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Scot Consultoria

Qual é uma boa hora para se vender o boi?


Segunda-feira, 9 de janeiro de 2012 - 16h28

Administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.


Sistema de negociação Neste final de ano fiz alguns estudos sobre a movimentação dos preços. Quais as formas e as maneiras para melhor medir o sobe e desce do boi e outros produtos, como soja, milho e café. O leitor mais antigo sabe que em 2010 estávamos estudando o mercado estatisticamente. A ferramenta “Força do Boi” que coloquei na última edição é um exemplo desse tipo de estudo. Em 2011, porém, o olhar focou esses estudos sobre as movimentações dos preços. Quando digo movimentação dos preços me refiro ao sobe e desce que a gente sabe bem como é... Essa coisa imprevisível do dia a dia que às vezes deixa o produtor, a própria indústria com o cabelo em pé, sem saber bem para onde ir e o que fazer. Existem maneiras, um monte delas, de ajudar a fazer esse tipo de conta. No mercado financeiro isso é chamado de “Sistema de Negociação”. Sob o ponto de vista do pecuarista, a ideia é saber qual hora é interessante vender o gado, ou a hora de esperar. Não sei quanto a você, mas tem hora que não dá para vender gado, mesmo o animal estando gordo. Uma semaninha a mais de espera, já se consegue preços melhores. Isso acontece direto nos momentos de alta na arroba. Pois bem, é isso que o sistema de negociação ajuda a nos dizer. Usando o indicador do boi publicado pela Esalq/BVMF, jogando neles algumas regras estatísticas, outras que tive a oportunidade de aprender durante o ano e que adaptei para o boi, adaptação essa que me tomou várias madrugadas agora no final do semestre, esse trabalho todo simplesmente foi no intuito de responder a seguinte pergunta: “qual é uma boa hora para se vender o boi?” Olhe o gráfico abaixo e veja quais foram os melhores momentos de venda em 2011. O sistema ajuda na parte mais difícil — o timming da venda. Observe os momentos pintados em verde. Em 2011 tivemos três bons sinais verdes para se vender boi, fevereiro/março, julho/agosto e outubro/ novembro. Observe que agora em janeiro/12 não é um bom momento. Obviamente aqui está só o resultado do sistema de negociação. Você não acredita o tanto de conta que vai por trás disso. Parece mágica? Voodoo? Observe a demonstração dos sinais verdes destes últimos seis anos, abaixo. Verde significa venda. Vermelho, esperar. Sem cor, mercado neutro. A coisa realmente funciona. Por esse sistema, teríamos vendido boi em bons momentos, como de fato ocorreu. Repito, esse tipo de ferramenta é poderosa. Se a coloco aqui é para demonstrar a melhoria nas vendas de gado ao longo do ano. Gado, mercado físico mesmo, nada de mercado futuro aqui. Durante o ano vou tentar falar uma ou duas vezes dessa informação nos textos, tal como sugeri a venda de gado entre outubro/novembro do ano passado. Já era uma coisa baseada nesse tipo de sistema. Só falarei sobre isso neste texto de hoje. Indicador livre de impostos Seguindo em frente, aconteceu uma coisa engraçada comigo. No dia 2 de janeiro o indicador saiu com uma queda de mais de três reais sobre o último dia de dezembro. Levei um susto! Desanimei. Pensei: “putz, que queda que é essa?!” Daí somente na hora que fui dormir é que caiu a ficha... O indicador em 2012 já seria publicado livre de impostos! Eu sabia disso, mas tinha me esquecido. Senhor Rogério, preste mais atenção, sim? Pois bem, por causa da base de informação ter sido alterada, todos os preços do indicador de 1994 até 2011 também mudaram. O que era o pico do indicador lá atrás agora tem que refazer as contas e retirar o imposto do valor. A gente vinha publicando os gráficos no ano passado livre de impostos. A partir de agora isso é a nova realidade. Achei que ficou melhor, ficou mais perto da realidade do dia a dia do produtor e um número de visualização direta. Hoje o indicador vale R$98,15/@, à vista, em São Paulo. O mercado futuro está vendo o quê para 2012? Observe abaixo. Ele está indicando queda no boi até julho. Depois uma altinha em outubro. E só. Nada de emoção. Ano passado estava até pior, o indicador valia ao redor de 101 reais, contra um contrato de out/11 que valia ao redor de 95 reais. Só para situar a coisa, o pior preço da safra do ano passado foi 93,73 reais em maio. O mai/12 então, na bolsa agora mostra 1,50 reais a mais. E só. O melhor preço da entressafra 2011 foi 107,08, o out/12 fala que a coisa vai valer seis reais abaixo disso. E só. O ágio entressafra/safra nessa sexta-feira fechou em 6%. Ano passado fechou em 14%. A média dessa fase do ciclo pecuário é de 23%. Ou seja, o mercado espera uma entressafra pior que a de 2011, que já foi ruim. O mercado gera as opiniões Não é à toa que os participantes do mercado enxergam um futuro tão ruim. O mercado é assim mesmo. Se ele está com vontade de incutir no povo sentimento de baixa e pessimismo, ele trabalha sem parar para retirar qualquer expectativa, qualquer esperança de que o mercado suba. Chega uma hora que o cidadão não acredita mais em alta. Daí o mercado, só de pirraça, muda de lado e passa a subir. O gráfico abaixo mostra este tipo de serviço. Repare que a variação dos preços veio abaixo desde o final de 2010 e frustrando expectativas desde então. Depois de um ano de pancada na cabeça, qualquer um perde a noção histórica dos preços e de que tudo que cai um dia sobe. Estamos em um ponto crucial dessa história. Repare a arroba agora em janeiro abaixo do que valia um ano atrás. A arroba mais baixa do que valia um ano atrás, em qualquer época do ano, é uma situação que ocorreu poucas vezes durante esses quase vinte anos de mercado. A história nos mostra que não é prudente apostar em uma continuidade desse tipo de coisa, salvo alguma catástrofe, como foi em 2005/2006 na aftosa e 2009 na crise de crédito. Fora catástrofes, que são imprevisíveis, não há registro de mercados abaixo ano a ano por períodos prolongados de tempo. Sendo assim, e somente por uma coisa dessas poderíamos dizer que o mercado futuro está precificado a arroba durante o ano de forma muito mais pessimista do que seria prudente esperar. E tem mais — nem falei dos custos de produção. Na esteira do que comentei na última edição, um produtor/confinador que faz os custos de produção me disse que está mais barato “comprar bolsa” para a entressafra que produzir boi. Daí para você ver o estado dos preços da bolsa para esse ano. Não sei o que vai ocorrer caro leitor. Só sei o que enxergo agora, com os números de agora. Agora, do jeito que está a bolsa e do jeito que estão os custos de 2012, a arroba está extremamente mal posicionada para remunerar a pecuária. Engraçado que esse final de ano li muita coisa sobre esse tema — o aumento dos custos de produção de commodities no mundo inteiro. Então, quero dizer, talvez o que a gente está falando sobre custos da pecuária no Brasil não está indo muito longe do que está de fato ocorrendo no resto do mundo. Vamos acompanhando.
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