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Scot Consultoria

Dois lados da mesma moeda


Segunda-feira, 15 de março de 2010 - 17h10

Administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.


Nos últimos dias temos passado pelo contrário do que acontece na época de entrega de bois confinados. Nada contra confinamentos, mas a realidade é que todos nós sabemos que no período de entrega, entre agosto e novembro, há excesso de oferta ao mesmo tempo, e quem compra nada de braçada. Agora, por esses dias que tem pasto sobrando e o ESTOQUE fica nas mãos do pecuarista é o momento dele, pelo menos, tentar forçar uma alta sobre a arroba. Quem é o malvado agora? Pecuarista e frigorífico são faces opostas da mesma moeda. Uma hora é um lado, outra hora é o outro lado dela que está dando as cartas. Lembre-se sempre disso. Quem tem o estoque, manda. Com bois nos bons pastos com o ótimo verão, quem dá as cartas é o pecuarista. O frigorífico não tem influência sobre esses animais, pelo menos não no curtíssimo prazo. Nos confinamentos é exatamente o contrário. Qualquer confinamento, qualquer um, está nas mãos dos frigoríficos, mesmo que o confinamento seja de um pecuarista com seus próprios bois. No dia que esses animais entraram no cocho, eles já não lhe pertencem mais, pois para ganhar na velocidade de engorda a pessoa abre mão da negociação do seu gado e do preço que receberá por ele. Os animais, quer você entenda o que estou dizendo quer não, já estão nas mãos do frigorífico. Só há uma forma de sair disso, e é através de negociação direta dos animais na bolsa. Mas isso é assunto para outro dia. Agora, não me entendam mal. Sou da paz. Não tomo nenhum partido. Não sou contra nenhuma forma de negociação de gado até porque faço ou já fiz um pouco de cada uma. Todas são benéficas se feitas com equilíbrio e moderação. Mas na prática, infelizmente, não é isso que a gente vê acontecendo. Mas vamos em frente. Você tem visto o preço do bezerro ultimamente? Observe o gráfico. O preço desse pequeno animal fez uma coisa importante uns dias atrás. Ele rompeu sua longa tendência de queda, e essa é uma informação importante. É importante pela simples razão de que a tendência de queda do bezerro estava “no ar” há bastante tempo, intacta. Se você reparar, ela estava valendo sem falhas desde o início da crise de crédito em meados de 2008. Não é pouca coisa e isso pode ter implicações interessantes na evolução do preço da arroba do boi. Deixe-me mostrar o que quero dizer com isso no próximo gráfico. A arroba do boi e a arroba do bezerro são co-relacionadas, são interdependentes. Essa é uma boa maneira de se ver os dois mercados ao mesmo tempo. Na lata — a arroba do boi busca, no seu devido tempo, a arroba do bezerro. Nesta década tivemos alguns exemplos disso, como é possível observar nas setas que indicam precisamente esses momentos. A grande janela de distorção desse pilar da pecuária está ocorrendo, e isso não deveria ser surpresa para ninguém, exatamente nesse período pós-crise de crédito desde 2008. Isso também é fácil de enxergar no gráfico. A pergunta seguinte é: vamos voltar à normalidade desse pilar ou ainda continuaremos com essa distorção? A minha opinião é que no seu devido tempo voltaremos ao normal. E normal seria a arroba do boi para cima a fim de equilibrar novamente a conta da engorda. É por isso que existe essa sensação de angústia de quem inverna boi. Realmente, quem chia está com razão. A coisa tá feia! Vai melhorar em 2010 essa relação? Olha, não sei, mas aqui comigo acho que sim, mas não a ponto de explodir novamente os preços da arroba para cima. Não sou tão otimista assim. Mas isso é prosa para outro texto. Virgem Maria, só hoje já deixei dois assuntos pendentes para outros textos! Isso é que é vontade de escrever hein? Não me leve a mal, caro leitor. É que voltei inspirado das férias. É nítido quando vemos o Brasil de fora para dentro o quanto a gente está crescendo, mas ficamos na impressão que talvez estejamos crescendo rápido demais e há risco da inflação voltar. Fica para outro dia falar mais sobre isso. Ah, não! Três textos?!
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