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Scot Consultoria

O setor de celulose e o Código Florestal


Segunda-feira, 28 de março de 2011 - 14h46

Amazônida, engenheiro agrônomo geomensor, pós-graduado em Gestão Econômica do Meio Ambiente (mestrado) e Geoprocessamento (especialização).


Há duas semanas o setor de celulose, por meio da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Abracelpa) e da Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas (Abraf), apresentou ao presidente da Câmara, Deputado Marco Maia, um relatório produzido em conjunto com as ONGs ambientalistas contra o relatório do Deputado Aldo Rebelo. No relatório as ONGs e as papeleiras sugerem uma série de alterações no Relatório do Deputado Aldo, mas discordam da proteção às áreas agrícolas, que as ONGs chamam de anistia a desmatamento, e não dão solução para os problemas dos pequenos imóveis inviabilizados por APPs. Fiz aqui no blog uma análise do relatório das papeleiras. Os verdes se vangloriam do apoio que o setor de celulose dá ao Código Florestal vigente. Mario Mantovani, “lobbista” da ONG SOS Mata Atlântica, vive dizendo que o setor de celulose, ao contrário dos "ruralistas retrógrados", é um setor de vanguarda que concorda com as exigências nobres do Código Florestal. Mantovani não diz que a ONG que paga o salário dele pertence a Roberto Klabim, ele mesmo um grande industrial da área de celulose. A tendência do pessoal de celulose de tolerar o Código Florestal vigente tem uma razão muito clara. O setor é eminentemente exportador e altamente suscetível às chantagens que as ONGs fazem no exterior junto aos mercados consumidores. Por essa razão, eles têm interesse de fazer greenwashing, se aliando às ONGs para evitar esse tipo de perseguição. O Klabin chegou a montar uma ONG própria, a SOS Mata Atlântica, com esse propósito. Além disso, enquanto indústria, eles são um caso especial. Você já viu uma indústria de celulose com 50 hectares? A indústria de celulose tem escalas gigantescas, cada planta gasta plantios de eucalipto da ordem de 100 mil, 200 mil hectares. Por outro lado, eles são uma indústria verticalizada. Ao contrário do produtor individual que vende o produto da terra (café, arroz, boi, leite, etc.), a indústria de celulose não vende o produto da terra, a madeira de eucalipto, a indústria vende um produto semi-processado, a pasta de celulose, ou industrializado, papel. Isso causa uma diferença enorme no que concerne às exigências do Código Florestal. Indústrias com grandes escalas e verticalizadas podem suportar custos fixos maiores, sobretudo se isso vier acompanhado da "amizade" das ONGs. O produtor rural, por outro lado, não tem a mesma capacidade de suportar os custos de adequação ao Código Florestal. Para o produtor individual, ter que tirar dinheiro do bolso para destruir cultivo e recuperar APPs e RL, traz custos financeiros que comprometem a viabilidade do negócio rural. O movimento das indústrias de celulose semanas atrás é um indício de uma das grandes consequências que podem resultar da imposição do Código Florestal vigente: concentração fundiária. Produtores menores, menos capitalizados e menos capazes de se adequarem à lei acabarão vendendo suas terras ou se integrando a grandes conglomerados de produção de grãos, carne, biocombustíveis e papel, esses sim são capazes de suportar o custo da lei ambiental em razão da escala e acesso a mercados. Sabem o que os ambientalistas acham disso?
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