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A relação da Amazônia com mentiras e factóides é histórica


Sexta-feira, 1 de julho de 2011 - 18h08

Amazônida, engenheiro agrônomo geomensor, pós-graduado em Gestão Econômica do Meio Ambiente (mestrado) e Geoprocessamento (especialização).


Quem primeiro navegou o rio Amazonas foi o espanhol Vicente Yañez Pinzón. Em dezembro de 1499, ele partiu de Palos, à frente de quatro caravelas, com a finalidade precípua de descobrir terras e exercer a posse em nome da coroa espanhola. Em janeiro do ano seguinte o navegador espanhol, costeando o novo continente, surpreendeu-se ao navegar em águas doces em pleno oceano Atlântico, mudou a direção de sua caravela para oeste e entrou pelo estuário do grande rio. Deu-lhe o nome de Santa Maria da la Mar Dulce. Esse foi o nome de "batismo" do Amazonas. Mas uma grande mentira mudaria tudo. Eis que, em 1541, Gonçalo Pizarro, parente do sanguinário Francisco Pizarro, desceu de Quito à frente de 400 espanhóis e 4000 índios em uma expedição com o objetivo de explorar a região e coletar drogas (canela, cacau, índios, etc.). A expedição foi um fracasso. Quase todos os espanhóis haviam morrido e dentre os índios que não haviam morrido ou fugido restaram poucos. Já sem suprimentos Pizarro destacou um pequeno grupo em três canoas com o dever de descer o rio até uma vila da qual se conhecia a existência. O grupo liderado por uma besta chamada Francisco Orellana devia confiscar os suprimentos necessários na vila e voltar até o grupo de Pizarro. Do grupo de Orellana faziam parte um padre Jesuíta chamado Alonso de Rojas e um frei mentiroso chamado Gaspar de Carvajal. Ora, como o Orellana era uma besta, ele se perdeu na volta. Não tendo como subir o rio até onde se encontrava Pizarro, o estrupício resolveu descer o rio ao sabor da corrente. Das três canoas que deixaram o grupo de Pizarro em fevereiro de 1541 duas chegaram a Santa Maria de Belém em 24 de agosto de 1542, dezoito meses mais tarde. Os homens levaram mais de ano descendo o rio e chegaram a Belém doentes e esquálidos. Embora tenha nascido de um erro, o caráter fantástico da viagem do grupo de Orellana, Rojas e Carvajal por si só era suficiente para lhes dar notoriedade. Não satisfeito com isso, o pilantra do Carvajal escreveu relatos da viagem dando ares épicos ao feito. Aquilo que começara como um erro estúpido deveria ser pintado de outra forma. Nos seus relatos da viagem, Carvajal descreve um embate que o seu grupo teve com uma tribo formada exclusivamente por índias (não havia homens entre elas), essas índias “cavalgavam” canoas e manejavam o arco e flecha com maestria (algumas chegavam a arrancar um dos seios para que esse não atrapalhasse o manuseio do arco e flecha). Na mentira construída para diminuir a vergonha do erro, Carvajal compara essas índias às Amazonas da mitologia do velho mundo. O relato do Frei Carvajal — O Pilantra — se espalhou pela Europa como um rastilho de pólvora seca aceso numa das pontas por um mentira bem nascida e tantas vezes repetida que acabou virando verdade. O fato da tal tribo de amazonas canoeiras nunca ter sido encontrada não passou de um detalhe. O Santa Maria de la Mar Dulce passou a ser conhecido como Rio das Amazonas. Eis que assim, meus caros, ainda no século XVI, iniciou-se o rosário de mitos que compõem hoje aquilo que o mundo (inclusive os “paulistas”) entendem por Amazônia. O próprio nome “Amazônia” nasceu de uma mentira inventada por um pilantra motivado e aceita sem questionamento pela massa ignara. Para saber mais: ROCQUE, Carlos (2001), História Geral de Belém e do Grão-Pará. Belém: Distribel. DANIEL, João (1722 – 1776), Tesouro Descoberto no Máximo Rio Amazonas. Vol 1. Rio de Janeiro: Contraponto (2004).
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