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Scot Consultoria

Hipóteses sobre a oferta enxuta


Segunda-feira, 5 de abril de 2010 - 16h22

Administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.


Grande parte do crescimento brasileiro atual vem das exportações para a Ásia, especialmente para a China. Isso já está rolando há tempo, mas tomou um gás ultimamente. A coisa está de tal maneira que a gente está crescendo (o mercado interno) mesmo com o freio de mão do país puxado. Outra analogia — imagine uma panela grande com uma chama bem forte, só que restrita a uma pequena superfície no cantinho da panela. Demorará até a água ferver, mas uma hora ela vai ferver. A panela é o Brasil hoje em dia, a água é o mercado interno. A chama é a China. O problema é quando a chama se apagar. Não precisa nem apagar, basta diminuir. A inflação voltou a se erguer. A maré de inflação baixa está nos deixando. Isso beneficiará a carne? Não sei. No passado beneficiou. O mercado interno está “bombando”. Não dá tempo de aumentar a produção, daí os caras aumentam os preços para lucrar um pouco a mais. Falta investimento, mas isso é crônico aqui. Na última semana comprei uns produtos da Alemanha via internet para a minha moto. A conta, incluindo o frete, saiu R$290,00. Logo depois recebi um e-mail da Alemanha alegando que meu pedido tinha sido transferido para o novo representante deles aqui no Brasil. O representante brasileiro me passou o preço. Os mesmos produtos sairiam por R$715,00, sem o frete! É para ficar “p” da vida ou não?! É ÓBVIO que não comprei. O nó que está atando a taxa de reposição boi vs bezerro não cede de jeito nenhum. Esse é o maior problema da atividade. É um motivo de não ter boi gordo disponível para os frigoríficos. Boi nos pastos tem, sim senhor. O cara vai comprando reposição aos poucos e vendendo boi para pagar. Isso toma tempo e não dá para fazer tudo de uma vez. Qual é o problema destas revistas agropecuárias? Os caras acham que boi é que nem frango? Só se fala de 10 mil, 30 mil, 100 mil cabeças... Essa não é a realidade e, nem de longe, a média do produtor nacional. De novo, qual o problema dessas revistas agropecuárias? Os caras só fazem reportagens em fazendas em que a atividade principal do dono não é a pecuária. Queria ver entrevistar meus primos que vivem exclusivamente da renda de suas fazendas — cadê o dólar? As exportações de carne voltaram a crescer. O real valorizado do jeito que está encareceu de fato a nossa carne, mas quem se importa? Eles estão comprando mesmo assim. Vai comprar de quem, senão do Brasil? Isso não é arrogância brasileira. É só analisar os outros países exportadores. O mercado futuro está, agora, projetando pico de preço da arroba muito próximo dos picos ocorridos no passado, considerando a inflação. Ou seja, os preços estão muito bons atualmente. A reposição boi vs boi magro já esteve melhor. Hoje encareceu um pouco, mas ainda se acham bois magros com preços razoáveis aqui no Mato Grosso do Sul. O frigorífico Independência pagou a primeira parcela da dívida dos pecuaristas. Aleluia! É a primeira vez que ouço falar de um frigorífico que “quebra” e depois paga. Aliás, você já viu a lista dos pecuaristas credores do frigorífico? Eu tenho ela aqui. Vou te falar, é mesmo o retrato da pecuária brasileira. (Não... Não vou te mandar a lista por e-mail.) A Lógica do Cisne Negro, por Nassim Nicholas Taleb. Excelente livro. O outro dele, Iludido Pelo Acaso também é excelente. O abate de fêmeas voltou a aumentar. Está com cara que 2010 será o ano da virada, do fim da retenção de fêmeas. Não gosto de nenhuma dupla sertaneja atualmente popular. Só escapa, por pouco, e só algumas músicas, Victor e Léo. Um fazendeiro matou um advogado dentro do cartório essa semana aqui em Dourados. A história gira em torno de uma sala comercial que esse fazendeiro, já passado dos 70 anos de idade, comprou desse advogado. O advogado estava enrolando fazia um tempo para não transferir a escritura e mesmo na hora, ali na frente do tabelião, não queria. O fazendeiro ameaçou que, se ele não assinasse, mataria ele. O advogado disse que ele não era homem para fazer isso. O fazendeiro disse: “Ah é?!” Levantou-se e deu quatro tiros de pistola no advogado. Morreu na hora. Depois se ficou sabendo que esse advogado tinha posto a sala comercial à venda novamente, mesmo com ela já tendo sido vendida. Antigamente os gordos eram as pessoas ricas e os pobres eram magros, famintos. Hoje é o contrário. Há uns cinco anos tomei uma decisão que hoje vejo que foi muito boa para mim. Parei completamente de assistir televisão e de ler jornais. Hoje sou muito mais bem informado por causa disso. Se você quer entender porque esse tipo de decisão tão radical é só ler os dois livros que recomendei acima. O autor também não é adepto de TV e jornais. Estou seriamente pensando em me mudar para a fazenda e criar meus filhos lá até a idade escolar. Hoje esse tipo de escolha é um privilégio raro. E falando nisso, você reparou como hoje a faculdade virou produto de consumo? Faculdade hoje é que nem TV a cabo. É mais um “item”. Isso só mostra o quanto uma faculdade de primeira linha é mais válida hoje do que era antes. Quanto mais faculdades existirem, menor e mais restrita será a lista das instituições que realmente importam para enviar seus filhos. Para mim, a melhor invenção do mundo chama-se ar condicionado. Para um colega meu a melhor invenção do mundo é o iPhone. As escalas de abate não avançam mesmo com as recentes altas do preço da arroba. “Ah”, ia me esquecendo de comentar sobre isso. Era o que ia dizer no início, mas acabei escrevendo outras coisas que me passaram pela cabeça. Isso que dá não ter um tema definido. Dá para sentir que existem duas linhas de pensamento sobre o mercado hoje em dia. Tem quem acha que essa alta atual é a retomada da alta de 2008 que foi abortada por causa da crise mundial. Que estruturalmente há falta de animais disponíveis e que esta alta veio para ficar e vai surpreender muita gente, subindo mais que imaginaríamos a princípio. Tem quem acha que a alta atual é fruto dos excelentes pastos e da baixa taxa de reposição, forçando o pecuarista a reter seus animais. Esse pessoal diz também que quando chegar o frio e a seca o mercado voltará a ficar ofertado. Especialmente depois da vacinação de aftosa e a força da alta será quebrada com a chegada dos animais de cocho. Vamos ver. Bom, vou parando por aqui. Hoje estou um pouco cansado para pensar além disso.
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