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Scot Consultoria

Atenção aos futuros


Segunda-feira, 17 de janeiro de 2011 - 15h36

Administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.


Faz três meses apenas em que a arroba rompeu para preços acima de 100 reais. Falo isso para colocar em perspectiva o movimento de alta que tivemos ano passado, pois não podemos esquecer uma coisa. Na realidade, a arroba já estava em uma baita alta histórica quando ela ultrapassou os 95 reais à vista, que foi o pico dos preços de 2008. O povo parece esquecer dessas coisas. Acha que o que temos agora é garantido. Não é. Não é pela influência de ninguém em especial que os preços foram e estão onde estão. Da mesma forma que não será por nenhuma oferta concentrada de qualquer pecuarista que fará a arroba cair. Observe a variação ano-a-ano do indicador da arroba mostrado abaixo nesse gráfico e veja por você mesmo quão especial tem sido esses últimos três meses para a pecuária. Mesmo com a queda dos 117 reais do pico ainda estamos atravessando um dos melhores períodos de preço para o boi. Hoje a arroba está com 37% de alta em relação a janeiro de 2010, e isso inserido nos preços históricos mostra como a coisa ainda está boa para quem produz, hoje, boi gordo. Então, sobre o mercado físico a sensação atual, como comentei na semana passada, ainda é um mercado que está bom de preço. Mas o interessante é que, quando você olha para o mercado futuro, a sensação é exatamente o oposto. Sim, porque se o mercado físico está em alta, o mercado futuro está trabalhando em baixa. Mais que isso, ele espera que o mercado venha em baixa durante o ano inteiro, tanto na safra, quanto na entressafra. Para exemplificar isso rodei um gráfico simples, trazendo todos os contratos futuros para os preços de hoje, ou seja, descontando deles a inflação. Qual é a idéia desse desconto? A gente sabe que a inflação retira poder de compra dos preços, então nada mais natural que tentar sentir hoje o que representa os preços no futuro. Quero dizer, a arroba para outubro vale 98 reais em outubro, mas quanto esses 98 reais representam em poder de compra agora em janeiro? Observe o gráfico abaixo. Olhe para outubro. É como se você estivesse vendendo a arroba a 92 reais hoje o que representa os 98,25 reais da bolsa dessa sexta-feira. Isso é um exemplo de como o mercado está baixista. Ou, como disse no último texto de 2010, um mês atrás, o mercado está míope, só enxergando o curtíssimo prazo. Quando digo o curtíssimo prazo o mercado está olhando somente para janeiro e, vá lá, fevereiro. Maio? Outubro? Muito longe. Mas sinceramente, um crítico poderia dizer que esse gráfico acima é somente circunstancial. Não representa a prova dos 9 para o mercado e é somente a minha opinião. De fato, jogando assim esse tipo de informação poderíamos chegar a esse tipo de conclusão. Mas na realidade o buraco é mais embaixo ainda. Peguei e fui checar todos os contratos de entressafra desde 1995 e rebati eles contra o indicador. O que queria encontrar? Ora, queria achar outra ocasião em que o mercado futuro, principalmente aqui meu foco estava para os contratos da entressafra e ver se eles estavam trabalhando, ou seja, sendo negociados abaixo do indicador. Não encontrei nenhum momento em que os contratos da entressafra estavam trabalhando abaixo, completamente, sistematicamente, obviamente e claramente abaixo do indicador como estamos passando agora. Muito interessante isso, não? Observe o gráfico a seguir, do que estou falando. Os contratos de outubro são essa linha azul. O indicador, a linha vermelha. Hei, mas o que ocorreu a partir de 2007 para mudar esse mercado? Sim, pois se você olhar com bastante atenção notará que a precificação da entressafra acontecia de uma forma previsível até 2007. Previsível no sentido de que a entressafra esperava, no mínimo, um valor de pico parecido ou um pouco acima do que tinha sido o pico do ano anterior. Isso é fácil de enxergar no gráfico porque a linha azul sempre trabalhou acima da linha vermelha. O contrato de outubro sempre teve embutido um ágio sobre a cotação do indicador, independentemente do valor do indicador naquele momento. Hei, estamos falando com entressafra, certo? Então, no mínimo, devíamos esperar uma alta em relação ao ano anterior, pois foi isso que a arroba do boi fez, em média, desde 1994 para cá. Ela subiu de entressafra para entressafra, em média 8% todos os anos. Mas a partir do contrato de 2008, isso não mais aconteceu. O contrato da entressafra mudou completamente de comportamento a partir daí. É como se tivesse assumido completamente outra personalidade, e essa nova personalidade é muito mais conservadora, para não dizer pessimista, em relação à anterior. Ao não mais embutir ágio nos seus preços, não mais se alinhar com a realidade histórica, real, concreta da precificação da arroba para a entressafra, ele, o outubro, se tornou um contrato com um viés. E viés emum contrato futuro, meu Deus do Céu!, é a morte. É a morte porque você retira do mercado metade dos seus participantes que iriam apostar contra o viés, mas com um viés tão claro assim até eu que sou bobo consigo enxergar a discrepância, daí a origem desse texto de hoje. O contrato de outubro de 2008 para cá carrega o estigma de um viés de alta exatamente porque ele está baixo. Isso se tornou horrível para o produtor, pois quem é que quer pagar ajuste diário e, como disse, ainda mais com o risco potencial de alta que está embutido nesse desconto astronômico que essa entressafra está precificando continuamente desde 2008. E a história não acaba por aqui. Se em 2008, 2009 e 2010 a precificação da entressafra, mesmo pessimista, mostrava-se comportada. Os contratos estavam discretamente acompanhando o indicador, ali próximos dele. Sem oscilar muito, sem se desgarrar muito do indicador. Mas no final de 2010 e agora em 2011 a coisa mudou completamente. O mercado está declaradamente baixista para a entressafra. Como você pode ver no gráfico anterior, no cantinho do lado direito onde temos os preços do final de 2010 e início de 2011, parafraseando nosso ex-presidente: “nunca na história desse país” um contrato de outubro ficou tão abaixo assim do indicador e não sofreu as consequências desse desalinhamento. O outubro estava 95,60 quando comecei a falar sobre isso. Hoje está 98,25. Vamos esperar para ver daqui para frente.
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