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Scot Consultoria

Um bom momento


Segunda-feira, 27 de setembro de 2010 - 15h18

Administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.


É isso que temos hoje. Observe o gráfico abaixo. Para todos os efeitos a arroba nessas últimas semanas encostou novamente nos picos de 2008. E agora? Vai subir mais ou vai cair? Não é tão simples assim. Me acompanhe aqui. Praticamente sem parar a arroba veio subindo desde dezembro de 2009, observe a seta. Saímos de R$75,00/@ para R$94,00/@ desses dias. Uma alta, vai, de R$20,00/@ para arredondar. Nesse ínterim o mercado consumidor veio absorvendo a alta e, ao mesmo tempo em que o consumidor ia pagando mais pela carne, parte dessa alta também foi que ela era impulsionada por uma baixa oferta de animais gordos. Uma coisa leva a outra e hoje estamos novamente trabalhando bem próximos dos picos históricos da arroba. Não se esqueça que quem paga essa arroba mais cara são os frigoríficos. Então, da mesma forma que, quando o mercado permite, que eles abaixam os preços pagos na arroba, quando o mercado exige, eles sobem os preços. No gráfico tracei essa linha que conecta os dois picos recentes de preço, 2008 e 2010. Isso tecnicamente é o que a gente chama no mercado de teto. A arroba estabeleceu um teto temporário. Esse teto mostra para nós a importância desses valores atuais e que os frigoríficos tentarão, com todas as forças, não serem forçados a romperem esse teto. A estratégia agora é ganhar tempo. Tentar alongar as escalas, colocar os bois a termo na parada, fazer o que tiver que ser feito para adiar ao máximo a possibilidade de ter que pagar mais pela arroba. O objetivo é não deixar a arroba romper para cima esse teto. Para cima, tecnicamente, não tem limite de preço. Mas sinceramente não estou tão altista assim mais não. Para mim o que tivemos até agora foi muito bom. Esperava algo parecido com isso daí. Talvez um pouco mais para cima, como disse no texto passado, talvez um pouco mais. Só que tenho que dar o braço a torcer porque quando jogo a arroba sobre a inflação tenho um gráfico que está me falando que “hei, o que você tem aqui está de bom tamanho, rapaz.” Vamos ver o gráfico. Quando a gente conecta através dessa caixa verde os picos desde o início do Plano Real, vemos nitidamente o quanto a arroba hoje está bem precificada historicamente. Então, o caso de ela ter mais gás para subir fica um pouco mais difícil quando se tem em mente esse tipo de informação do que já aconteceu antes. Não se engane, caro leitor. Em todas essas ocasiões em que a arroba subiu nesse gráfico, em todas elas ela subiu porque o mercado consumidor estava bombando, como agora, ou foi por um problema de falta de boi gordo. Em todas as ocasiões o mercado fez o que tinha que fazer — subiu forte para equilibrar a relação oferta x demanda, mas depois de algum tempo veio abaixo para esfriar os ânimos, que ao ver a coisa subindo começam a projetar valores e realidades que são desconectadas da realidade. Não podemos nos dar ao luxo de ser levados pela febre da alta até porque ano que vem quero estar aqui vendendo boi gordo novamente. Isso não quer dizer que estou certo, que dessa vez o mercado pode vir mais para cima do que já foi até agora. O que estou querendo dizer é que enxergo atualmente como um bom momento, independente do que o futuro pode trazer a mais para os preços. Já fui ganancioso no passado. Em situações parecidas anteriormente já fiquei cego achando que iria subir mais, arrogantemente achando que o pecuarista merecia mais. A dura lição que aprendi foi a seguinte. O mercado não dá a mínima para o que eu, você, o frigorífico ou o supermercado acham. Ele simplesmente se move inerte a tudo isso, baseado em milhares de decisões individuais desconexas de cada um comprando e vendendo seus animais diariamente. Então, ao invés de brigar com o mercado, aprendi a ter ele como meu aliado. A saber interpretar ele a meu favor e não ao contrário. Isso quer dizer que quando enxergo um bom momento, paro para a ação. Quando não consigo enxergar um bom momento. Espero. Hoje, por exemplo, acho um bom momento de preço da arroba. Teve ocasiões que achei um péssimo momento da arroba, como em dezembro de 2009. Daí parto para a ação também, mas com um olhar mais para segurar os preços do boi magro. O que o mercado futuro está nos dizendo hoje em dia? No gráfico da página anterior estão traçados a projeção da arroba para o final de 2010 e para 2011. A projeção é essa linha vermelha. Observe que mesmo para a safra de 2011 a arroba está sendo projetada acima da inflação. Isso é muito acima do que ocorreu em média nesses últimos anos, o que demonstra o que o mercado está estimando para 2011 como um ano ainda apertado. Se você reparar, a safra de 2011 está sendo projetada perante a inflação como a melhor da história do Plano Real. Que tal isso para otimismo? Concordo que 2011 ainda é um ano apertado, mas não estou tão otimista assim. Concordo também que a falta de boi gordo e vaca gorda fará o mercado ficar aquecido, mas daí a dizer, como o mercado futuro está dizendo taxativamente, que será a melhor entressafra da história é um pouco fora dos padrões demais para o meu gosto. Em bom português. R$88,00/@, à vista, para SP é um preço interessante. Então, continuando na linha dessas últimas semanas sobre tecer um olhar para 2011, essa é a minha visão atual. Não se esqueça que essas coisas são para a gente já ir exercitando as idéias para 2011 e ir se preparando para a hora de agir, até porque bons momentos não caem todos os dias no nosso colo.
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