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Scot Consultoria

Reflexões sobre a estiagem


Quinta-feira, 28 de abril de 2005 - 15h00

É médico veterinário.


  • A forte estiagem que assolou o sul do Brasil nos últimos meses trouxe, como era de se esperar, consequências desastrosas para a economia da região. Com certeza, os reflexos negativos conseqüentes à frustração das safras agrícolas se farão sentir não apenas no corrente ano, mas nos próximos também.
  • Hoje a retração das vendas no setor de insumos, máquinas e equipamentos agrícolas, bem como no comércio em geral é evidente e preocupante.
  • A inadimplência, em certo sentido, é fato consumado e consentido, na medida em que reflete com absoluta transparência a fragilidade de uma economia regional, particularmente no noroeste do RS, assentada fundamentalmente na produção de grãos e desta, a cultura da soja é, sem sombras de dúvidas, o carro chefe. Ressalte-se que esta última região citada é, caracteristicamente, colonial, ou seja, minifundiária, onde o tamanho médio das propriedades não ultrapassa 20 ha.
  • Daí depreende-se que culturas que dependem de um elevado grau de mecanização e do uso intensivo de insumos cada vez mais caros, e por isso, com elevados custos fixos e variáveis, encontram forte limitação de resultados econômicos em função da restrita escala de produção imposta pelo tamanho das propriedades.
  • Portanto, a atual frustração da safra de soja surpreende apenas pela intensidade e não pelo ineditismo. Nos últimos 18 anos não se obteve mais do que 8 ou 9 safras consideradas como satisfatórias em termos de resultados econômicos. E isto sem considerar que na cultura do produtor rural da citada região, margem bruta é considerada como lucro! Bom....muito bom, apenas para as indústrias multinacionais que conseguem vender máquinas colheitadeiras, com o devido financiamento oficial, para propriedades com menos de 50 ha.
  • Bem.... e o que se verifica neste momento é uma intensa mobilização de órgãos que representam produtores rurais e de políticos, no sentido de obter junto aos governos federais e estaduais a liberação de recursos financeiros para garantir uma mínima sustentação às famílias produtoras atingidas pela seca e o re-escalonamento de dívidas bancárias a fim de minimizar a crise.
  • Aceitável este propósito diante do imediato e da gravidade da situação, mas lamentável é o fato de que não se ouve uma voz no sentido de discutir o atual modelo agrícola sabidamente impróprio para a região. Busca-se dar sustentação a um modelo de produção insustentável, posto que não se ajusta à estrutura fundiária e à realidade sócio-econômica da região colonial.
  • Desse mar de dificuldades emergiu a atividade leiteira como uma espécie de “colete salva vidas” para náufragos. É lógico que também esta atividade sofreu as consequências da estiagem mas de forma bem menos acentuada do que as lavouras de grãos. Nestas os prejuízos foram irreversíveis.
  • O rebanho leiteiro também se ressentiu da falta de chuvas e houve queda na produção durante o período de estiagem. Mas tão logo choveu, verificou-se uma rápida recuperação das pastagens e, por consequência, um incremento na produção leiteira. O certo é que aquelas propriedades que fazem a integração lavoura x pecuária absorveram com menos dificuldades o impacto da estiagem.
  • Melhor desempenho tiveram ainda aquelas propriedades que se utilizam de reservas forrageiras como feno e silagem. Também a suinocultura e o setor de hortigranjeiros, particularmente as propriedades que utilizam estufas, suportaram bem os efeitos da estiagem.
  • Portanto, é forçoso reconhecer que a estiagem ocorrida nos remete para uma reflexão importante – qual o modelo agrícola que se ajusta melhor à nossa realidade?
  • No momento em que o agronegócio assume função importantíssima no desempenho da economia brasileira, é necessário que passemos a tratar o setor primário com mais profissionalismo, planejamento e visão empresarial, de modo a evitar a implantação e sustentação de sistemas de produção inadequados, com visão imediatista e, o que é pior, financiado por verbas oficiais.
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