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Scot Consultoria

Mesmice no mercado físico, otimismo no mercado futuro


Segunda-feira, 8 de março de 2010 - 13h11

Administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.


O que dizer? Ótimas estradas na Argentina, Chile e Paraguai, intermináveis e indecentes curvas, povo caloroso (o argentino mais que o chileno), hotéis baratos e boa comida. Ventos implacáveis na cordilheira dos Andes. Temperatura muito baixa, bem próxima a zero grau na travessia das montanhas. Altitude de 4.800 metros acima do nível do mar no ponto mais alto da estrada, quase 1.000 metros acima desde que tirei essa foto ao lado. Ô lugarzinho inóspito! Percorremos uns 1.300 km dentro do deserto. Lá não há praticamente nada, além da mineração de cobre e lítio. Graças a Deus não tivemos nenhum problema. Quero dizer, fora o susto do terremoto em Mendoza, a viagem foi ótima. Vamos ao mercado. Desde que deixamos a arroba do boi gordo em fevereiro ela praticamente não subiu no mercado físico, mas subiu forte no mercado futuro. Qual a razão desse comportamento tão distinto? Aqui vai a minha opinião. Os caras estão com escalas curtas? Sim, mas mesmo com escalas curtas, aos poucos, com dificuldade, mas sem demonstrar irritação, estão conseguindo preencher suas necessidades de animais. Compram um lotezinho aqui, um picadinho ali, e vão tocando um dia após o outro. Não há movimento intenso de demanda no elo após os frigoríficos (consumo) para justificar uma maior posição comprada nas câmaras frias do que o feijão-com-arroz que está até agora. Ou seja, é o batido “tá ruim, mas tá bom”. O pecuarista (seu editor, inclusive), do outro lado, pensa que está fazendo bonito segurando o boi. Até agora não está adiantando muito. Quero dizer, aqui no MS a arroba saiu de 70 reais para 72 reais à vista, mas francamente, o que são R$2,00 a mais numa situação dessas? O que o mercado futuro está precificando a meu ver é que esse estado de irritação do pecuarista com esses preços atuais irá recrudescer. Irá piorar a oferta, em outras palavras. Ou seja, o boi gordo existe, mas para tirar ele da fazenda o frigorífico terá que pagar mais, bem mais do que está pagando atualmente. E o principal motivo dessa queda-de-braço são os preços de reposição que voltaram a subir. Isso é o que penso vendo a diferença entre a oscilação desses dois mercados. O mercado futuro está certo ao pensar assim? Estou interpretando corretamente os sinais do mercado? Não sei, caro leitor. É o tentaremos descobrir a seguir. Agora, independentemente de mercado, se a arroba vai subir ou cair só Deus sabe, mas convenhamos, já deu o que tinha que dar essa arroba na “casa dos 70”, não é mesmo? Cabe ainda o discurso de “ah, o mercado está ruim”? Que a economia está ruim e que o consumo está ruim? Não me parece que isso seja condizente com a realidade que a gente vê nos jornais. Até a Petrobrás está tendo que importar gasolina para dar conta do consumo interno. Vai tentar achar um ferro de passar roupas à vapor daqueles tradicionais da Black&Decker para você ver. Não tem nem na internet. Não tem nem no Paraguai. Mas não é a minha opinião que vai mudar os preços e nem adianta ficar com fé que vai subir. Vamos fazer o certo. Vamos olhar tecnicamente o gráfico da arroba. Ele sim nos informa com frieza e sem emoção o que está ocorrendo com os preços. Os gráficos acima são a mesma coisa, são gráficos do indicador da arroba. A diferença é que o da esquerda indica os últimos doze meses da variação dos preços e o da direita os últimos seis meses. Aqui vemos exatamente isso que falamos nos parágrafos anteriores. Ela, a arroba, começou a subir em dezembro-09 até por esses dias. Essa alta fez os preços subirem, grosso modo, de R$72,00 até R$78,00, uma expressiva alta, diga-se de passagem. Só que tudo que é bom dura pouco, de fato. Tem um detalhe aqui no gráfico que está me incomodando. A arroba subiu, maravilha, só que agora nesses últimos dias essa alta foi quebrada. Observe o gráfico da esquerda no ponto indicado pela seta e você verá a quebra da tendência de alta da arroba na última semana. No gráfico da direita temos uma figura conhecida que se formou, uma cunha de alta. Cunhas de alta normalmente são baixistas. Vemos aqui que a formação foi quebrada para baixo. Agora é esperar para ver se esse início de tendência de queda de fato se tornará uma baixa para a arroba. Se a arroba cair, o primeiro objetivo dos preços é R$76,00. Pode ser que não. Pode ser que a quebra da tendência de alta seja apenas um “ruído” de curtíssimo prazo nos preços. Pode ser. O mercado futuro mesmo está pensando o contrário disso, por sinal olhando para os dois últimos pregões com suas altas expressivas. Até porque quando a gente olha para um prazo mais longo na oscilação dos preços da arroba vemos uma formação interessante. Essa informação é muito importante e aqui estou adiantando um pouco do raciocínio que vou fazer na Carta de Longo-Prazo de abril. Observe o próximo gráfico. Esse é um gráfico de longo-prazo dos preços da arroba. A alta da arroba começou em 2006 e foi até 2008. A queda que começou em 2008, e se estende até os dias de hoje, jogou os preços no que o Dennis Gartman (Google: The Gartman Letter) chama de “A Caixa”, que é a janela entre 50% e 61,8% da proporção de Fibonacci na retração desde o início da alta. Isso quer dizer que a arroba já caiu entre 50% e 61,8% do que subiu entre 2006 e 2008, pegou? A “caixa” está marcada por esse retângulo vermelho ao lado. Meio confuso? O pessoal de mercado entende o que quero dizer, mas o que importa é o seguinte para nós. Se a arroba tinha que cair forte na crise, ela cumpriu seu objetivo com louvor caindo o que caiu até final de dezembro. Agora é hora de aliviar o outro lado da moeda, pois quem sofreu com a queda da arroba já está no seu limite. A arroba ainda não subiu. Ainda estamos trabalhando dentro dessa faixa baixa de preços, com um viés (e isso é a boa notícia) altista, pois os preços estão tentando sair da “caixa” ultimamente. Uma continuação da alta na arroba seria um alívio para a reposição. Em dezembro e janeiro o sentimento ainda era meio pessimista, você conseguia comprar boi magro, principalmente, com um pouco mais de facilidade. Mas de fevereiro para cá a coisa mudou. O boi magro está sumindo do mercado, ou quando tem, o recriador quer muito caro pelo animal. Essa foi uma mudança que notamos em nossas próprias reposições aqui no MS. Já no Tocantins ocorre o contrário. Há boa oferta de animais. Tanto que tem muita gente, ouvi dizer, que tem comprado bois no TO e enviado para cá, no MS e também para SP. Deixe-me mostrar o gráfico da reposição ao lado. Nós estamos aqui nessa faixa retangular ultimamente. Não é uma boa faixa, historicamente falando. Repito esse mesmo texto desde o final de 2008, mas a verdade é que a coisa continua a mesma. No passado esse patamar de reposição foi bom indicativo de alta para a arroba. Se a crise embaralhou essas cartas e não está mais validando essa premissa do boi, isso só a história poderá nos dizer. Não é o que sinto no dia-a-dia, pois realmente os preços da reposição estão machucando as margens dos invernistas. Então, estamos nesse pé. A arroba aparentemente fez um pico de curto-prazo e se recusa a subir com mais ímpeto. O mercado futuro acha que não, que há mais espaço para subir. No longo-prazo também há sinais que esse movimento de alta ainda não perdeu força, mesmo que agora ele perca ligeiramente o fôlego. No meio disso tudo temos as péssimas reposições do boi vs o bezerro que precisam ser corrigidas com a arroba subindo. Vamos ver como acabará essa história. Mas estou me iludindo, não é mesmo? Essa história nunca acaba! E vamos aprendendo aos poucos os mistérios desse mercado.
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