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Scot Consultoria

Porque a ignorância de Inácio de Loyola Brandão não é inocente


Segunda-feira, 21 de maio de 2012 - 13h22

Amazônida, engenheiro agrônomo geomensor, pós-graduado em Gestão Econômica do Meio Ambiente (mestrado) e Geoprocessamento (especialização).


Não sou eu quem está chamando Inácio de Loyola Brandão de ignorante. Foi ele mesmo quem assumiu a condição em um dos seus últimos textos publicados no Estadão: Toquei a sumaúma, árvore de 500 anos.

O escritor escreve sobre sua experiência recente de perambular pela Amazônia a bordo de um transatlântico cujo motor e os condicionadores de ar que o movimentaram e amenizaram o calor da região eram movidos à combustível fóssil. O texto de Brandão transpira o deslumbramento natural que os não amazônidas sentem quando percebem a Amazônia.

No meio do texto, prenhe desse deslumbramento, o escritor diz sobre a reforma do Código Florestal: "me dei conta de como somos ignorantes em relação ao Amazonas. Tão ignorantes quanto esses que redigiram e aprovaram o novo Código Florestal, que a presidente deveria vetar, num gesto de sabedoria e amor à pátria. Aliás, os que redigiram e aprovaram não são ignorantes, são espertos, manobradores e safados em relação ao Brasil."

A ignorância do velho escritor é evidente só pela confusão entra o rio Amazonas e a região Amazônica, duas coisas intimamente relacionadas, mas completamente diferentes. Fico me perguntando se Inácio de Loyola Brandão conhece ou ignora o texto do Novo Código Florestal. A impressão que tenho é a de que ele não leu o texto, portanto o ignora. Apesar disso foi capaz de tecer tão dura crítica ao texto.

Eu até entendo o escritor. A Amazônia em geral, e o Amazonas em particular, causam nas pessoas, sobretudo nos forasteiros, um sentimento impressionante de deslumbramento, como um indivíduo diante de uma maravilha antes desconhecida. Esse sentimento misturado a rumores de que a tal maravilha está ameaçada pelo mal e desprotegida causa nas pessoas uma vontade de se lançar em sua defesa. É essa a origem dos apupos como que deu Inácio de Loyola Brandão contra o Código Florestal.

Agora, há diferenças entre almas medíocres e grandes almas. Euclides da Cunha fez uma viagem pelo Amazônas semelhante a que fez Inácio de Loyola Brandão e também deslumbrou-se diante da paisagem. Brandão provavelmente leu os relatos de Euclides da Cunha sobre suas viagens pelo Amazônas. O termo "paisagem avassaladora" usando por Brandão é euclidiano. Mas, ao contrário de Inácio de Loyola Brandão, Euclides da Cunha, mesmo diante do deslumbramento, foi capaz de enxergar o que Brandão viu no seu Amazônas: os amazônidas.

É certo que quando Euclides da Cunha navegou pelo Rio Amazônas não havia ameaça ambiental à região. Fato que pode ter tornado Euclides menos cego aos dramas humanos escondidos sob a floresta. O fenômeno recente da ameaça ambiental à região perpetrada pelo homem tornou as pessoas mais propensas a relativizar seu humanismo. Assim, um escritor que se deslumbre com a floresta nos dias de hoje pode defender leis que anulem o homem caso essas leis protejam o objeto daquele maravilhamento.

Euclides, com a mente livre das travas da necessidade de salvar a Amazônia dos homens, viu a protagonista do vídeo; Loyola Brandão, cego pela vontade de proteger a maravilha ameaçada, não viu.

Eu acho que a Amazônia precisa ser salva da ignorância. No fundo, quem ameaça a floresta não é a humanidade em si, mas a ignorância dos bem intencionados.



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