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Scot Consultoria

Cartas dos leitores


Segunda-feira, 8 de novembro de 2010 - 15h49

Administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.


Vamos para as mensagens dos leitores. Ola Rogério, Tudo bom? Você fez uma análise gráfica do contrato novembro, citando algumas figuras e formações. Não sei se estou enganado, mas vi, principalmente no contrato dezembro, algo como uma divergência baixista do gráfico de barras com o IFR. Veja se procede. Tem também alguns indicadores que acompanho diariamente em meu banco de dados e que gostaria de colocar aqui, vamos ver o que vc acha disso: ‐ Diferencial de base (São Paulo x 11 praças Brasil menos RS) = 11,44%; a média pra data de 5 de novembro dos últimos 8 anos é 7,66% ‐diferencial @ do boi (para descontar) x carne = 8,77%; a média para os dias 5 de cada mês neste ano foi de 5,24%. 8,77% é o diferencial mais aberto dia a dia desde 23/7. ‐diferencial boi x bezerro para o (SP X SP) em 2,55. ‐escala média fora e São Paulo = 4,5 dias pro boi; 4,8 dias pra vaca. Olhando estes quatro indicadores de curto prazo citados acima, três deles são nitidamente baixistas, contra um altista, que é a escala curta. Por isso, comprei há uns dez dias umas put de R$100,00 para dezembro e quinta-feira umas put R$105,00 para novembro. Não está dando pra montar posição de futuro com tamanho boom num mercado violento desses. Um coice pra cima dia desses arrebenta qualquer um! Fiz também uma analise de clima x preço, onde eu peguei anos em que tivemos a chegada de chuvas em set/out de forma significativa, na região sul do MS (lá chove mais cedo, junto com Rondônia, não é?) e então calculei quantos dias após esses eventos o boi fez máxima e começou cair. Exclui dessas análises anos como 2009 (quando choveu o inverno todo e quando chegaram os bois a termo o mercado derreteu) e 2006 (quando no auge do abate de vacas começou a chover boi a termo em 20 de out). Nesses anos, não houve uma relação direta entre volta das chuvas e fim da alta de boi a pasto. Veja os números que obtive: Como nesse ano tivemos seca muito forte e o boi subiu “muuuuuito”, faço uma analogia do boi hoje como um avião particular que pode voar a 1500 metros de altitude e está a 2400m. Sim, uma avião desses consegue subir mil metros acima do que indicam os manuais, mas a primeira lufada de vento...ele despenca uns 250 metros, já que o ar a 2400m é muito mais rarefeito. E esta lufada de vento seria pra mim os bois a pasto da região Naviraí/Dourados/Nova Andradina/Amambai/Deodapolis, onde choveu 320mm na última semana de setembro e mais 100mm ao longo do mês de outubro. Se nós pegarmos os prazos ocorridos entre a chegada da chuva e o começo da queda/fim da alta na BMF nos anos pesquisados acima, temos um prazo médio de 40 dias entre a chegada com força das chuvas e o ponto de inflexão na BMF (não no Esalq, que tem um delay de uns 7 dias). Isso nos sugeriria que a queda, se é que vai ocorrer, deveria ter começado já no dia 3 de novembro, com um prazo final em 12 de nov (que foram os 49 dias do ano 2000). Vamos ver se essa lógica prevalece. Todo mundo esta falando que esse ano o crescimento econômico esta animal e tal. Concordo, mas tudo tem um preço. Em 1994 o boi subiu 70% de julho até o topo, mas cessou a alta em 25/10. A economia naquele ano cresceu a uma taxa de 17,5% ao ano no segundo semestre, após a entrada do Plano Real, contra 4% estimados pra este ano. Quando se vai à estratosfera, as referencias ficam muito confusas. Existe a possibilidade de, por exemplo, o rebanho este ano estar “muuuuuito” menor do que as estimativas e muito menor também, relativamente, que 1994 e, então, não apenas a demanda, mas a falta de oferta também, levarão o mercado mais pra cima. Acho que esse será o caso se a alta sobreviver a esta semana que entra e continuar. Abs. Pedro. Resposta: Tem razão. No sul do Mato Grosso do Sul choveu bastante. Se você reparar, o mercado inverteu. A alta que vinha forte no MS perdeu o ímpeto e Goiás, por exemplo, hoje já vale mais. Atribuo isso já ao aumento da oferta do MS. Fora do MS a arroba ainda está subindo, falta boi. É só aumentar mais um pouquinho a oferta aqui, a meu ver, os compradores tentarão parar de subir os preços nos outros estados para compensar, independentemente da falta de bois por lá. É isso que o mercado futuro está vendo? Nessas duas últimas semanas ele ainda está subindo, mas é uma alta vacilante, como que pisando em ovos, a meu ver. No contrato de novembro ele demorou a furar os 110 reais e agora está vacilando nos 113 reais. Segundo o relatório dessa sexta-feira da Scot Consultoria, "A sensação é que, onde o boi gordo ainda não chegou a R$100,00/@, os produtores estão forçando o pagamento por, pelo menos, este valor." Talvez possa ser isso. Talvez o número mágico 100 fora de SP é o que esteja pegando. Talvez seja isso que o mercado futuro esteja esperando acontecer. Agora, sobre o contrato de dezembro, o que você falou é verdade. Está com uma divergência negativa. Observe acima. Isso é potencialmente baixista e deve ser levado como mais um sinal que o mercado “já está chegando nos limites”. Seguindo em frente, mais algumas mensagens de leitores comentando sobre fêmeas. Rogério, Peço, se possível, fazer comentários sobre o preço da desmama fêmea, ou informar onde conseguir na “net”. Muito obrigado. Célio. Resposta: Célio, preços da fêmea desmama não tive muito tempo de procurar, mas tenho os dados da novilha. O gráfico está abaixo. Observe que os preços levando-se em conta a inflação atualmente estão entre 700 e 800 reais, aproximadamente na mesma posição onde os mesmos preços estavam na virada do ciclo pecuário anterior entre 2002 e 2003. Boa Tarde Rogério, sou um leitor assíduo da Carta Pecuária, e gostaria que o senhor comentasse um pouco mais nessas próximas semanas sobre o futuro do mercado do bezerro, para 2011 e 2012, com as estatísticas de abate de fêmeas. Pelos gráficos e comentários que o senhor tem feito há algum tempo sobre isso, me parece que as ofertas aumentarão no ano que vem e no próximo, mas ainda estou inseguro sobre estas afirmações, quero saber o que você pode comentar a respeito. Muito obrigado, e meus parabéns pelo excelente trabalho da Carta Pecuária! Stefano Vareschi Sarto Resposta: Essa semana estava trocando figurinhas com o Fabiano Tito Rosa, que hoje trabalha no Minerva. A gente estava conversando algo ao redor disso, sobre a participação das fêmeas no abate nacional e a sua influência no ciclo pecuário. Não é obviamente uma resposta definitiva, pois esse é um assunto em evolução, mas é onde está meu pensamento. É a mesma coisa que escrevi na Carta Pecuária de Longo Prazo, publicada a umas semanas atrás. (...) Mas olha só. Você tem razão, só que a diferença do nosso raciocínio é levar em consideração o delay que há entre o aumento do abate ano a ano e a sua consequência no market share da fêmea. O raciocínio que fiz é idêntico ao seu, mas no que pude ver nos gráficos é que existe um nível de abate ano a ano que passa a influenciar o market share, que é 10%. Observe o gráfico abaixo que talvez fique mais claro o que disse. Esses gráficos, o de cima é o mesmo que coloquei no texto, o abate ano a ano, abaixo é esse igual ao seu. Quando a gente plota os dois juntos fica mais claro o que estou querendo dizer. O abate precisa ultrapassar +10% para poder mudar o market share. Entre o low do abate de fêmeas ano a ano até esse abate começar aumentar o market share da fêmea passaram-se 19 meses entre 2002/2003. Entre o low do abate atual até agora passaram-se 14 meses. A premissa que fiz é supor que acontecerá no abate de fêmeas daqui para frente algo parecido com o que ocorreu nas outras vezes. Talvez a premissa esteja errada, talvez. Mas me sinto seguro porque a força por trás da variação da oferta’’ de fêmea é enorme, como o gráfico mostra. Depois que ela muda de direção nada o tira do rumo, porque é um navio em movimento com uma inércia monstruosamente grande. Não há como parar o abate de fêmeas simplesmente porque não cabe mais fêmeas nos pastos, grosso modo. E produtividade por área não é um fator determinante para as fêmeas, ou seja, não dá para contra-argumentar que haverá ganho de produtividade para absorver essas novas fêmeas nos pastos. Fêmea é criada em pasto inferior, e quando o capim vai ficando rapado, o cidadão vende um pouco. Coletivamente esse "um pouco" vira "um mar". Essa é a razão de eu preferir usar o abate ano a ano ao invés do market share. O abate ano a ano dá o sinal com bastante antecedência. Seguindo em frente, mais uma mensagem de um leitor: Prezado Rogério, continuo seu leitor regular. Tenho aprendido muito, pelo que agradeço penhoradamente. Não perco oportunidade de indicá-lo como leitura obrigatória para todos aqueles que querem aprender a olhar o mercado com mais profissionalismo. Já estamos cansados de perder dinheiro por pura ignorância e não saber usar instrumentos de análise disponíveis hoje na mídia. Aprendemos a "tocar" o negócio com nossos pais mas o mercado mudou, as condições hoje são outras. Se não for demais, gostaria de solicitar uma análise sua focada no mercado de fêmeas. As informações que você disponibiliza estão centradas no boi gordo e as categorias de reposição. Quanto a fêmeas, como você ja disse anteriormente em uma das edições da Carta Pecuária, entram em determinado momento do ciclo pecuário empurrando a queda de preços do boi. Como está o mercado de fêmeas? E a relação de troca por bezerros e boi de pasto? Você regularmente está fazendo uso dos dados de abate de fêmeas. Você tem dados sobre ágio da fêmea em relação aos preços do boi gordo, poderia atualizá-los? E sobre diferencial de base de preços das regiões em relação a Sao Paulo? Aproveitando, também sou motociclista e ando com muita "inveja" de você (brincadeira, é claro!). Muito obrigado e muita saúde para você e sua família. Abraços, Ricardo Resposta: Ricardo, sobre as fêmeas acho que no momento o que já escrevi acima é o que tenho em mente. Sobre o diferencial de base das outras regiões sobre São Paulo comentei na CP passada. Sobre o ágio do boi sobre a vaca, segue o gráfico abaixo. Quando a linha preta cai isso quer dizer que a vaca se valorizou perante ao boi. A vaca veio se valorizando perante ao boi desde 2004. No pico, em 2004, a arroba do boi valia 25% a mais que a vaca. Em 2009 essa diferença passou a ser apenas 5%. Atualmente ela está ao redor de 12%. É nítido aqui, pelo menos para mim, o preço da vaca perdendo força e passando a ter uma oferta relativamente maior que a do boi, se olharmos apenas para o ágio em seus preços. Isso confirma os gráficos anteriores do abate de fêmeas, que mostra o acréscimo do abate nesses últimos meses. Não vejo uma mudança significativa nesse cenário, ou seja, ainda vejo a fêmea aumentando sua participação no abate e a diferença de preço de arroba entre os dois sexos aumentando. Não se engane com o mercado bombando atualmente, caro leitor. O ciclo pecuário está em movimento. O abate de fêmeas de uns anos atrás foi quem trouxe o mercado em alta atual. No passado recente estávamos retendo vacas. Não estamos mais retendo vacas. O abate voltou a aumentar. No seu devido tempo nos próximos anos quem dará o tom será o descarte de fêmeas. Essa é uma das razões que meu olhar já está para 2011 e 2012. Sob o ponto de vista do que um pecuarista pode fazer agora é ir vendendo seus bois gordos e repondo os animais na medida em que consegue bons preços de reposição. Só que isso é uma ação de 2010 ainda. Se focarmos muito para o mercado em alta atual e os expressivos preços da arroba nos dias de hoje, deixamos de olhar para o futuro, para aonde esses animais de reposição que estão sendo comprados agora estarão sendo abatidos. E muito me preocupa isso atualmente. É aonde tenho olhado com muita atenção para os contratos futuros de 2011 na bolsa. O mercado jogou a safra de 2011 com a arroba ao redor de 94 reais. Esse valor é um valor ao pico da entressafra de 2008, se descontarmos a inflação. Acho um bom preço.
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