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Scot Consultoria

O momento é bom


Segunda-feira, 23 de agosto de 2010 - 13h54

Administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.


“Nós não fazemos as regras; nós apenas tentamos lembrá-las.” - Eric Fry Reli recentemente o livro Ensaios, de Montaigne, escrito em 1580. Tenho uma filha de 1 ano e oito meses, então reli com atenção redobrada especificamente o capítulo “Da Educação das Crianças”. O livro foi escrito pouco depois do descobrimento do Brasil e é impressionante como é atual. É uma pérola, caro leitor, se você tiver filhos ou pretende ter. Eis um trecho: Assim os homens: pouco custa semeá-los, mas depois de nascidos, educá-los e instruí-los é tarefa complexa, trabalhosa e temível. O que se revela de suas tendências é tão tênue e obscuro nos primeiros anos, e as promessas tão incertas e enganadoras que se faz difícil assentar um juízo seguro. Certamente é muito difícil modificar as propensões naturais. Em todo caso, nessa dificuldade, a minha opinião é que as encaminhemos sempre para as coisas melhores e mais proveitosas. E desde logo, segundo a inteligência da criança, começasse a indicar-lhe o caminho, fazendo-lhe provar as coisas, e as escolher e discernir por si própria, indicando-lhe, por vezes, o caminho certo ou lho permitindo escolher. Tudo se submeterá ao exame da criança e nada se lhe enfiará na cabeça por simples autoridade e crédito. Apresente-se-lhe todos em sua diversidade e que ele escolha se puder. E se não o puder, fique na dúvida, pois só os loucos têm certeza absoluta em sua opinião. O silêncio e a modéstia são qualidades muito apreciáveis na conversação. Educar-se-á o menino a mostrar-se parcimonioso de seu saber, quando o tiver adquirido; a não se formalizar com tolices e mentiras que se digam em sua presença, pois é incrível e impertinente aborrecer-se com o que não agrada. Que se contente em corrigir-se a si próprio e não pareça censurar aos outros que deixa de fazer; e que não contrarie os usos e costumes. Que evite essas atitudes indelicadas de dono do mundo, e a ambição pueril de querer parecer mais fino por ser diferente; e não procure mostrar seu valor pelas suas críticas e originalidades. Que a consciência e a virtude brilhem em suas palavras e que só a razão tenha por guia. Ensinar-lhe-ão a compreender que confessar o erro que descobriu em seu raciocínio, ainda que ninguém o perceba, é prova de discernimento e sinceridade. Teimar e contestar obstinadamente são defeitos peculiares às almas vulgares, ao passo que voltar atrás, corrigir-se, abandonar sua opinião errada no ardor da discussão, são qualidades raras, das almas fortes e dos espíritos filosóficos. Ensinar-lhe-ão que, em sociedade, deve prestar atenção a tudo, pois verifico que os primeiros lugares são muita vezes ocupados pelos menos capazes e o bafejo da sorte quase nunca atinge os competentes. Terá que sondar o valor de cada um: boiadeiro, pedreiro ou viandante. Cada qual em seu domínio pode revelar-nos coisas interessantes e tudo é útil para nosso governo. As próprias tolices e fraquezas dos outros nos instruem. Observando as graças e maneira de todos, será levado a imitar as boas e desprezar as más. Habituai-o ao suor e ao frio, ao vento, ao sol, aos acasos que precisa desprezar; tirai-lhe a moleza e o requinte no vestir, no dormir, no comer e no beber: acostumai-o a tudo. Vocês já devem saber através de textos passados que não assistimos TV, caro leitor. Nem eu, nem minha esposa, nem minha filha. Zero. É impressionante e ao mesmo tempo comovente ver a pequenina crescendo sem a influência da TV — sem desenhos, sem propaganda nociva, sem modismos, sem consumismo. Por outro lado, ela adora livros. Adora ler “historinha”. Pede várias vezes ao dia. Adora música. Música ela tem todo os dias. Esta semana mesmo coloquei no Ipod umas 300 músicas da década de 50 e 60 dos Estados Unidos para ela escutar. Está adorando e dançando junto. Ah, também não tomamos coca-cola, não comemos doces, sorvetes e nem “bolo de chocolate”. Não temos essas coisas dentro de casa e não damos quando saímos na rua. Ela está sendo criada livre desse tipo de vício, e se depender de nós continuará assim até ela ter idade suficiente de conseguir discernir entre um consumo recreativo de qualquer coisa e do consumo movido ao vício em açúcar, gordura e sal e à repetição de más influências via TV. Porque estou dizendo essas coisas? É que há opção, há escolha para se criar uma criança. É um posicionamento que minha esposa e eu tomamos. Dizem que a gente muda depois que tem filhos. Muda nada. Já pensava que iria educar assim minha filha anos antes dela nascer. O que quero dizer é que há alternativa que não passa pela TV, pelos doces e pelo consumismo. Não é necessariamente o caminho mais fácil, sei por experiência própria, o aprendizado é mútuo (sei todas as musiquinhas de cantiga de roda de cor), mas pelo menos não terei esse sentimento de culpa sobre meus ombros por não ter feito o que o meu coração mandou. Bom! Tirei essa coisa do peito. Agora vamos ao mercado! Depois de um movimento tão forte de baixa como o ocorrido entre 2008 e 2009, é natural uma recuperação nos preços. A arroba hoje se encontra em cima de sua variação média de longo-prazo, e uma coisa que a gente pode contar é que a arroba não ficará ao redor dessa média por muito tempo. Os preços hoje valem ao redor de 10~12% mais do que valiam em agosto do ano passado. Se esse movimento de alta continuar, é de se esperar que essa valorização continue a subir. É mais ou menos o que o mercado futuro está nos dizendo. A arroba para novembro hoje vale R$92,00, pico de preço, bem acima dos R$89,00. Mas R$92,00/@ é um bom preço? Quero dizer, se estamos enxergando o mercado corretamente, estamos em uma fase de recuperação das cotações. Tanto no mercado consumidor, doméstico, quanto nas exportações, temos um pano de fundo altista. Na oferta também não há sinais, praticamente já em setembro, que estão entrando de forma mais agressiva animais de confinamento, como podemos ver na representação das escalas de abate dos últimos meses, desde 2006. Observe que hoje é recorde de baixa. Nunca as escalas estiveram tão curtas. A arroba já teria explodido para cima nas ocasiões menos “apertadas” que essa que estamos passando. Essa é uma alta que os frigoríficos não estão ganhando dinheiro, como se vê na divulgação dos resultados financeiros dessas empresas com capital aberto. Eu fico intrigado em ver como é que pode empresas tão grandes, que empregam tanta gente, fazem um barulho danado, movimentam um mundo de mercadorias, trabalharem tão próximas assim do fio da navalha. Tem um ditado no meio frigorífico que diz que um frigorífico pode comprar uma fazenda, mas um fazendeiro não pode comprar um frigorífico. É a mais pura verdade. Dou o braço a torcer sobre isso. Por outro lado, também é verdade que é mais fácil um frigorífico quebrar em seu próprio negócio que um fazendeiro ir à falência mexendo com pecuária. Mas voltando ao assunto. São R$92,00/@ um bom preço? Observe o gráfico abaixo. Nesse gráfico estão desenhadas linhas com o que aconteceu com a arroba DEPOIS que ela atingiu os picos de preço. É preciso ter uma coisa em mente. Vamos combinar. TODOS os picos anteriores já foram batidos, ok? Os picos foram em 1994 (R$33,78/@), 1999 (R$42,96/@), 2002 (R$59,07/@). Só falta esse nosso agora de 2008 (R$94,41/@). A questão levantada nesse gráfico é a seguinte. Se olhássemos todas essas ocorrências reais anteriores a 2008 sob o crivo dos preços atuais, como se comportou a arroba? Observe que o pico de 2008 é a linha vermelha. A primeira coisa aqui é que essa recuperação atual ainda é jovem. Todas as anteriores demoraram mais para os preços definitivamente ultrapassarem o pico anterior. A mais curta e, também por isso mesmo, a alta mais violenta foi em 2002. A arroba lá chegou a valer mais de R$100,00, em preços de hoje. Observe que em todas as ocasiões a arroba chegou a valer mais que R$95,00. Ou seja, respondendo à pergunta, R$92,00/@ hoje é um bom preço para o contrato de novembro? Bom, é sim um bom preço, mas ainda é abaixo do que ocorreu em situações parecidas no passado. Em situações parecidas, nas outras fases de recuperação da arroba, ela chegou a valer acima de R$95,00. Ou seja, repito aqui o que venho repetindo já faz quase um ano. Talvez será surpresa o que vou dizer aqui, tendo em vista o quanto os contratos subiram recentemente, mas na minha opinião o mercado futuro ainda enxerga o mercado físico com um viés pessimista. Melhorou bastante do que era, mas o viés ainda é pessimista. “Tá bom”, vamos dizer que o viés do mercado futuro é mini-pessimista, ok? Mas aí reside uma questão importante. O que se faz, qual a ação a ser tomada mediante isso? Olha, caro leitor, existe uma diferença entre um pássaro na mão e dois voando, então são esses momentos que separam os meninos dos homens. São esses momentos que separam os prudentes dos gananciosos. Os preços atuais podem melhorar, mas tendo em vista os preços ruins que passamos nesses últimos dois anos, quem tem boi gordo agora, não é hora de brincar com a sorte. Como disse essa semana no twitter (www.twitter.com/cartapecuaria): “Olhe o mercado com atenção esses dias. Está em um bom momento para o produtor. Especialmente em seguro na bolsa. Fale com seu corretor.” Só digo esse tipo de coisa quando a gente mesmo faz essas operações, afinal de contas, não ganho com a indicação. Se indico, é porque fiz algo parecido, e fizemos essa semana, assim como temos feito, já faz mais de seis meses, operações de seguro de venda de boi na bolsa. É muito melhor que operar comprado ou vendido diretamente no mercado futuro, e muito menos arriscado também. Porque disse que está em um bom momento para o produtor? Se lembre que comentei há umas semanas sobre o gráfico de longo prazo da arroba do boi? Então, foi exatamente em cima desse gráfico que tomei essa decisão essa semana. Para você ver que coloco minhas ações onde minha boca está. Observe o gráfico abaixo. É muito simples. Somente quatro vezes, quatro ocasiões, quatro rápidos momentos nesses dezessete anos de mercado você conseguiu vender seus animais nesses níveis de preços. Agora, com o mercado futuro projetando um pouco mais de alta até o final do ano, esse momento se enquadra como a quinta oportunidade de se vender bem seus animais. A arroba projetada no mercado futuro vale 5% acima da inflação. Isso é ótimo. Se você fizer seguro na bolsa poderá se resguardar dos ganhos até o momento – e mais do que isso — poderá também ganhar um pouco mais se a arroba subir além do que o mercado futuro está enxergando. Tudo isso a um custo de menos de R$150,00 por caminhão. Poderá o mercado nos surpreender e subir mais, muito mais do que as previsões mais altistas feitas hoje? Já ouvi caboclo falando em arroba acima de R$100 este ano. Pode ir até lá? Claro que pode, caro leitor, como também pode não subir. A questão é menos tentar acertar “na mosca” e mais tentar vender razoavelmente bem os animais. Se a gente conseguisse fazer isso todos os anos seria uma tarefa mais que suficientemente bem completada. A gente não reclama que a arroba está sempre barata? Está ela aí, “ó”, na sua cara, sendo cotada em linha com os melhores momentos da história. O que você vai fazer a respeito?
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