• Sábado, 27 de abril de 2024
  • Receba nossos relatórios diários e gratuitos
Scot Consultoria

Engordar fêmeas


Terça-feira, 2 de fevereiro de 2010 - 09h38

Administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.


O destaque da semana foi a valorização do dólar. Observe o gráfico e veja o que ele fez com a arroba em dólares ultimamente. Isso é uma boa notícia. O preço rompeu para baixo a resistência que vinha sendo respeitada desde maio-09. A queda da arroba em dólares facilita as exportações, dizem. Bom, dizem apenas parte da história. Apenas a parte que interessa. Agora, jogar para baixo as expectativas de demanda não é uma coisa que os produtores são famosos em fazer, certo? A China, por exemplo, abriu novamente o Brasil para a exportação de carne. A Rússia também aumentou. Aumentou, não, escancarou suas cotas à carne brasileira. Será que a China pensou no dólar para tal ação? Ops, a China tem uma taxa de câmbio fixa em relação ao dólar. Então não é o dólar. Será que, meu Deus, tem a ver com a demanda interna de carne? Será que é uma operação de importação indireta de água? Todos sabem que a China tem um déficit enorme de água, e a produção de carne é notoriamente uma grande consumidora desse recurso. E a Rússia? A Rússia anunciou que iria fomentar agressivamente a produção de carne nas suas fazendas. Isso é uma ótima notícia para nós. Se um governo diz que vai fazer uma coisa dessa magnitude pode-se esperar exatamente o contrário com resultado prático. Bingo! Eles abriram novamente os grilhões da importação de carne. Está vendo, caro leitor? É com certo humor que leio nos jornais quando dizem que o “dólar” melhorou as exportações, que o “dólar” atrapalhou as exportações. A moeda americana é importante, mas não é tudo. É só parar e pensar um pouquinho para entender que todos os países do mundo são afetados pela oscilação do dólar e a moeda americana age de forma bastante parecida para os países exportadores de commodities, como o Brasil. Aqui a competitividade é mais ligada à disponibilidade interna de produto e ao crédito disponível ao importador lá fora do que apenas ao “dólar”. Ah, mas a arroba brasileira é a mais cara do mundo! E daí? Vai comprar carne onde, então, se ninguém tem oferta no volume suficiente para empatar com a oferta brasileira? Se o cara precisa de 100 mil toneladas, ok, ele vai lá e compra 10 mil toneladas do Paraguai, umas 30 mil toneladas da Argentina, mas o resto, compadre, as 70 mil toneladas é o Brasil aqui, ó, quem fornece. Então, seria bom um aprofundamento nesta análise simplista do “dólar” como salvador/carrasco de tudo. Isso não é verdade. Agora outro assunto. Nesta semana um querido leitor de Presidente Prudente me mandou a seguinte indagação: “Se possível gostaria de uma ajuda sua na obtenção/análise de dados dos preços de fêmeas desmamadas e arroba da vaca. O objetivo é fazer uma analise da relação de troca no sistema de engorda de fêmeas, comprando bezerras de 160 a 180 Kg e abatendo com 330 a 340 Kg.” A questão é realmente boa. Daí, ao invés de enviar a resposta somente para ele, resolvi responder aqui, pois acredito que essa questão possa interessar a outros leitores também. Bom, em primeiro lugar não sou um especialista em fêmea. Não em engorda de fêmea, por assim dizer. Nem em cria também. O pouco que entendo é de engorda de boi, então tenha em mente que talvez a resposta não possa ser satisfatória. A fêmea compete com o boi no fornecimento de carne. A cada dez animais abatidos, nos últimos anos, três eram fêmeas. Quando sobe para quatro fêmeas abatidas em dez animais, a arroba do boi despenca. Quando cai para 2 em 10, a arroba do boi explode para cima. É o ciclo pecuário em ação que, em última instância, é a oscilação do abate de fêmeas a influenciar a precificação da arroba. Mas se a gente pegar uma lente de aumento e olhar somente para a engorda de fêmeas? De onde vêm esses animais? Normalmente elas vêm do descarte de matrizes que não estão mais produtivas por “n” motivos irrelevantes nesta análise, mas elas acabam indo ao abate de qualquer forma. A outra parte dessas fêmeas abatidas é uma operação de engorda tipo a do boi. O cidadão pega a bezerra desmamada e engorda ela até atingir o peso que o frigorífico já paga pela arroba de vaca. Daí encaminha esse animal para o frigorífico e sai atrás de mais bezerras para engordar. Já vi a velocidade fazer o papel de principal atrativo dessa operação. Dizem que a fêmea engorda nessa fase mais rápido que o boi, daí o giro ser maior. Não sei se isso procede. Talvez meus queridos leitores possam me esclarecer melhor isso. O fato é que de uns 15 anos para cá o negócio de engorda de fêmeas tomou um vulto enorme. No Tocantins, por exemplo, paradoxalmente, tem regiões atualmente em plena retenção de fêmeas e que os abates são, em sua grande maioria, vacas. Então tá. Como comparar a engorda de fêmeas com a de machos? Como o nosso querido leitor bem chamou a nossa atenção, com a taxa de reposição entre os dois produtos. O que vamos comparar aqui é a taxa entre vaca/bezerra e entre boi gordo/boi magro. Boi gordo com boi magro? Por que não boi gordo com bezerro? Porque enquanto engordo uma bezerra desmamada até 11@ em um ano, não consigo fazer o mesmo com um bezerro até 16,5@. Não, para isso tenho que partir com um boi magro de 12@ para atingir esse peso em um ano. Entendeu a conta, caro leitor? Uma bezerra vira uma novilhinha em 1 ano, mas um bezerro não vira um boi. Vira no máximo um garrotão. E garrotão o frigorífico não compra. Daí a gente precisa partir de um animal maior que nos dá o resultado em um ano. Na média, um boi magro de 12@ dá conta do recado. Bom, então agora nos falta colocar em um gráfico o comparativo entre os dois sistemas de engorda. O resultado está a seguir. Infelizmente a base de dados que tenho não é muito antiga para informações sobre fêmeas, mas uma olhada rápida no gráfico nos diz que, de fato, a reposição de vaca/bezerra tem sido melhor que a reposição entre boi gordo/boi magro algo ao redor de 2005 até recentemente. Mas calma lá. Quando a gente acha a porcentagem desse ágio entre a engorda da vaca sobre a do boi gordo, a realidade fica um pouco diferente. E informação realmente útil fica um pouco mais confusa. Vamos ao próximo gráfico. Nos últimos dez anos tivemos três situações distintas no ágio entre a vaca VS o boi. A relação era praticamente a mesma entre 2000 até 2003, alta entre 2004 até 2006 e novamente baixa de 2007 até hoje. Isso quer dizer que atualmente o boi, e não a vaca, está fortalecendo a sua taxa de reposição. Mas de qualquer forma existe, sim, um ágio a favor da engorda da vaca. Ela existe independentemente do estágio em que se encontra o ciclo pecuário, essa pequena base de dados no gráfico nos indica. Em média nesses últimos anos ele girou ao redor de 18%. Agora, inevitavelmente, confesso a você, acabamos com a seguinte pergunta: “Se é tão bom engordar fêmea, porque todo mundo não faz isso?” O que você acha? Gostaria de ouvir a sua opinião a respeito.
<< Notícia Anterior Próxima Notícia >>
Buscar

Newsletter diária

Receba nossos relatórios diários e gratuitos


Loja