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Scot Consultoria

A volta do leite envasado em embalagem de vidro


Quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011 - 17h02

Zootecnista, formado pela Universidade Estadual Paulista – UNESP, Câmpus de Ilha Solteira-SP, mestre em Administração de Organizações Agroindustriais pela UNESP, Câmpus de Jaboticabal-SP. É analista e consultor de mercado da Scot Consultoria. Coordena as divisões de pecuária de leite, grãos e avaliação e perícia. Editor-chefe do Relatório do Mercado de Leite, publicação da Scot Consultoria. Atuação nas áreas de análises, estabelecimento de cenários, estratégias de mercado, realização de projeções de preços, oferta, demanda, análises setoriais e pesquisa de opinião e imagem. Ministra aulas, palestras, cursos e treinamentos nas áreas de mercado de leite, boi, grãos e assuntos relacionados à agropecuária em geral.


Caro leitor, você se lembra do leite comercializado em garrafas de vidro? Aquele que você buscava matinalmente na padaria. Pois então, ele está de volta. Acreditando na demanda por produtos ambientalmente sustentáveis, na melhor conservação das características organolépticas do leite, no marketing atrelado à diversificação da apresentação do produto e fazendo uma alusão ao passado, um laticínio fluminense está comercializando leite em garrafas de vidro. Se você não se lembra ou não viveu nessa época, aqui vai um rápido passeio pela história da industrialização do leite no Brasil. Até o inicio do século XX o leite era consumido sem nenhum tipo de tratamento. A industrialização e o desenvolvimento das cidades propiciaram, por volta de 1920, o surgimento dos estabelecimentos processadores de leite fluido. A pasteurização era feita de forma lenta (30 minutos em temperaturas superiores a 60ºC) e o leite envasado em garrafas de vidro retornáveis. Aí começa a saga da embalagem tema do nosso artigo. O leite beneficiado concorria com leite in natura que era levado à cidade em carroças e vendidos de porta em porta pelos produtores. No final da década de 30 surgem as primeiras legislações obrigando a pasteurização do leite no país. Nos anos 40 a pasteurização lenta foi substituída pela rápida. Neste processo, o leite é submetido à temperatura entre 72ºC e 76ºC por 15 a 20 segundos. A redução considerável no tempo de processamento aumentou a produtividade e o lucro das empresas de laticínios. A QUEDA DAS EMBALAGENS DE VIDRO A década de 60 traz a revolução das embalagens descartáveis, os conhecidos saquinhos de polietileno. A facilidade logística e a redução de custos para os laticínios fizeram com que os saquinhos plásticos substituíssem as garrafas de vidro. O SURGIMENTO DO LEITE LONGA VIDA E A DIMINUIÇÃO DO MERCADO DE LEITE PASTEURIZADO Na década de 70, surgiu o leite longa vida ou leite de caixinha, comercializado em embalagens cartonadas. Este produto sofre tratamento térmico a uma temperatura elevada (130ºC por 2 a 4 segundos) em um processo chamado de ultrapasteurização (UHT, sigla em inglês). A ultrapasteurização elimina as bactérias patogênicas e a maioria daquelas responsáveis pela deterioração do leite. Este fato conferiu ao produto uma das suas principais vantagens comparativas: o longo prazo de validade e a não necessidade de refrigeração antes da abertura. Contudo, devido à influência de medidas políticas e a instabilidade econômica, dentre outras coisas, o leite longa vida só deslanchou na década de 90, deixando para trás o leite pasteurizado. Observe a figura 1. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Leite Longa Vida (ABLV), a representatividade nas vendas de leite longa vida passou de 4,5% em 1990 para 74,5% em 2010. É o principal leite fluido vendido no país. Entre os fatores que levaram à redução da venda de leite pasteurizado pode-se citar: a falta de tempo para adquiri-lo diariamente e o curto prazo de validade. UM NICHO DE MERCADO PRÓPRIO? A aposta do laticínio fluminense está na parcela de clientes que ainda vão ao supermercado ou padaria diariamente para consumir o pão e o leite fresco. A colocação leite fresco, feita pelo laticínio em seus anúncios do produto, está associada ao fato do leite ser processado de madrugada e distribuído diariamente. O laticínio aposta na qualidade diferenciada do produto, pois a característica do vidro, inerte e impenetrável a gases, associada ao fato da pasteurização trabalhar com temperaturas mais baixas, permite preservar melhor as características do leite. Além do que a utilização do vidro é uma alternativa interessante diante da atual preocupação com a sustentabilidade ambiental. O vidro é um material de fácil reciclagem e permite também a reutilização. Este processo ainda não é utilizado pelo laticínio devido a uma escolha logística do supermercado parceiro do projeto. A princípio, o leite está sendo comercializado em uma rede de supermercados localizada na Zona Sul da capital fluminense, parte nobre da cidade. O preço do produto ainda está bem acima do preço pago por um litro de leite longa vida, contudo, os diretores do laticínio acreditam que o diferencial do produto valha a diferença.
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