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Scot Consultoria

Cuidado com clichês


Sexta-feira, 17 de junho de 2011 - 17h09

Administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.


Vamos para os gráficos. Abaixo temos o gráfico 1 com a arroba do boi em SP à vista, livre de impostos. O preço da arroba por volta destes dias tem ficado ao redor de 96 reais. Noventa e seis reais cai dentro do que o Dennis Gartman (The Gartman Letter) batizou como “The Box” — este quadrado em amarelo no gráfico. Ou seja, estamos dentro e completando o que poderia ser chamado de um suposto objetivo desta baixa. Abaixo disso, este quadrado em vermelho entre 93-95 reais seria um prolongamento disso comentado acima. O meio disso — 94 reais — colocaria a nossa força primária ao redor de perigosos –7%. Lembre-se do que ocorreu quando o mercado bateu –5% dessa força primária no final de maio, certo? Somente agora, nessa sexta-feira, é que os preços voltaram para aqueles valores. Seguindo em frente, as escalas de abate estão subindo e é interessante isto ocorrer agora, pois esta alta está coincidindo com 1) a alta no atacado e 2) a alta no frango. Aqui, caro leitor, só para deixar bem claro, não estou dizendo de ontem para hoje... Tenho que citar isto porque sempre tem o sujeito que vira e fala que o atacado caiu de quinta para sexta e isso inviabiliza o que escrevi. Eu SEI que o atacado caiu de quinta para sexta-feira. Estou dizendo do que ocorreu nessas últimas semanas, ok? Uma idéia para isso? Frigorífico só aumentaria as escalas de abate para: 1) pressionar para uma nova rodada de queda na arroba boi ou 2) se ele enxergasse nisto, aumentar seu estoque momentâneo em câmaras frias, uma possibilidade de melhorar suas margens. Ou seja, continuar a comprar arroba relativamente barata e tentar vender a carne um pouco melhor. O próximo gráfico também é da arroba do boi, porém é o Indicador Esalq/BVMF do boi sem os ajustes que fiz no gráfico acima, ou seja, tirar o funrural e arredondar os preços. Não, este abaixo é o puro indicador, do jeito que ele é publicado. Este indicador, caro leitor, é de longe, a minha principal ferramenta de trabalho. Observe os preços acelerando a queda quando a arroba veio abaixo de 102 reais. Praticamente veio num tiro só de 102 para os 98 de hoje em dia. Mas queria chamar a sua atenção para o “estrago” técnico que essa baixa fez com o indicador de força relativa, o famoso IFR. Atualmente estamos com o que se pode chamar de divergência positiva — isto aparece quando o preço do produto, no caso, a arroba, está caindo e o IFR está ao mesmo tempo, subin- do. Marquei esta situação nessas retas azuis. Normalmente as divergências no IFR do boi são bastante confiáveis. Se essa agora será, não sei, mas é mais uma evidência que a queda da arroba desde os 102 reais nessa safra está “esticada” e precisando de uma pausa. O que mais? Falei que o frango já está subindo, que o atacado também, que as escalas estão subindo, coisa que não ocorria faz tempo, falei também aqui acima da divergência positiva no IFR... O que está faltando? Ah, sim, está faltando o gráfico da curva dos futuros. Observe e chore. Isso daí acima são os contratos futuros menos a inflação no período. Ou seja, eles mostram os preços futuros como se fossem hoje. Impressionante não? Você acha que irá vender melhor seus bois em outubro? É mesmo? Não vai não! Pelo menos é isso que a bolsa está te dizendo. O mercado espera que 96 reais seja praticamente “o cara”, “o valor” da arroba em 2011. Acho que nunca vi esse tipo de má precificação dos futuros na minha vida, caro leitor. Só consigo enxergar isto daí como uma forma de miopia do mercado futuro, ou, com outro viés, um sintoma do mercado futuro. O contrato de outubro servindo para daytrade e oscilando conforme o vai e vem do indicador?! É muito para minha cabeça. Pior que isso — em plena safra, o cidadão vê o outubro caindo cinqüenta centavos, um real que seja... E vê nisso como um sinal baixista para a entressafra, para o que irá ocorrer daqui a quatro, cinco meses, com abates nacionais em queda e custos de confinamentos totais girando entre 95 e 105 reais incluindo o boi? “Iiii, Rogério, com um futuro desses, será que a entressafra vai subir?” Foi o que mais ouvi no Congresso Internacional da Carne essa semana em Campo Grande. Aliás, quero parabenizar o Alexandre Mendonça de Barros, pela excelente palestra no congresso. Achei o fascinante o conceito exposto na palestra de equiparação de preços em dólares para as pecuárias mais caras entre os grandes produtores, e que merece uma análise mais profunda. Será que a entressafra vai subir? Foi a pergunta. Não sei caro leitor. Obviamente estamos olhando para os mesmos dados, para as mesmas informações, e respeito a opinião de cada um. Só que já vi esse tipo de filme antes e não me agrada nada o cidadão estar baixista em plena baixa da arroba. Isto é clichê, e bem popular ultimamente. Se todo mundo está baixista para a entressafra, se todo mundo está pensando a mesma coisa, não sei, aprendi assim, se todo mundo está pensando a mesma coisa, ninguém está, de fato, pensando no que está dizendo. Cuidado com a unanimidade. Alguém já disse, toda unanimidade é burra. Ah, sim, estava me esquecendo do último ingrediente da conta. A arroba do bezerro. Observe o gráfico abaixo. Estamos tocando a linha da tendência de alta por estes dias. Se isso firmar, só se lembre do que costumo dizer: “O teto do boi é o bezerro.” Ah, sim, para quem ficou curioso, hoje a arroba do bezerro vale 118 reais.
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