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Scot Consultoria

Panorama do mercado do bezerro


Segunda-feira, 24 de janeiro de 2011 - 15h52

Administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.


Vamos falar um pouco sobre o bezerro? Observe o gráfico abaixo. Você se lembra que o pico dos preços do bezerro ocorreu em 2008, não? Não precisa lembrar; observe o gráfico. Traçando uma linha pontilhada de lá para cá temos uma fotografia do tipo de mercado que estamos lidando atualmente no bezerro. Em uma palavra? Fôlego, ou a falta dele. Bater nos arredores de 750 reais em 2008 parece que foi um movimento muito intenso para nosso pequeno animalzinho. Tão intenso que ele passou praticamente os próximos dois anos tentando recuperar o fôlego e as energias. Esse processo trouxe o bezerro para os arredores de 600 reais. Daí adiante, nova investida de alta, mas o que aconteceu? Ora, ora, parece que realmente 750 reais foi um valor importante lá atrás, tão importante e marcante que em 2010, apesar de passar dois anos recuperando as energias ele não conseguiu bater lá em cima novamente. Além disso, a média de longo prazo tornou-se baixista recentemente, como você pode ver nessa linha vermelha. Não é um horizonte altista. Mas como disse outra vez que comentei sobre isso, temos que dar o crédito para o bezerro. Ele está tentando. Chegou duas vezes a tentar encostar novamente nos 750 reais. Nas duas vezes algo ocorreu e ele não conseguiu. Mas, se você for pensar, o bezerro deveria subir. A arroba subiu forte. Hoje engordar bezerro nesses preços se torna uma atividade interessante. Se o sujeito tem condições de comprar bezerros para engordar aqui, a maior procura deveria sustentar os preços e até mesmo fazer subir, não? Hum, não necessariamente. Quero dizer, a primeira parte da história, essa de sustentar os preços é o que de fato está acontecendo, mas não tenho tanta certeza sobre essa demanda fazer subir a cotação do pequeno animal. Penso assim porque hoje existem mais bezerros no mercado do que existiam em 2008, pelo simples fato que a retenção de fêmeas para aumentar a produção de bezerro realmente fez o seu serviço. Hoje a produção de bezerros é maior que era, e isso já está pesando, por assim dizer, na equação oferta vs demanda desse pequeno animal. Não que não tenha aumentado a compra de bezerros. Aumentou sim; porém a oferta, no atual momento está dando conta mais do que suficiente para atender a essa demanda. Quero crer que a oferta de bezerros estará aumentando gradativamente no decorrer dos próximos anos até o final deste ciclo pecuário. Aliás, falando em ciclo pecuário, vai aqui uma pergunta de um querido leitor. Prezado Rogério, em outubro do ano passado, quando o BGI FUT V11 [contrato de outubro/10] estava em R$100, você disse várias vezes na carta que achava esse preço muito bom e que “quem tivesse juízo” deveria travar (ou algo parecido). Eu concordei e concordo com você e travei. Agora, com o out/11 a 98,50 você está dizendo que está barato. Por acaso você mudou sua opinião sobre o patamar “bom para travar” do V11? Em outras palavras, você acha que tem chance de ele passar lotado pelos R$100 e continuar subindo? Não estou pedindo uma previsão do futuro em bola de cristal, apenas sua opinião hoje. Grande abraço, João Gustavo de Paula. Resposta: Ano passado dizia que era um momento bom para ir vendendo os bois gordos e ir fazendo a reposição. Continuo com a mesma idéia, até porque foi isso que fizemos com nossos próprios bois. Ainda acho 100 reais um bom preço, como disse no início da carta da semana passada, ainda mais quando você se lembra que viemos de uma arroba de 80 reais. Porém, o mercado evoluiu desde então. De lá para cá, reposição, perspectiva de consumo, inflação e custo de produção mudaram. Os futuros do jeito que estão não mais demonstram esse equilíbrio de forças, a meu ver. Quem abateu bois gordos em 2010 provavelmente comprou bezerros em 2006/2007 quando o animal valia ao redor de 500 reais. Quem abaterá bois em 2011 já teve que arcar com bezerros com preços ao redor de 700 reais, que é a razão e o tema do texto de hoje. O boi magro e o garrote seguem a mesma linha de raciocínio. Falaremos com mais profundidade sobre isso na Carta Pecuária de Longo Prazo, que estou escrevendo esses dias. Mas a gente fala de bezerro e de uma forma ou de outra acaba tendo que falar sobre a taxa de reposição entre o bezerro e o boi gordo. Estamos atualmente com uma taxa de reposição historicamente alta, o que é sinal do que disse acima sobre os preços bons para a arroba ao redor ou acima de 100 reais. Observe o gráfico abaixo. Uma reposição acima de 2,45 bezerros por boi gordo pode ser considerada uma boa reposição? Sim, tanto em termos de rentabilidade (mais sobre isso na edição nº 399), quando em termos estatísticos. No longo prazo os preços pareceram oscilar entre 2,20 e 2,45 na maior parte do tempo. Ou seja, isso daí é neutro. Então, acima disso, podemos considerar como a parte alta da reposição e, consequentemente, boa para o invernista. Daí observe o gráfico novamente. A reposição nos dá a impressão que quer permanecer boa, pelo menos agora no início de 2011. Ela brevemente tocou abaixo se 2,45 para subir violentamente não uma, mas duas vezes nesses últimos meses. Não se engane, pois reposição nesse patamar será quase irresistível o invernista deixar de comprar bezerros, e isso nos trará muitos bois gordos para o mercado daqui a dois, três anos. Então, a idéia é ficar de olho no bezerro. Aparentemente o perfil altista que ele vinha demonstrando nos últimos anos perdeu um pouco sua força. Claro, pode subir um pouco mais daqui a pouco, pode bater novamente nos 750 reais, poderia até mesmo vir a 800 reais em um espasmo de alta tardia, mas isso não inviabiliza o raciocínio que coloquei aqui. Esses gráficos que coloquei acima dizem muito e, mais importante, no retorno do abate de fêmeas, ofertando maiores quantidades de animais depois de vários anos de retenção dizem mais ainda.
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