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Scot Consultoria

Reposição e diferenciais de base


Segunda-feira, 19 de abril de 2010 - 15h29

Administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.


Você reparou no mercado do bezerro ultimamente? É impressionante. Desde dezembro a arroba já subiu 13% e o bezerro subiu 17%. O bezerro está 4% pontos percentuais acima, em relação à alta do boi. O boi subiu? Deu uma folgadinha aí nos últimos meses? Bom, né? O bezerro subiu mais! A pressão em cima do preço do bezerro está enorme. Está enorme! Hoje uma arroba do bezerro, por exemplo, vale R$115,00. Do boi vale R$82,00. A taxa de reposição média entre os dois desde dezembro é 2,05 bezerros/boi. Hoje está em 1,92 bezerros/boi. Mas o bezerro está caro ou barato nesta história toda? Quero dizer, dentro da análise do ciclo pecuário onde você leva em consideração os abates de fêmeas para a precificação do boi você vê que temos um preço do bezerro historicamente muito bom. Por que está bom? Porque a reposição está muito baixa. Então está caro o preço do bezerro relativo ao boi. O bezerro está caro em relação ao boi. A gente começa a notar que, de fato, é isto mesmo, que a retenção de fêmeas já está diminuindo, pois já temos novamente uma aceleração no abate de fêmeas. O pessoal que estava retendo as fêmeas agora está começando a soltar mais fêmeas para o mercado. Ao mesmo tempo, por mais estranho que possa parecer já que a venda de fêmeas voltou a aumentar, a gente vê que o bezerro está caro também porque a procura por bezerras fêmeas está muito grande. Então este preço de bezerro está atrativo. O cara está chegando com o bonde andando e pegando o final do ciclo de retenção de fêmeas achando que descobriu o Brasil! Vai entender! O bezerro está bem precificado nestes valores atuais. O que está mal precificada aqui é a arroba do boi. Então esquece. O bezerro nestes preços gera uma pressão enorme sobre a arroba do boi. Quem vende boi, segura o boi. Como é que ele vai repor? O cara que tem bezerro não vende abaixo dos preços atuais. Quem tem boi gordo, para repor, não tem condições de repor nestes preços e esperar lucro nos níveis atuais de arroba. Tá... Ele faz a reposição porque tem que repor, né? Tem que pedalar. Que está caro para ele repor, isto está. Veja a taxa de reposição, para ela voltar para 2 bezerros/boi, hoje, o bezerro mantendo o preço que está, a arroba do boi tinha que estar valendo, no mínimo, R$86,00. Isso é acima do que o mercado futuro está jogando para a entressafra! E R$86,00/@ não é, convenhamos, um preço para empacotar e levar feliz da vida para casa. Então para você ver como está distorcida essa relação. Na minha visão a coisa está muito pressionada. Hoje, se você me perguntar qual o mercado que tem mais potencial de mudar de patamar de preços eu diria que é a arroba do boi. Deu esta altinha recente, está tendo agora umas duas semanas de uma acomodação de preço, né? Essa alta deu uma assustada no pessoal que compra. Mas a pressão não está no bezerro não. A pressão está no boi. A “vez” agora está no boi. Não sei não, eu estou meio desconfiado desta arroba do boi aqui. Acho que não é hora mais de vender boi. Quem tem boi gordo tem que vender aos poucos mesmo, ir repondo à medida que vai achando reposição e ir segurando, à medida que pode, para tentar melhorar esta média de reposição. Nós estamos em uma situação muito delicada. Para você ter uma idéia, a última vez em que a reposição esteve tão baixa assim foi em 2002. Maio de 2002. Lá em maio de 2002 a reposição bateu 1,94 (contra 1,92 de hoje). Uma semana depois a arroba começou a explodir de preço para cima. Maio, hein? Não era nem entressafra ainda. Eu interpreto este movimento de frigoríficos desesperados atrás de boi para agora e, mais importante ainda, de bois a termo para a entressafra como um sinal altista de mercado. E acho que quem é produtor tem que agir de acordo. Aproveitar estes bons momentos de preço, quando vierem, para conseguir, se possível, travar seu custo de produção na bolsa. Travando o custo de produção, o que vier acima dele é só alegria. Repetindo, está muito barato o seguro de venda de boi na bolsa para a entressafra. Esta semana fiz um pouco para mim. Sugiro que você veja com carinho essa possibilidade. Está compensando. Bom, outro assunto. Comentei semana passada que falaria sobre os diferenciais de base hoje. Se você reparar na figura 3 a diferença de preços entre a arroba de SP e o Brasil Central estreitou bastante em abril. Mas, peraí. Não estava melhor no final de 2009? Quero dizer, o diferencial de base estava oscilando entre -9,5% ~ -8,5%. Melhor, ou seja, o deságio estava menor do que os atuais, entre –11% ~ -9,5%? Sim, é verdade. É por isso que o diferencial de base deve ser usado com cuidado. Ele não é indicativo de alta ou baixa da arroba, e quem utilizar ele para esse fim, como tenho visto ultimamente por aí os caras, principalmente de corretoras falando “ah, o diferencial está se estreitando, a arroba vai subir”, está usando o mapa rodoviário do Brasil para dirigir no Paraguai. Ferramenta errada para o fim errado. A utilidade principal do diferencial de base é para se posicionar em preços de mercado futuro, quando se vende ou compra animais na bolsa e se faz o cálculo aproximado de quanto valeriam os bois na sua região. Por exemplo, se a arroba em SP no mercado futuro está R$85,00 e a base para GO está -10%, isto significa que a arroba para GO valerá no mercado futuro R$76,50, que são os R$85,00 menos 10%. Da mesma forma, utilizando o raciocínio para o mercado à vista, quando, por exemplo, semana passada, em que a arroba aqui em Dourados estava com um diferencial de base de apenas –2,4%, contra uma média histórica para essa época dos últimos cinco anos de –8,0%, nota-se que naquela ocasião era um bom momento para se vender bois. Só isto, simples assim, mas não indicava se ia subir ou se ia cair. Indicava um bom momento apenas, e é esta a forma de se analisar o diferencial de base.
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