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Scot Consultoria

Mercado físico e futuro


Terça-feira, 31 de agosto de 2010 - 11h01

Administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.


E eis que nos aparecem essas últimas três semanas e mexem profundamente com os preços do mercado. Arroba do boi, taxa de reposição e perspectiva de mercado futuro tiveram mudanças de patamar significativas nesse período. A maré está subindo. O mercado está fazendo o que deveria fazer. Tivemos dois anos de mercado deprimido, para baixo, com taxa de reposição nos piores níveis históricos. Dois anos. É bastante tempo. É bom ver o mercado funcionando novamente. É bom notar que os fundamentos ainda valem, afinal de contas. A arroba já subiu nessa entressafra 27%, bem acima da alta de 8% em 2009, mas abaixo dos 32% de alta em 2008 e bem abaixo dos 48% de alta de 2007. Observe o comparativo nesse gráfico. Vinte e sete por cento de alta é a média de longo prazo de alta na entressafra. Estamos dentro da média. E o mercado futuro? Como anda? Os leitores sabem que fundamento minhas análises sobre o mercado físico do boi. Penso que o mercado físico é mais importante que a bolsa. Por quê? Bom, para início de conversa no mercado físico praticamente só existem produtores de um lado e frigoríficos do outro. Ou seja, é um mercado mais honesto em termos de preço. O cara quando vai vender boi, ele realmente está esperando receber o dinheiro da venda, e o frigorífico tem que ter o dinheiro para pagá-lo. Vejamos, 100 bois com 18@ hoje no MS valem R$153.000,00. O produtor espera receber esse valor à vista. Na bolsa, com 100 bois você vai movimentar cinco mil reais, e olhe lá. Especuladores de boi físico? Comprar boi gordo para poder vender daqui a cinco dias tentando ganhar no preço? Em primeiro lugar o boi sente o transporte, em segundo lugar tem-se que pagar os impostos de compra e venda do gado, em terceiro lugar o cidadão tem que ter onde colocar esses animais. Não, nunca ouvi falar de especulação com boi no mercado físico. Na bolsa, por outro lado, 50% dos negócios diários na bolsa são pura especulação de preços. É o fundo de investimento, é o banco, é o dentista, o médico, o proverbial cunhado que gosta de um pouco mais de risco, aquele cara que você conheceu, etc... Tem um zoológico inteiro que opera em bolsa que não está envolvido diretamente na produção — compra e venda — de boi gordo. Então, caro leitor, sempre olho para bolsa, sim, mas nunca olho para a bolsa diretamente. Sempre como um subproduto do mercado físico. Sendo assim, vamos olhar para o contrato mais negociado na bolsa no momento — o contrato de outubro. Observe que estamos dentro do que o Dennis Gartman chama de “A Caixa”. A caixa é uma conta técnica simples, mas o que importa para nós é que essa recente alta da arroba trouxe o mercado para dentro de um, digamos, objetivo de alta. Ou seja, a arroba fez o seu dever de casa subindo do jeito que subiu ultimamente. Depois disso, vai que a arroba queira subir mais? Temos esse próximo objetivo também definido tecnicamente de R$98,00/@. Aqui quero dizer que hoje o produtor não tem mais um preço ruim da arroba não. Essa arroba à vista ao redor de R$92,00 não pode mais ser considerado um preço baixo, não senhor. Pode subir mais, mas aí é só uma questão dela sair de “ótima” para subir a “muito ótima”. É uma questão secundária, tendo em perspectiva o tanto que nesses últimos dois anos foi ruim de se vender boi gordo. Definir se vai vender a R$92,00/@ ou R$92,50/@ ou R$93,15/@ se torna uma questão secundária, principalmente se olhamos para o gráfico de longo prazo da arroba, exibido abaixo. Tenho colocado esse gráfico aqui com bastante freqüência ultimamente e a razão é que ele, hoje, para mim, em termos de se olhar os preços da arroba, é de longe, “beeeeeeem” de longe mesmo, o melhor. Note que o gráfico está atualizado com a oscilação da arroba vs a inflação desde o início do plano real até hoje e mais — também coloco a projeção do mercado futuro na conta e a projeção da inflação. Somando tudo temos uma perspectiva de longo prazo dos preços do boi. É uma forma de igualar a oscilação de preço dessas quase duas décadas de mercado. Não vou encher lingüiça aqui não. Simplesmente o mercado está projetando excelentes preços relativos à inflação. É muito simples. Somente em 1994, 1999, 2002 e 2008 você conseguiu vender a sua arroba, o seu boi, nesses preços altos como hoje. Na mesma medida em que você está conseguindo vender bem seus animais agora, você também está conseguindo comprar bem a reposição. A taxa subiu forte nesses últimos dias, como você pode ver no gráfico. Observe que saímos de 1,80 para 2,30, ou seja, praticamente meio bezerro a mais por boi vendido. Pode não parecer nada, mas da venda de 100 bois gordos, ao invés de comprar 180 bezerros o pecuarista consegue levar 230 para casa. É uma grande diferença, sem dúvida. Por outro ponto de vista, normalmente se a fazenda já está cheia de gado, o pecuarista irá vender os 100 bois e comprará somente 100 bezerros para colocar no lugar. A diferença, o saldo em dinheiro que sobra a mais que antes ele poderá utilizar para investir na propriedade ou melhorar o seu padrão de vida, o que desejar. Não é pouca coisa e é assim que começa novamente a “onda” de investimentos na engorda — motivada pelo melhor lucro na operação. Só mais um último gráfico. O gráfico do frango. Observe que ele também tecnicamente rompeu a sua tendência de baixa e está trabalhando em alta. É uma boa notícia para o boi. Tira um pouco da pressão. Mas por enquanto a coisa está indo bem. Vamos ver o que vai acontecer quando começar a entrar os bois confinados para valer. Dizem que começa a partir do dia 15 de setembro.
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