar a 93,3 milhões de toneladas, 9,2% inferiores ao do ano-safra anterior - em 2011/12, houve transação do maior volume histórico (102,8 milhões de toneladas).
Para esta temporada (2012/13), as exportações norte-americanas devem se reduzir em cerca de 20%, devido aos menores excedentes internos, totalizando 31 milhões de toneladas, o menor volume a ser embarcado desde 1974/75. Esse cenário, por sua vez, abrirá espaço para outros países, como o Brasil. Segundo o USDA, o Brasil deve embarcar 19 milhões de toneladas entre abril/13 e março/14, um recorde. Todo esse contexto é altista para preços no Brasil.
No início de outubro, a Conab apontou que a área com milho verão deve se reduzir entre 4% e 7% em relação à da temporada 2011/12 e que eventual aumento da produção dependerá do clima, que favoreceria a produtividade. Assim, calcular possíveis excedentes de 2012/13 que possam ser exportados continuará dependendo do tamanho da oferta da segunda safra, que terá colheita finalizada em setembro de 2013.
Neste ambiente, os preços do milho posto portos descolaram das variações observadas no mercado internacional em outubro. Enquanto os preços na Bolsa de Chicago acumularam perdas no mês, os valores do produto posto porto de Paranaguá tiveram altas expressivas. A melhor competitividade do produto brasileiro em relação ao produto norte-americano foi fator de atratividade de compradores. A preocupação com a safra de verão no Brasil e na Argentina foi outro ponto de suporte no mês.
Na Bolsa de Chicago (CME/CBOT), o contrato dez/12 acumulou perdas de 0,1% em outubro. Mesmo assim, os valores do produto posto de Paranaguá tiveram valorização de 7,4% - vale lembrar que, em setembro, as cotações caíram 11,1%.
Com preços mais atrativos no Brasil e diante do fato de que nos Estados Unidos há menor excedente de exportação - os Estados Unidos ainda são os maiores exportadores mundiais -, abre espaço para crescimento das vendas externas do Brasil - cenário já observado em outubro.
Na BM&FBovespa, os contratos de curto prazo subiram com mais intensidade em outubro. O contrato nov/12 subiu 10,6% no mês, fechando a R$33,50/sc de 60kg no dia 31. O contrato jan/13 valorizou 9,2%, fechando a R$34,05/sc de 60kg no dia 31.
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