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Scot Consultoria

Fertilizantes - reflexão, planejamento e negociação


Segunda-feira, 26 de dezembro de 2011 - 09h57

Engenheiro agrônomo formado pela ESALQ-USP 1976. Consultor - Tecfértil - Vinhedo-SP.


O ano de 2011 se confirmou com um volume recorde e superou as expectativas de consumo, mostrando que os preços agrícolas favoráveis em boa parte do ano estimularam os agricultores a investir mais nas lavouras na busca de uma maior renda que poderá ser proporcionada por uma maior produtividade. Mato Grosso mantém a primeira posição no consumo, seguido por São Paulo que apresenta boa recuperação, principalmente devido ao maior uso de fertilizantes em cana-de-açúcar neste ano. Deve ser destacado que o maior crescimento de consumo será no Piauí, seguido do Maranhão, mostrando a força das novas fronteiras agrícolas. Goiás, também apresenta um bom crescimento e acima da média ainda estão: Espírito Santo, Paraná e Minas Gerais. Entretanto, o grande consumo de fertilizantes ainda não se traduziu em uma expectativa maior de produção, com as previsões ainda menores que a obtida na safra 2010/2011 que foi favorecida pelas condições climáticas favoráveis. Devemos ficar atentos para a evolução destes indicadores. Isto deve também demonstrar que uma boa safra não se faz somente com o aumento no uso dos insumos, mas é construída ao longo de muito trabalho para proporcionar condições adequadas de cultivo e manejo das culturas, contando necessariamente com boas condições climáticas. Importações e mercado internacional O abastecimento deste enorme mercado foi garantido pelas importações de fertilizantes. Da mesma forma que os agricultores anteciparam as suas compras, na outra ponta, as empresas de fertilizantes também foram ao mercado internacional para adquirir os fertilizantes necessários para atender a demanda. Ao longo do ano pudemos notar que o ritmo das importações sempre foi acima do realizado no ano anterior. Mesmo considerando apenas o volume importado até novembro, algumas matérias primas até superam a necessidade prevista para atender a demanda do ano inteiro e terá como consequência um estoque maior ao final do ano. Com o mercado internacional apresentando algumas baixas de preços, principalmente de ureia, mas também com sinalização neste sentido para os fosfatados, os estoques ficarão desvalorizados e poderão ocasionar prejuízos. O aumento de preços dos fertilizantes no mercado internacional foi continuo e os valores médios dos produtos internados atingiram em novembro o maior patamar do ano, justamente em um período que as cotações dos produtos nos mercados internacionais apontaram para baixo. Apenas citando como exemplo a ureia, o valor FOB do produto internado em novembro é de US$503,35/t e no momento os preços internacionais já apontam para valores abaixo de US$350,00/t, sem indicar ainda o fundo do poço. Relações de troca Outro aspecto importante é a piora nas relações de troca. Tomando como exemplo a soja, registramos que os preços recuaram no mercado internacional para a casa dos US$11,00/bushel e os preços dos fertilizantes internados no Brasil continuaram em elevação. Com isso, exceção ao anormal ano de 2008, atualmente atingimos a pior comparação de preços entre fertilizantes e soja como pode ser verificado nos gráficos a seguir. O resultado apontado neste momento para a relação de troca só não causa um efeito maior sobre o consumo de fertilizantes devido à antecipação de compras, e também porque os preços agrícolas ainda garantem uma remuneração favorável aos produtores, a despeito da deterioração da capacidade de compra revelada pela relação soja-fertilizante. Também deve ser destacado e que o câmbio está favorecendo ainda a receita dos produtores e seu efeito negativo será sobre uma parte dos seus custos. O gráfico abaixo demonstra o efeito da direção de preços. A soja desvalorizou durante o ano, e atualmente seu preço é apenas 2,4 vezes o seu valor em 2002, enquanto que no começo de 2011 era de 2,8 vezes. Já os fertilizantes multiplicaram de preço, com o superfosfato triplo atingindo 4,56 vezes o seu valor de 2002 e no início do ano era de 3,07 vezes. O cloreto de potássio passou de 2,96 para 4,18 vezes, e isto deteriora a relação de preços com a soja que no início do ano praticamente estavam em paridade. Certamente esta relação terá maior influência para a preparação da próxima estação de compras, e mesmo que os preços da soja ainda sejam muito favoráveis e propiciem uma boa margem sobre os custos, a negociação se tornará mais difícil com o produtor necessitando utilizar maior parcela da sua receita para a aquisição dos fertilizantes. A avaliação correta das necessidades de adubação e um bom planejamento serão muito mais importantes para a próxima safra, pois o produtor não poderá se dar ao luxo de gastar onde não precisa ou gastar em excesso, acima da sua real necessidade. Considerando a relação direta da soja com os fertilizantes pode ser notada uma piora com relação ao mês anterior e o produtor vai gastar de 1 a 2 sacos a mais para adquirir a mesma quantidade de adubo. Ao longo do ano, alguns períodos favoreceram a compra devido ao bom preço da soja, mas com as constantes elevações dos preços dos fertilizantes e o recuo nos preços de soja, a situação piorou como mostra a tabela a seguir. Entretanto, precisa ser destacado que a situação pode piorar. A simulação dos preços, a partir dos custos das matérias primas, indicam relações de trocas ainda piores que as encontradas nos preços correntes praticados no mercado como mostram as relações de troca simuladas a seguir. Este quadro, com a queda de preços de alguns fertilizantes e o mercado de soja com preços menores, indica que temos pela frente um período para muita reflexão, planejamento, e negociação na busca de oportunidades pensando na próxima safra e para fugir do quadro apresentado de deterioração da capacidade de compra. O cenário de preços de fertilizantes para o primeiro trimestre de 2012 é de baixa e poderá ser um bom período de negociação, influenciado internamente por elevados estoques de fertilizantes. Entretanto, diante das expectativas de uma forte pressão a ser exercida pela decisão de plantio da próxima safra nos Estados Unidos, principalmente de milho, as expectativas são de preços maiores para os fertilizantes a partir de abril. O acompanhamento destas previsões e atenção ao comportamento de preços dos produtos agrícolas nos mercados futuros, principalmente soja, milho, algodão, café e açúcar serão os indicadores para o comportamento dos preços dos fertilizantes na próxima safra. Assim, tendência de alta nos preços agrícolas proporcionará uma nova retomada para os aumentos de preços dos fertilizantes. Outro aspecto fundamental, principalmente para os preços de cloreto de potássio serão as negociações da China e Índia para os preços contratados para fornecimento a partir de março/2012. A Índia sinaliza com pedidos de redução de preços, já refutado pelos fornecedores. Com isso, os indianos novamente sinalizam com uma redução no consumo, influenciado pela desvalorização da sua moeda e pronunciando a incapacidade dos produtores em adquirir o fertilizante. Outro fator são os estoques de cloreto de potássio no Brasil e na China que devem ser maiores ao final deste ano, sendo apontados em 1,4 milhões de toneladas no Brasil e de 1,5 a 2,0 milhões de toneladas na China. Os estoques nos Estados Unidos também são elevados e subiram significativamente de outubro para novembro e atingem um volume da ordem de 2,0 milhões de toneladas. Estes dados indicam que o primeiro trimestre será de pouca compra, e os fornecedores ao perceberem alguma tendência de redução no consumo, reduzirão a oferta para manter a sua lucratividade, com a PCS já programando a parada de algumas de suas unidades de produção. Este quadro só mudará ao longo prazo, com a entrada de novos investidores neste mercado, que se mostra atraente, porém os resultados só aparecerão por volta de 2015, tempo necessário para viabilizar a operação de novas capacidades de produção que possam competir com o grupo estabelecido neste segmento. O mercado de fosfatados também deve ser pressionado pela Índia para uma redução de preços e há indicações de que alguns fornecedores já aceitaram reduções da ordem de US$30,00/tonelada para o DAP. Portanto, a recomendação principal é ficar atento no primeiro trimestre de 2012: oportunidades de travar uma venda de soja ou mesmo de milho podem ser importantes, se for possível também travar a compra do fertilizante para o próximo ano em condições mais favoráveis que as atuais. Desejo a todos um feliz natal e um novo ano de prosperidade, saúde e alegria!
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